A história de Marta Teixeira é igual à de muitos profissionais de saúde, que partiram de Portugal em busca de novas oportunidades de carreira. Licenciada em enfermagem na Universidade de Aveiro, queria especializar-se em anestesia mas, perante o mercado português, mudou-se para o Reino Unido, onde trabalha atualmente. "Ao mesmo tempo, estava a passar por uma transição capilar, devido a um procedimento que não foi bem feito no meu cabelo. Eu tinha feito muita coisa, desde alisamento, descolorações", conta à MAGG.

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Fazer uma transição capilar, como Marta explica, significa deixar crescer o cabelo, cortando a parte mais danificada, até os fios terem a sua aparência natural. Foi assim que a enfermeira assumiu os seus caracóis. "A partir daí comecei a ter várias mulheres a abordarem-me na rua, tanto aqui em Inglaterra como em Portugal, a perguntar 'o que fazes ao teu cabelo'?". A enfermeira viu uma oportunidade não só de aprender mas também de ensinar. E foi assim que nasceu, em 2019, a Miss Curly Tips, a conta de Instagram onde fala sobre cabelos encaracolados e ondulados, não só do ponto de vista estético mas recorrendo à ciência. "Reparei que, nesta área, não há grande evidência científica. Dizem-se coisas na internet, mas não se sabe o porquê nem de onde vem essa informação", explica.

Daí a descobrir a tricologia foi um passo. "Tricologia é a ciência que estuda o cabelo e o couro cabeludo. Também pode ser uma especialidade de dermatologia, que vários médicos têm em Portugal". Marta tirou essa pós-graduação, que está no processo de se tornar uma profissão. Depois, seguiu-se o mestrado em dermatologia clínica, o que faz de Marta enfermeira tricologista que prescreve medicação, além de ser especialista em dermatologia, caso único no Reino Unido. "Não existe mais ninguém que faça o que eu faço, o que fez com que as portas também se abrissem". Marta faz também revisão de cursos de cabeleireiro e tem a sua clínica.

Pioneira em Portugal na divulgação nas redes sociais sobre técnicas de cuidado de cabelos encaracolados ou ondulados, conjunto de técnicas e passos para restaurar, tratar e manter cabelos ondulados e encaracolados, Marta Teixeira diz que, nos últimos quatro anos, houve uma evolução no mercado, sobretudo na oferta de produtos específicos para este tipo de cabelo. "Penso que começa a existir uma era em que queremos assumir mais quem nós somos. Eu digo sempre que é muito mais do que cabelo. Para mim, pelo menos, foi uma luta começar a gostar do meu cabelo. É a primeira coisa que vemos quando nos olhamos ao espelho, e vai afetar a nossa auto-estima, a nossa confiança. Então é essa a mensagem que eu gosto de passar", explica.

A especialista em tricologia salienta que, apesar de já haver uma mudança de mentalidade, os cabelos ondulados e encaracolados ainda não são vistos da mesma forma do que os lisos. "Principalmente em grandes empresas, onde mulheres atingem cargos de responsabilidade, cabelo liso é sempre associado a mais autoridade, a mais elegância. Talvez aí os alisamentos sejam prioridade. Mas começamos a ver uma mudança, devagarinho".

Marta conta que tem observado que os profissionais da área de cabeleireiro também têm mudado a sua perspectiva sobre os cabelos ondulados e encaracolados. "Uma coisa que fizeram aqui [Reino Unido], desde 2021, nos cursos de cabeleireiro, é que é obrigatório saber cortar e fazer styling de cabelos ondulados, encaracolados e afro, este último ainda mais difícil de ser cuidado". A enfermeira explica que este tipo de especificidade não é obrigatória em Portugal, mas que há profissionais que tiram cursos especializados neste tipo de cabelo e também pessoas que não são cabeleireiras mas com formação nesta área.

À MAGG, Miss Curly Tips dá dicas úteis para tratar com amor o cabelo ondulado e encaracolado, sobretudo para quem está farto de secadores, escovas, alisamentos e quer ter uma juba mais saudável e natural.

Quero assumir o meu cabelo natural. O que devo fazer?

Antes de tudo, Marta Teixeira alerta para os danos que o uso frequente de ferros de alisamento podem provocar no cabelo. "Não há mal nenhum em alisar de vez em quando, mas temos que escolher as nossas batalhas. Vai causar danos e, com o tempo, vai alargar o caracol", mesmo que se usem produtos de proteção de calor.

Para começar do zero, a especialista recomenda estes passos:

  • comprar um creme finalizador. Disponíveis nas grandes superfícies comerciais e lojas da especialidade. "É um creme que não necessita de enxaguamento. Existem mil e um tipos, é a pergunta que mais me fazem e o que eu digo sempre é 'vocês têm de experimentar'";
  • começar a fazer diferentes técnicas. "Pode ser simplesmente espalhar o creme pelo cabelo e amassar";
  • testar diferentes produtos: consoante a curvatura do cabelo, explica a enfermeira, há diferentes necessidades de produto. "Sugiro que, para alguém que está a começar do zero e não sabe nada, vá ao supermercado, compre um produto e teste com as diferentes finalizações. Se é um produto muito aguado, se calhar adicionamos um gel ou experimentamos um produto mais espesso, com mais poder de finalização";
  • comprar um difusor: acessório para o secador, redondo, com pequenos bicos e buracos, que geralmente já vem incluído nos aparelhos.

Marta Teixeira reconhece que seguir estes passos possa parecer, à primeira vista, "mais complicado" do que os habituais alisamentos à escova ou com químicos. "Eu já passei por isso, é mais fácil alisar e não pensamos mais nisso. Mas não tem que ser assim. Dá mais trabalho na finalização, mas se a conseguirmos alargar para dois, três dias, são dias em que não precisamos de tocar no cabelo", explica.

Qual é a diferença entre condicionador e máscara?

A especialista em tricologia desfaz o mito. "Tecnicamente, é a mesma coisa (risos)! São produtos condicionadores, nos quais se incluem máscaras, amaciadores e produtos leave in. Todos têm o mesmo propósito, que é depositar ingredientes no cabelo que o lubrifiquem e o tornem mais fácil de desembaraçar", especifica Marta Teixeira, acrescentando ainda que as máscaras podem ter componentes em maior quantidade ou serem mais espessas, mas o objetivo é similar ao de um condicionar.

Quanto aos cremes leave in, ou produtos finalizadores, a especialista salienta que estes, por não precisarem de enxaguamento, não têm produtos passíveis de provocar eventuais problemas dermatológicos caso não sejam retirados com água.

Como é que aplico o produto de finalização? É preciso encharcar?

Nas redes sociais, há várias influenciadoras digitais, especializadas em técnicas de styling de cabelos encaracolados que, invariavelmente, usam a mesma técnica. Depois de lavarem o cabelo, usam um difusor com água para voltar a molhar os fios e só depois começam a aplicar os produtos.

Marta Teixeira salienta que esta técnica não é 100% infalível. "Depende do tempo, da humidade. O nosso cabelo funciona como um micrómetro, ou seja, vai absorver a humidade do ambiente circundante. Se eu estiver no Algarve, de férias, onde saio do banho, o meu cabelo seca super rápido e vou finalizar com o produto, muito possivelmente os meus caracóis vão ficar com excesso de produto e os caracóis com aspecto mais fininho, mas oleoso, e o resultado não vai ser assim tão bom. Se for aqui em Inglaterra, onde há mais humidade, o efeito vai ser completamente diferente", explica.

A especialista explica que a finalização com a combinação de água e produto resulta em "caracóis mais rechonchudos", mas que isto depende sempre das condições meteorológicas, sobretudo da humidade do local onde nos encontramos. "Por isso é que bato muito na tecla do 'vocês têm de experimentar'".

Pentear o cabelo seco ou molhado?

Escovas curvas, escovas achatadas, escovas com cabos específicos para encaracolar os fios... a panóplia de acessórios para pentear cabelos com curvatura que vemos nas redes sociais é tanta que qualquer pessoa menos experiente entra em pânico perante a situação. Uma coisa é certa. Os cabelos ondulados e encaracolados devem pentear-se quando molhados e não em seco.

Marta Teixeira recorre à ciência para explicar o que se deve fazer. "Se estamos a falar de um cabelo liso, o que a evidência nos diz é que há menos danos, menos quebra, se for penteado em seco. Porque o cabelo, se está molhado, vai perder certas ligações entre ele. Por isso é que perdemos a curvatura e ele fica liso. Tecnicamente, o cabelo molhado é mais frágil. Mas um cabelo com curvatura tem textura, o que torna mais fácil o dano quando penteado em seco. Neste tipo de cabelo é melhor ser desembaraçado em molhado. Mas não pode ser só molhado, sem mais nada. Se colocarmos um produto amaciador para lubrificar o cabelo, leva a menos danos do que fazê-lo sem nada. Cabelos com textura devem ser desembaraçados em molhado, sim, mas com produto", explica a enfermeira.

E com que escova? Ou só com os dedos?

A Miss Curly Tips, que é conhecida por divulgar produtos económicos e acessíveis a todas as bolsas, salienta um aspecto importante. "Eu gosto de mostrar que ter um cabelo bonito não significa gastar centenas de euros. Por isso é que eu digo para irem ao supermercado. Antes, estes não tinham nada, agora há imensos produtos para cabelo encaracolado. Isto é a base".

Quanto aos utensílios, a enfermeira diz que é perfeitamente aceitável usar as escovas que já há em casa. "Se não têm nada, se querem ser o mais gentis possível com o cabelo ao desembaraçar, podem usar os dedos ou então um pente de dentes largos. O principal a ter em atenção é ter muito cuidado quando desembaraçam o cabelo em molhado. A melhor técnica é pegar no cabelo e desembaraçar de baixo para cima. Se começarmos de cima para baixo, vamos fazer mais força para tirar os nós todos e vai haver mais quebra", explica Marta.

Como é que se usa o difusor?

Está na altura de aquele pedaço de plástico redondo e com saliências, que está dentro de um armário algures a ganhar pó, ver a luz do dia. O difusor é um aliado precioso para a secagem dos cabelos encaracolados e ondulados, sobretudo quando não se quer ou não se tem tempo para deixar secar ao natural, ou se pretende maior definição.

Marta Teixeira explica que, para alguém que se está a iniciar nestas técnicas, o uso do difusor no verão é dispensável. "Ao usar os cremes, o cabelo demora mais tempo a secar, principalmente no inverno. A minha sugestão é escolher um difusor. Não têm de gastar 100 e tal euros porque o mais importante é a forma como se usa. Temos de experimentar e ver como resulta no nosso cabelo", salienta, deixando as duas regras de ouro para o processo de secagem:

  • temperatura média
  • velocidade média

"Se estiverem com pressa, é preferível subir a temperatura do que a velocidade, para evitar o efeito frizz. Depois é colocar a cabeça para baixo, ou de lado, e levar o difusor até à raiz", explica Marta Teixeira, acrescentando que se deve manter, em média, o difusor cerca de 15 segundos em cada secção, passando depois para a seguinte. Quanto mais lisa for a raiz, explica Miss Curly Tips, mais tempo se deve manter o difusor nessa zona, para encorajar a formação do caracol.

Tenho o cabelo encaracolado. Onde devo cortar?

Existem em Portugal vários salões e profissionais especializados em cortar cabelos ondulados e encaracolados (Eva's Hair, em Lisboa, Juciara Lucena, na Amadora, The Curlies, em Braga e no Porto, Instituto Cachear, no Porto, Curly Studio, em Olhão).

Marta Teixeira prefere não destacar nenhum profissional porque o efeito do corte a seco (habitualmente usado nos cabelos ondulados) não é garantia total de um bom resultado. "Há muitas mulheres que não concordam. Neste momento o corte em seco está muito em voga em Portugal, mas há vários cabeleireiros que não têm esta especialidade e que fazem um ótimo trabalho em cabelos com curvatura", salienta a enfermeira.