A Universidade do Norte da Carolina em Chapel Hill, nos Estados Unidos, fez um teste: como se comportam os consumidores quando são confrontados com imagens de aviso sobre a quantidade de açúcar nos refrigerantes, semelhantes aos avisos que são colocados nos maços de tabaco? O objetivo era perceber se esta poderia ser uma estratégia eficaz para travar a obesidade nos Estados Unidos e provou-se que sim.

O estudo envolveu a participação de 326 pais de crianças entre os 2 e os 12 anos, que foram separados por grupos na ida a uma versão reduzida de um supermercado instalado na própria universidade: um foi confrontado com rótulos de bebidas que tinham imagens relativas aos malefícios do açúcar em refrigerantes, como danos cardíacos e diabetes de tipo 2; e o outro grupo encontrou rótulos de bebidas que tinham apenas um código de barras.

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Os resultados não deixaram dúvidas sobre o impacto das imagens: no grupo que viu os alertas nas embalagens apenas 28% dos pais levaram os refrigerantes para os filhos e no outro, chamado grupo de controlo, essa percentagem representou 45%. Feitas as contas, a presença das mensagens permitiu uma redução de 17% nas compras de bebidas açucaradas. 

E não foi por acaso que a experiência realizou-se num supermercado construído na universidade norte-americana. A ideia era recriar o ambiente confuso destes estabelecimentos, em que a atenção dos consumidores é desviada constantemente para preços, publicidade e uma enorme variedade de produtos.

"Mostrar que os avisos podem cortar o ruído de tudo o resto que está a acontecer numa loja de alimentos é uma prova poderosa de que ajudariam a reduzir as compras de bebidas açucaradas no mundo real", defende em comunicado Lindsey Smith Taillie Marissa G. Hall, investigadora no Departamento de Nutrição da Escola Gillings e membro do Centro de População da Carolina (CPC) da Universidade da Carolina do Norte (UNC).

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Em suma, "tendo em conta pesquisas anteriores, este estudo sugere que uma política que exigisse a colocação de avisos com imagens em bebidas açucaradas poderia reduzir a compra de refrigerantes", pode ler-se na conclusão da investigação publicada na revista científica "PLOS Medicine".

A ideia da investigação era perceber como é que uma medida semelhante à do tabaco poderia reduzir os níveis de obesidade nos Estados Unidos — que afeta 18% das crianças e outras 6% sofrem de obesidade extrema —, mas poderá ser útil a implementação em Portugal, onde 29,6% das crianças entre os 6 e os 8 anos tem excesso de peso e 12% é obesa, segundo dados de 2019 do European Childhood Obesity Surveillance Initiative.

O açúcar não é um problema exclusivo dos refrigerantes, dado que elevadas taxas foram encontradas em alimentos como papas infantis, refeições “de colher” e bolachas para crianças dos 6 aos 36 meses, conforme foi apurado num estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) divulgado em dezembro.