As regras impostas pela União Europeia de Radiodifusão (UER), entidade organizadora do Festival Eurovisão da Canção, são claras: nenhum artista pode, através de roupas, efeitos visuais, acessórios ou da própria música, transmitir mensagens políticas. Mas as regras foram feitas para serem quebradas e foi exatamente o que aconteceu esta terça-feira, 7 de maio, na primeira semifinal do certame de música.

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Bambie Thug, artista não-binária que representa a Irlanda, revelou na conferência de imprensa após se ter apurado para a final, que a organização a obrigou a apagar do corpo mensagens em ogâmico (alfabeto usado originalmente no irlandês arcaico) que diziam "cessar-fogo" e "liberdade para a Palestina".

Questionada por um jornalista sueco sobre estas mensagens, que estavam escritas em atuações anteriores na cara e na perna, Bambie Thug explicou que teve de mudar as pinturas para poder atuar. "Foi muito importante [ter essas mensagens], porque eu sou a favor da justiça e pela paz. Infelizmente, tive de as alterar para 'coroa a bruxa' apenas, por ordem da UER", disse a artista irlandesa.

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Se Bambie Thug não conseguiu divulgar a sua posição em relação ao conflito que está atualmente a acontecer em Gaza e que já matou mais de 34 mil palestinianos, o mesmo não aconteceu com Eric Saade. O artista sueco-palestiniano, que em 2011, ficou em terceiro lugar no Festival Eurovisão da Canção, foi um dos artistas convidados para atuar no início da primeira semifinal, esta terça-feira, 7 de maio.

Embora nos ensaios não tenha utilizado o acessório, surgiu em direto com um keffiyeh (lenço associado ao movimento nacionalista palestiniano) amarrado no pulso. Ao jornal "The Times of Israel", a organização lamenta esta atitude do cantor, dizendo que representa uma "violação da natureza não-política do concurso".

Eric Saade, cujo pai é libanês de origem palestiana, tem sido um forte crítico das posições da UER na edição deste ano da Eurovisão, que acontece na Suécia. Devido ao conflito Israel-Hamas, que deflagrou no final de outubro de 2023, a organização proibiu a exibição de bandeiras ou símbolos de países que não os participantes - o que foi interpretado como uma tentativa de limitação à liberdade de expressão. Saade acusou a UER de disseminar "propaganda israelita".

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Nas redes sociais e no canal de Youtube da Eurovisão, a atuação de Eric Saade não foi divulgada, ao contrário das da cipriota Eleni Foureira e da espanhola Chanel, que também foram convidadas desta primeira semifinal. No Instagram, o artista sueco publicou uma foto com Foureira e Chanel e, nos comentários, vários internautas elogiam a sua coragem. Num story, Saade escreveu apenas: "é apenas amor. Unidos pela música".

Em 2022, após a Rússia ter invadido a Ucrânia, o país liderado por Vladimir Putin foi excluído da União Europeia de Radiodifusão e banido da Eurovisão. Na altura, a entidade organizadora do certame justificava a decisão como uma "defesa dos valores da democracia". No entanto, e apesar das críticas, o mesmo não aconteceu a Israel, que atua na segunda semifinal, esta quinta-feira, 8 de maio. Eden Golan, que vai representar o país do Médio Oriente com a canção "Hurricane", tem estado rodeada de fortes medidas de segurança, não tendo participado nos eventos públicos do festival, que acontece até sábado, 11, na cidade sueca de Malmö.