Kail Britt tem 30 anos, é mãe de quatro filhos, e criou um novo modelo educacional que segue com todas as crianças, o gentle parenting, que numa tradução mais literal significa algo como "parentalidade gentil". E o que é isto? É mais ou menos seguir a ideia de que os nossos filhos devem fazer quase sempre tudo aquilo que quiserem fazer, de acordo com as suas vontades, e terem sempre do lado do pai e da mãe um reforço positivo, elogios e amor. E fazer tudo é mesmo fazer tudo: faltar à escola, comerem o que lhes apetece, dormirem no quarto dos pais quando quiserem, irem para a cama às horas que entenderem e escolherem a roupa que vão vestir. Por muito estranho que isto possa parecer a quase todos os pais do mundo, Kail Britt, que é mãe desde os 17 anos, e que nem sempre seguiu o gentle parenting, diz que isto resulta.

Uma das bases deste novo modelo educacional criado e seguido por Kail Britt, residente em Ontário, no Canadá, é o de nunca usar "baby talk", ou seja, aquela forma "abebezada" de falar com as crianças. "Eu não os trato como bebés, e não uso linguagem de bebés. Trato-os como seres humanos", explicou, citada pelo "Daily Mail". Mas nem sempre Kail Britt usou estas técnicas. Quando foi mãe de Will, hoje com 13 anos, começou por seguir aquilo que hoje chama de "narrativas de outras pessoas sobre parentalidade". E entendeu, então, que "não há formas perfeitas de ser pai ou mãe", nem modelos corretos. "Cada pai ou mãe faz o seu melhor". Há casos e casos, crianças e crianças, e achou que deveria procurar o seu próprio caminho. Quando voltou a ser mãe, aos 21, de Will, hoje com 9 anos, mudou radicalmente o modelo educativo e passou a aplicar a parentalidade gentil, que seguiu depois com os outros dois filhos, Aiyanna, 6 anos, e Archie, 2. 

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"Falo com todos eles como seres humanos normais, e conversamos até sobre sentimentos mais profundos. Claro que ainda falo com eles usando uma linguagem adequada à idade de cada um, mas acho isso de usar  conversa de bebé um pouco condescendente", explicou. A base do seu modelo educativo passa muito por esta ideia-chave: "Eu guio-os, não os controlo", disse Kail Britt, que trabalha em casa como criadora de conteúdos digitais, mas dedica quase todo o seu tempo à educação dos filhos.

Outras duas novidades desta gentle parenting estão ligadas às rotinas que para muitos pais são básicas, a roupa que vestem e o irem à escola. "Eu não os obrigo a irem todos os dias à escola. Se eles quiserem tirar um dia e ficarem em casa, podem fazê-lo, não precisam de inventar que estão com febre para faltar. Só verifico se nesse dia têm ou não algum teste importante". A ideia de Kail é a de que as crianças decidam por si e possam ter orgulho nas suas próprias decisões, se elas se revelarem corretas.

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Na ideia desta mãe, os pais devem procurar sempre pedir desculpa aos filhos sempre que fizerem algo de errado, já que é importante que eles percebam que "os adultos também erram", como explicou. E se sentir que precisa disso, esta mãe tira um tempo para ela para refletir sobre as suas decisões, quando sente que fez algo de errado. "Depois, quando estivermos todos calmos, sentamo-nos e falamos em conjunto sobre o que aconteceu.

Os comportamentos das crianças relativamente às outras pessoas também não são controlados por Kail, que deixa os filhos decidirem o que querem fazer. "Eu nunca os irei obrigar a dar beijinhos ou abraços a alguém. Quero que eles o façam quando se sentirem confortáveis para isso. Também por isso não os vou obrigar a irem a eventos familiares, se eles não quiserem ir".

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Há ainda duas regras diferentes neste modelo educacional, relacionadas com o sono. Por um lado, Kail Britt continua a ter uma cama livre ao lado da sua, no seu quarto, para que os filhos a possam usar sempre que quiserem. "É um espaço seguro, que eles podem usar sempre que quiserem. E podem usar esta cama até aos 25 anos, se quiserem. Mas eles gostam muito de dormir nas suas próprias camas", disse. As horas a que vão para a cama também ficam ao critério de cada filho. Mas antes de dormir, uma coisa é certa: há sempre um reforço positivo por parte da mãe. "Digo-lhes sempre que eles são fortes, bonitos e gentis", contou. "Os meus filhos são amados e sentem-se seguros. Isso faz com que saibam o seu valor".

Kail garantiu que "durante muitos anos" não acreditou que fosse "uma boa mãe", mas isso mudou. "Agora, acreditou que sou".

O futuro o dirá.