Corria o ano de 2004 quando a comédia “Giras e Terríveis” estreou. O filme, protagonizado por Lindsay Lohan e Rachel McAdams, parecia, à primeira vista, ser apenas mais um blockbuster de verão dirigido ao público juvenil — afinal, o argumento centrava-se num liceu e na chegada de uma nova aluna ao ambiente, por vezes cruel, do ensino secundário.

No entanto, para além de se ter tornado num filme referência para as vítimas de bullying, a comédia também abordou outro tema importante: a necessidade de muitos pais quererem ser os melhores amigos dos filhos, de forma a ficarem mais próximos. Numa cena de “Giras e Terríveis”, a personagem de Mrs.George (interpretada por Amy Poehler), mãe da vilã Regina, cai no ridículo ao usar calão, fatos de treino iguais aos das adolescentes e ainda oferecer álcool às menores numa tentativa destas a acharem a mãe mais porreira e jovem de sempre.

Esta é uma dúvida que assombra muitos pais: será a relação com os filhos melhor se adultos e jovens forem os melhores amigos ou deverão os pais assumir-se como educadores e figuras de autoridade, estabelecendo barreiras bem definidas?

Segundo Beatriz Matoso, psicóloga clínica e psicoterapeuta, o papel fundamental dos pais é o de protetores. “Os pais devem procurar compreender os filhos, ajudando-os no seu processo de autonomia e realização pessoal, de acordo com a fase da vida em que se encontram, oferecendo-se como um possível modelo de identificação”, conta à MAGG.

Os filhos não têm de contar tudo aos pais — e não há mal nenhum nisso

De acordo com a especialista, existem várias razões que podem levar os pais a quererem que os filhos os identifiquem como amigos. “A confirmação do desejo que têm de ser bons pais é um dos motivos, mas também é possível que os pais queiram conhecer mais detalhes da vida dos filhos, na perspetiva de melhor os poderem acompanhar ou mais facilmente os controlar.”

Tal como explica a psicóloga, apesar de uma aproximação entre pais e filhos ser essencial, de forma a que estes se conheçam e se compreendam mutuamente, bem como também útil para quebrar barreiras de comunicação, há que entender que as crianças e jovens também têm de ter outros amigos, sendo estes figuras de confiança com quem se possam identificar e partilhar sentimentos e informações — e os pais têm de aceitar que outros jovens, pares dos seus filhos, possam ser os melhores amigos destes.

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Todo o ser humano tem direito a fazer as suas escolhas, ainda que posteriormente possa vir a reconhecer que não foram as melhores”, conta Beatriz Matoso, que acrescenta que é natural que os filhos não contem tudo aos pais e “procurem entre os amigos da sua faixa etária, alguém que os compreenda e aceite com as suas qualidades e dificuldades”.

Hoje em dia, as relações entre pais e filhos são mais descontraídas e muitas barreiras caíram por terra. Afinal, de acordo com a psicoterapeuta, mesmo para desempenhar o seu papel fundamental de educadores, os pais precisam de ter uma boa relação com os seus filhos.

No entanto, é preciso saber que "não há pais perfeitos, assim como não há filhos perfeitos. Os pais devem colocar-se no seu papel de pais e educadores para poderem proteger e orientar os filhos no seu processo de crescimento. Na medida em que há uma diferença de gerações e experiências de vida em contextos socioculturais, com características distintas, é natural que pais e filhos tenham pontos de vista diferentes”, explica Beatriz Matoso.

A especialista acrescenta que o confronto entre modos diferentes de pensar pode ser enriquecedor. Porém, é possível que também possa originar conflitos, principalmente “quando não há suficiente flexibilidade e respeito pelo pensar do interlocutor. Para os evitar, é natural que os filhos não contem tudo aos pais e procurem entre os amigos, como colegas de escola por exemplo, esse apoio fundamental”.

*texto originalmente publicado em 2018 e atualizado a 12 de novembro de 2022.

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