“Um pouco diferente de tudo e um pouco de todos os conceitos misturados”, é como André Borralho, um dos três sócios envolvidos, descreve o NUNCA, aberto desde o início do mês. Com uma carta recheada de pratos tipicamente portugueses e um espaço acolhedor com música ambiente, o NUNCA é o restaurante ideal para almoçar, petiscar, ou simplesmente parar para beber um cocktail (que, avançamos já, são deliciosos).

Lisboa vê nascer, assim, um espaço que promete ser um flamingo rosa na cidade. E isto é literal, porque dentro do NUNCA existe mesmo um flamingo a sair do teto, como se estivesse a pisar o chão do restaurante e a tomar conta dos seus clientes. Aqui, o preferível é arriscar e, mesmo estando aberto há menos de uma semana, já existem quatro promessas: qualidade gastronómica, mixologia criativa, música e arte. 

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Da fusão de conceitos e ideias NUNCA antes vistas (como André Borralho teve o prazer de mencionar) de três amigos, nasceu algo que promete fazer jus ao conceito de “restaurante”. Além de André, de 32 anos, empresário do ramo da restauração, também André Almeida, ex-jogador e capitão do Sport Lisboa e Benfica, de 33 anos, e João Mateus, empresário no ramo do marketing e comunicação, de 31 anos, fazem parte da sociedade, e juntos aventuraram-se neste projeto.

“O João era o amigo em comum entre mim e o André [Almeida], e um dia surgiu a ideia de nos juntarmos e fazer algo diferenciador em Lisboa. Quisemos juntar o requinte nos pequenos detalhes, como ter alguém a abrir a porta, ao bom ambiente da música ao vivo, mas sem tornar o restaurante numa discoteca”, disse André Borralho, em conversa com a MAGG. O empresário, que já fez parte de vários restaurantes, entre eles o TascaFit, no Saldanha, admitiu que foi difícil chegar a um consenso, porque todos tinham ideias diferentes, mas que concordavam que queriam fazer algo diferenciador. “Concordávamos no ponto em que queríamos fazer algo nunca antes visto, e daí surgiu o nome”, disse.

Também o conceito do espaço foi pensado para ser diferenciador. O flamingo, por exemplo, feito pelo artista plástico Bruno Melo, da Gate 7, foi pensado para as pessoas ficarem intrigadas com a peça num primeiro momento. “À primeira vista não faz sentido, um flamingo no meio de um restaurante cheio de requinte e lâmpadas douradas e cadeiras almofadadas, mas queríamos muito trazer essa vibe. Quisemos trazer uma personagem principal e acabou por ser o flamingo”.

E não, o flamingo não está apenas parado no meio do teto da sala. Está também nos quadros espalhados pelo NUNCA e perto do espelho da casa de banho. É, sem dúvida, o dono do restaurante, e um elemento chave que une todas as divisões. 

Além disso, o espaço está adornado com materiais nobres, como o mármore, o veludo e papéis de parede com textura, o que faz contraste com o animal, tornando este espaço em algo NUNCA antes visto (claro que o trocadilho tinha de ser feito). Carolina Portugal foi a arquiteta do projeto, em conjunto com a irmã, Catarina Portugal, que foi a decoradora, e ambas pensaram naquilo que poderia resultar neste espaço, transformando-o naquilo que é hoje (e o flamingo também foi ideia delas).

Apesar de ser pequeno, tendo capacidade para 50 lugares na sala (6 ao balcão) e 10 na esplanada, este detalhe é o que o torna bastante acolhedor, mesmo como os sócios queriam. “A nossa ideia é que fosse uma espécie de open space, um espaço pequeno, cozy, que transmitisse quase um food sharing entre pessoas desconhecidas, porque estamos aqui sentados mas estamos a ver o que o outro está a comer e acabamos por ficar com vontade de experimentar o mesmo”, disse André Borralho. Contudo, mesmo por ser pequeno, o empresário aconselha a quem quiser visitar para reservar primeiro uma mesa.

Posto isto, o conceito do restaurante é simples: ter uma refeição tipicamente portuguesa com um ambiente diferente do normal. “Queremos pratos cheios, pessoas a sair daqui satisfeitas e com os sabores dos nossos avós e dos nossos pais, relaxados e divertidos com a música ambiente que estava a tocar, satisfeitos com os nossos cocktails de renome”, disse o empresário. O cliente que o restaurante pede é, sem surpresas, o típico português. É aquele que quer comer bem, tanto faz que seja um cachorro ou umas bochechas de vitela acompanhado por um cocktail, desde que saia com vontade de voltar a entrar.

A MAGG não perdeu tempo em ir experimentar os pratos e a verdade é que saímos de lá como se tivéssemos acabado de sair de casa da avó. O menu é, realmente, à base da gastronomia típica portuguesa, com arroz de lingueirão e leitão, mas com twists inesperados.

Duarte Peão, de 32 anos, é quem comanda a cozinha do NUNCA. “Isto foi um projeto criado para o conforto e para a inovação, mas sempre com a nossa comida caseira. O que nós queremos mesmo é preservar a tradição, usamos produtos portugueses para isso, e quisemos muito trazer o norte e o sul do País para Lisboa. Por isso é que temos o arroz de lingueirão, que é mais do Algarve, o pica pau de leitão, que é reinventar um pouco da Bairrada, a bochecha, que é mais minhota, e por aí fora”, disse Duarte, que não gosta de ser chamado de chef porque, nas palavras dele, “a nossa avó só cozinha porque gosta de cozinhar” e “não é chef nenhuma”.

E sim, a MAGG experimentou os três, mas antes vieram as entradas. O típico couvert com pão massa mãe, azeitonas marinadas, azeite e manteiga dos Açores (2,95€) veio com um twist: além da manteiga dita normal, veio também manteiga de trufa, o que acrescentou logo um ponto positivo à refeição. Para acompanhar, foram propostos três cocktails: o aphrodisiakós (15€), com captain morgan white, romã, espinafre, galanga, lima e hibisco; o ave do paraíso (15€), que não tem álcool e é composto por Tanqueray 0.0%, martini vibrante, marmelo, abacaxi e lima, e o sunset stars (15€), com tanqueray, giffard fruit de la passion, bergamota e framboesa.

De seguida, como Duarte Peão descreveu, “este restaurante é de partilha entre as pessoas”, e por isso vieram os pratos para celebrar. Primeiro, a canja de santola (9,80€), com pevide, gema de ovo confitada, coentros, óleo de hortelã e tosta de alecrim. O segundo prato foi uma das estrelas da noite. Os croquetes de lagosta (13,50€, três unidades) tinham tanto recheio como qualquer congénere de carne, mas a explosão de sabores do crustáceo foi avassaladora.

O cachorrinho (um cachorro já adulto, na verdade) de lavagante (23€) foi o prato seguinte, e é um daqueles típicos para comer ao balcão com um cocktail a acompanhar. Por fim, o pica pau de leitão (21€) com barriga de leitão, o respetivo molho e batatas veio acompanhado com gomas de laranja. 

Depois, os pratos principais. O primeiro foi logo o nosso favorito: arroz de lingueirão (25€ para uma pessoa, 45€ para duas), com arroz carolino, coentros e berbigão. Aquela sensação de que algo sabe mesmo a mar? Era mesmo isso que estava no tacho. De seguida, provámos as bochechas de vitela (24€), com cogumelos, batata gratin e legumes grelhados. Apesar de as batatas não terem sido as nossas favoritas, a carne compensou pelo prato todo, de tão tenrinha que estava (desfazia-se mesmo na boca).

Para sobremesa, experimentámos a pavlova de maracujá (7€), com mascarpone e frutos vermelhos, e o creme inglês de coco (6€), com goiabada e crumble de amendoim. O gosto pessoal levou-nos a escolher a pavlova como a sobremesa ideal, mas quem provou o creme inglês disse que era realmente muito bom.

Foi uma refeição que prevaleceu a tradição e a inovação. A canja de santola ou o pica pau de leitão são reinvenções, mas que não perdem a sua essência principal. “Nunca vimos muita inovação e muita tradição ao mesmo tempo. Podemos ver muito de qualquer um em qualquer restaurante, mas não conseguimos ver os dois com a mesma medida aqui no centro de Lisboa”, explicou ainda Duarte Peão.

O cozinheiro quis, assim, não romper com aquilo que é o típico português que, de acordo com a sua opinião, está a acabar. “Os tascos estão a fechar, já não há muita gente a fazer esta comida. É difícil encontrar jovens a fazer isto e os velhinhos estão a começar a ficar cansados, e muita malta da cozinha que chega de fora do País não faz isto, não temos gente nova a fazer esta comida, então a minha linha é muito essa”, explicou. Para Duarte, os pratos estrela da casa são o arroz de lingueirão, as bochechas de vitela e o pica pau de leitão, para o cliente ter a certeza de que fica com a experiência completa.

No entanto, além destas opções no menu, e apesar de estar em soft opening, o NUNCA já tem várias ideias a serem desenvolvidas. Uma delas será o Domingo em Família, onde terão pratos diferentes todos os domingos, mas sempre tipicamente portugueses como, por exemplo, o cozido à portuguesa. “Queremos fazer com que as pessoas venham ao sábado à noite jantar com os amigos, mas no domingo de manhã almoçar com a família”, explicou André Borralho. 

Também dois menus executivos vão ser lançados, de segunda a sexta-feira. O primeiro terá um custo de 17,50€, e será composto por couvert, prato principal, e bebida (água, limonada ou chá frio). O segundo terá um custo de 22,50€, e terá os mesmos elementos, com direito a uma sobremesa e a uma cerveja. Além disso, o NUNCA também quer promover a arte, e por isso terá todas as quintas, sextas e sábados música ao vivo, com violonistas, saxofonistas e cantores a alegrar os consumidores.

Restaurante NUNCA

Localização: R. Visc. de Santarém 69B, 1000-005 Lisboa
Horário: de domingo a quarta-feira das 12h às 16h e das 19h às 00h e de quinta-feira a sábado das 12h às 16h e das 19h à 01h30
Contacto: 919 002 848 | nunca.reservas@gmail.com

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Fotos: Rita Almeida / MAGG