Passavam poucos minutos das seis da manhã quando Jennifer Syme perdeu o controlo de um Jeep Cherokee de 1999 na Cahuenga Boulevard, uma das principais avenidas do norte de Los Angeles, na Califórnia. Depois de embater em três carros estacionados, Jennifer capotou várias vezes até ser atirada para fora do veículo. De acordo com as autoridades, teve morte imediata. O óbito foi declarado às 6h20.

Estávamos a 2 de abril de 2001. No dia anterior, Jennifer tinha tomado um brunch com Keanu Reeves no Crepes On Cole, em São Francisco. Estavam separados há mais de um ano — a relação não aguentou a perda de Ava, a primeira filha do casal, que nasceu morta aos 8 meses de gestação, em dezembro de 1999. A dor levou o casal a separar-se, mas continuaram amigos.

Naquele momento, nenhum deles era capaz de saber que aquela seria a última vez que estariam juntos. Mais grave do que isso, nenhum deles poderia sequer estar perto de adivinhar que Jennifer iria ser enterrada em breve ao lado da filha, Ava.

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Tudo mudaria naquela trágica madrugada — para Jennifer, que perderia a vida, e para Keanu Reeves, que levaria 20 anos até conseguir voltar a aparecer apaixonado em público. Aconteceu este sábado, 2 de novembro, em Los Angeles, quando o ator se apresentou na gala LACMA Art + Film By Gucci, em Los Angeles, com Alexandra Grant.

Da tragédia da perda à ideia de que nunca mais conseguiria ser feliz com outra mulher, Keanu Reeves parece estar finalmente pronto para seguir em frente. Houve alturas em que os próprios amigos duvidaram que isso viesse algum dia a acontecer. "Às vezes parece que ele não confia nele próprio para ter uma relação com outra pessoa", contou um amigo à revista "People" em 2001.

Keanu Reeves redescobriu o amor ao lado da artista plástica Alexandra Grant

Como tudo começou entre Keanu e Jennifer

Em 1991, Keanu Reeves e Robert Mailhouse começaram uma banda de grunge e rock alternativo chamada Dogstar. Depois de alguns anos de sucesso relativo, em 1995 fizeram a abertura para os Bon Jovi na Austrália e na Nova Zelândia, e em 1996 actuaram na Bélgica. Em 1999 tocaram no Glastonbury Festival, no Reino Unido, e lançaram o segundo disco, "Happy Ending".

Um ano antes, em 1998, decidiram organizar uma festa em homenagem à banda. Nessa noite, Keanu Reeves conheceu Jennifer Syme, que tinha entrado no mundo do cinema há apenas um ano como assistente de produção. Pouco se sabe sobre o que aconteceu naquela noite, mas a verdade é que nunca mais se largaram. Apesar de Reeves ter sempre tentado manter a sua vida privada longe do público, rapidamente começaram a ser fotografados juntos.

Jennifer Syme morreu aos 28 anos

Nunca chegaram a casar, nem sequer a viver juntos. No entanto, apaixonaram-se perdidamente — Reeves comprou uma casa para Syme, com o intuito de a proteger dos paparazzi, e um ano depois descobriram que estavam à espera do primeiro filho.

No entanto, a criança morreu antes de nascer. Aos 8 meses, Jennifer deu à luz um nado-morto. Semanas depois, o casal separou-se. Não aguentaram a dor da perda da filha, Ava, que enterraram no Westwood Village Memorial Park Cemetery, em Los Angeles.

A manhã da tragédia: da festa de Marilyn Manson ao "pó branco" encontrado no carro

Horas antes, Jennifer Syme tinha estado numa festa organizada por Charles Manson. A mulher de Keanu Reeves era assistente do cineasta David Lynch que, em 1996, estava a rodar "Lost Highway: Estrada Perdida".

"Na altura, toda a gente achou que ela era uma groupie", recordou Manson no seu livro de memórias "The Long Hard Road Out of Hell", publicado em 1999. "Mas o que ela dizia não só era verdade, como resultou numa oferta para colaborar com ele [David Lynch] na banda sonora do seu novo filme, 'Lost Highway: Estrada Perdida', bem como a aparecer no filme".

Marilyn Manson participou no filme, bem como ficou amigo de Jennifer. Por isso mesmo, fazia sentido que o cantor a convidasse para estar presente naquela festa a 1 de abril de 2001. Mas o que é que aconteceu naquela noite para terminar em tragédia? Essa dúvida consumiu a mãe de Jennifer Syme, que decidiu levar Manson a tribunal — sobretudo quando a autópsia revelou a presença de cocaína no organismo da jovem de 28 anos.

Mary St. John processou Marilyn Manson por homicídio doloso, alegando que o músico deu drogas à filha nessa noite e deixou-a sair de casa ao volante do seu próprio carro. Na opinião da mãe de Jennifer, o artista foi negligente ao "instruir a sua filha a conduzir um veículo mesmo estando sem condições para fazê-lo".

Manson negou todas as acusações. Até porque, disse, mandou um motorista levá-la a casa, consciente de que Jennifer estava embriagada. "Ela acabou atrás do volante do próprio carro por razões conhecidas apenas por ela", disse mais tarde em comunicado.

O processo acabou por ser resolvido fora dos tribunais. No entanto, Manson nunca deixou de garantir a todos os que o quisessem ouvir que não teve nada que ver com as drogas que Jennifer consumiu naquela noite. "Palavras não podem expressar a dor que sinto pela perda da vida de Jennifer Syme", disse no único comunicado onde falou publicamente sobre o assunto.

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Segundo os relatórios da polícia, as autoridades encontraram no carro dois frascos de medicamentos com receita médica no carro, bem como um relaxante muscular e um antiepilético. A mãe de Jennifer explicou que a filha sofria de depressão, e que se teria queixado alguns dias antes de dor nas costas.

Também foram encontradas duas notas de um dólar enroladas num "pó branco". De facto, a autópsia viria a revelar que Jennifer estava altamente embriagada e tinha drogas no organismo.

Em maio deste ano, Keanu Reeves, que sempre evitou falar publicamente sobre o assunto, deu uma entrevista ao jornal britânico "The Guardian", a propósito do filme "John Wick 3 — Implacável", e disse: "O luto e a perda são coisas que nunca chegam a partir. Ficam contigo".