Tínhamos 374 quilómetros pela frente e uma missão: almoçar no 2002, o restaurante visitado por Ljubomir Stanisic no “Pesadelo na Cozinha” deste domingo, 21 de outubro. Depois de cerca de quatro horas de caminho, chegámos finalmente a Mangualde, no distrito de Viseu, e não foi difícil encontrar o restaurante, situado mesmo junto à praça central e muito perto da câmara municipal.

Ainda antes de entrarmos, a fachada do 2002 já fazia antever algumas mudanças, certamente efetuadas pela produção do programa da TVI. A esplanada era clean e a nossa atenção foi de imediato captada por um placard com um aspeto e design moderno, com o nome do restaurante e onde se podia ler “2002 — Agora com muitas novidades”.

Assim que passamos a porta, confirmamos as nossas suspeitas: este espaço é aquele que apresenta mais alterações em relação ao que era antes da intervenção do programa. Com uma decoração em tons de verde água e mesas de madeira, o espaço da sala de refeições é bastante amplo; do lado esquerdo, existe uma porta para outra zona do restaurante, um balcão com cerca de 30 lugares sentados, metade deles ocupados.

Aguardamos alguns minutos até sermos abordados e, devido à demora, acabamos por nos dirigir ao espaço do balcão, onde perguntamos ao jovem que encontramos se nos podemos sentar na sala de refeições. “Onde quiserem, lá fora, aqui no balcão, é mesmo como preferirem”, responde-nos Rafael Ribeiro, 25 anos, proprietário do 2002.

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Rápido, bom e barato: assim é o almoço no 2002

Ainda antes de nos sentarmos, reparamos em várias ementas penduradas na parede, de aspeto simples e moderno, onde eram mais que evidentes as influências de Ljubomir Stanisic. Entre entradas, pratos principais e sobremesas, existiam sugestões como pastéis de frango assado, pataniscas de bacalhau com molho tártaro, paletilha de cabrito no forno, bacalhau confitado com puré de grão de bico, torta de feijão, entre outras.

As ementas com as sugestões de Stanisic ainda estão penduradas na parede mas os pratos não estão disponíveis

Porém, a carta que Fátima, a única empregada de mesa que vimos nesse dia no 2002, nos entrega nada tem a ver com a observada anteriormente. Na versão plastificada e escrita à mão de onde temos de escolher o nosso almoço, entradas nem vê-las (apenas estava disponível uma sopa do dia) e os pratos principais eram bastante mais simples: entre lulas estufadas, frango assado, massa à dourador e panados de frango, acabámos por escolher os filetes com arroz de legumes, o entrecosto assado no forno (todos os pratos principais tinham o custo de 5€) e, para terminar, um leite creme sugerido por Fátima.

O pedido foi feito às 13h28, mas não resistimos a questionar a empregada de mesa sobre a carta pendurada na parede. “Não podem pedir esses pratos porque não temos”, responde-nos Fátima. Depois de não termos tido sucesso com as novas sugestões, o nosso pedido chega à mesa pelas 13h41 — 13 minutos de espera é uma ótima marca, não fosse a total ausência de qualquer tipo de couvert e a fome que uma viagem de quatro horas criou na equipa da MAGG. Porém, a comida estava irrepreensível: as doses eram bastante compostas, a relação qualidade/preço mais que aceitável, os filetes estavam no ponto, o entrecosto bem apurado e muito tenro e nem me façam falar das batatas assadas, com um sabor que nos remeteu imediatamente para a cozinha caseira das nossas avós.

“Esta casa era uma das melhores de Mangualde, se não a melhor”

Falar com o dono do restaurante, Rafael Ribeiro, não foi fácil, pois tem um acordo de confidencialidade com o "Pesadelo na Cozinha". Apesar de ter fugido à nossa primeira questão, sobre quais os motivos que o levaram a inscrever-se no programa — “Não posso responder a nada relativamente ao programa” —, Rafael Ribeiro conta-nos que o restaurante foi aberto pelo seu avô em 1976, quando ainda era snack-bar (a zona onde hoje se encontra o balcão) e supermercado (espaço onde atualmente está a sala de refeições).

Rafael Ribeiro está diariamente no 2002

“Era fantástico, esta casa era uma das melhores de Mangualde, se não a melhor”, recorda Rafael Ribeiro, que nasceu e cresceu na cidade até ir para o Algarve quando já era adolescente, para depois passar seis anos em Angola, “em turismo”, segundo o próprio.

Quando abriu nos anos 70, o 2002 só servia almoços e petiscos durante a tarde, mantendo a atividade paralela como supermercado. Rafael Ribeiro, que assumiu a gerência do espaço há cerca de três anos após regressar de África, substituiu os tios no comando do restaurante e acabou por encerrar o supermercado, dado que “já não estava a ser rentável”, e fez algumas alterações no espaço.

“Aproveitei as instalações do supermercado, mudei as luzes, mudei alguns pratos, mantive outros”, conta à MAGG Rafael Ribeiro, que considera que o negócio esteve sempre dentro do que era esperado, mas admite que desde que assumiu as rédeas do restaurante este “tem vindo a melhorar um pouco. Mas quanto mais, melhor”.

Com um staff de quatro pessoas incluindo Rafael, que está no espaço todos os dias, tal como garantido pelo próprio, os grandes trunfos do 2002 são a comida regional, mas também a tradição da própria casa. “É óbvio que existe uma tradição [gastronómica] na cidade, mas esta casa já funciona com a própria tradição. Estamos implementados aqui há muitos anos e os clientes procuram os nossos pratos, os nossos costumes”, explica Rafael Ribeiro, levantando um pouco o véu sobre as sugestões de Ljubomir Stanisic.

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Tal como tínhamos visto nas ementas penduradas na parede, facto que surpreendeu Rafael Ribeiro — “As ementas estão lá?” —, o proprietário confirma-nos que esses pratos foram implementados por Stanisic e não os cozinha aos almoços, abrindo uma exceção aos jantares. “À noite sirvo algumas das entradas mas as sobremesas, por exemplo, esqueça. Eles vêm lá com as ideias deles mas aqui os nossos clientes querem é os nossos costumes e as nossas sobremesas, que são fantásticas”, continua Rafael.

O proprietário acaba por afirmar que o “problema da casa nunca foi a comida”, considerando que a transição de snack-bar e supermercado para restaurante terá sido mais problemática para o negócio, bem como a estagnação da própria cidade. “Os últimos dois anos mudaram a cidade, a construção do Continente, por exemplo, mudou para pior, o comércio local morreu e não ajudou nada Mangualde. Isro aqui não tem nada a ver com Viseu, que é muito perto daqui, mas que tem tido uma evolução constante”, lamenta Rafael Ribeiro.

Ainda fazemos uma última tentativa e perguntamos ao proprietário se a participação no “Pesadelo na Cozinha” tinha sido positiva ou negativa. Com um sorriso, Rafael Ribeiro responde: “Qual programa?”.

O 2002 mudou depois da visita de Stanisic? Para melhor, dizem os habitantes de Mangualde

Rafael Ribeiro fechou-se em copas em relação ao que aconteceu durante as gravações do “Pesadelo na Cozinha”, mas, a poucos metros, Maria Carolina Dias, lojista e frequentadora assídua do 2002, garante que “a comida já era cinco estrelas mas agora há qualquer coisa de diferente, parece que estão a caprichar mais”.  A proprietária da Linita Décor acrescenta que o espaço está “mais ameno e mais amplo”. Fã da mão das cozinheiras e do serviço do restaurante — “a dona Fátima é uma querida e o Rafael também” —, Maria Carolina Dias elogia as mudanças que o 2002 implementou na forma de pagamento. “Antes eles tinham o menu completo, que pagávamos o valor total independentemente de comermos sopa ou não, sobremesa, café; agora só pagamos mesmo o que consumimos e está muito melhor”, afirma a lojista.

Maria Carolina Dias é frequentadora assídua do 2002

Quem também elogia a gestão de 2002 é José Albuquerque, proprietário da loja Maria do Amparo Ceramista, local onde, segundo o próprio, os elementos da produção do “Pesadelo na Cozinha” chegaram a fazer compras durante as gravações.

“O Rafael é um jovem, pegou num restaurante começado pelos avós, que tinha muito sucesso e muita fama, mas que nos últimos tempos estava a entrar um bocado em decadência. E ele tem muito valor porque agarrou o desafio, tem muita capacidade de entrega e trabalho”, conta à MAGG José Albuquerque, que acredita que o 2002 e a participação do espaço no programa da TVI pode ser “uma mais-valia para Mangualde”.

José Albuquerque garante que os elementos da produção do programa passaram pela sua loja

Já Francisco e Fernanda, proprietário e empregada do supermercado Chiveve, na praça central da cidade recordam a ligação com o avô de Rafael. “O Ribeiro era nosso concorrente na altura, porque tinha o supermercado, mas sempre nos demos muitíssimo bem. Depois ficaram os filhos, os tios não se entenderam com o miúdo, pelo menos é aquilo que consta, parece que houve um desentendimento familiar”, refere o dono do supermercado. Fernanda confessa que está ansiosa pelo programa e não é a única: “Está toda a gente com curiosidade, nós que somos daqui, que conhecemos as pessoas, estamos mesmo com curiosidade”, remata com um sorriso.

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