Peter Jackson não partilha da ideia de que só ele teria sido capaz de fazer um documentário sobre os Beatles. Nas palavras do realizador, qualquer pessoa teria tido arcaboiço para analisar 150 horas inéditas de áudio, e de conversas decorridas em meados de 1969, e inseri-las no devido contexto, desde que fosse fã do grupo. Para sua sorte e nossa, Peter Jackon é esse fã.

"The Beatles: Get Back" é o documentário de três partes que começa a ser lançado esta quinta-feira, 25 de novembro, na Disney+. Cada episódio tem uma duração entre duas a três horas e mostra o grupo britânico na produção de "Let It Be", o último disco lançado, que inicialmente se esperava que se chamasse "Get Back", usando imagens do documentário original de Michael Lindsay-Hogg.

Paul McCartney diz que foi John Lennon que provocou o fim dos Beatles
Paul McCartney diz que foi John Lennon que provocou o fim dos Beatles
Ver artigo

"Neste documentário [cuja preparação do álbum antecederia o primeiro concerto do grupo em três anos, na altura], estamos a bisbilhotar conversas que aconteceram em 1969. Foi assim que me senti ao longo destes quatro anos [o tempo em que Jackson esteve a trabalhar na produção documental]. Como era um fã dos Beatles, entendi as nuances e a relevância de algumas das coisas sobre as quais eles falavam. Por isso, qualquer pessoa que pegasse neste projeto tinha de ser um fã para poder decifrar algumas das referências que eles faziam", explica o realizador em conferência de imprensa de apresentação do documentário.

Os três episódios vão ser lançados diariamente, de 25 a 27 de novembro, e o que o realizador da saga de "O Senhor dos Anéis", promete é acesso exclusivo aos bastidores de um grupo pautado, na reta final, por uma tensão e dualidade palpáveis até no ecrã.

"Eles [referindo-se aos Beatles] queriam ser filmados [a gravar o disco "Let It Be"]. Mas havia certas alturas em que não queriam." Mas só terá havido um momento em que fizeram saber isso de forma clara.

"Nas 150 horas de áudio a que tive acesso, isso só aconteceu uma vez, e aconteceu quando Paul McCartney se virou para a câmara e pediu para que fosse desligada. A câmara desliga-se, mas o gravador de som continua a trabalhar sem que eles se apercebam", explica Peter Jackson. Desse momento, continua, é possível "sentir a pressão que todos eles carregam", enquanto artistas de quem já se espera mundos.

E ainda que o mundo já tenha visto concertos, documentários, entrevista e conferências de imprensa em que os Beatles de Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr eram os protagonistas, nunca os vimos de forma tão sincera como este documentário permitirá ver. E isso, diz o realizador, tem que ver com o facto de, mesmo quando as câmaras estão desligadas, haver centenas de horas de áudio que mostra tal e qual como eles eram em 1969.

"Nesses momentos, temos acesso ao estado mais puro dos Beatles", explica. Com tudo o que isso tem de bom e de mau, já que o documentário abordará os conflitos internos entre os membros e até a saída de George Harrison, que aconteceu durante as gravações.

"Apesar de tudo, terminei este projeto a achá-los meras pessoas e estou agradecido por disso", diz Jackson. O realizador refere-se ao grupo como sendo composto por pessoas normais, desmistificando a imagem de ídolos que foram criando para eles próprios à medida que as canções e o fenómeno serviam de base para o sucesso.

Um grupo feito por "rapazes normais" de Liverpool

"O filme é tão extenso [os três episódios totalizam as quase oito horas de duração] que permite dar ao espectador uma ideia mais concreta sobre que tipo de pessoas eram e são os Beatles", refere. E continua, dizendo que, quando o projeto acabou a produção, o realizador chegou ao fim a achar que, afinal, aquelas figuras endeusadas eram "tipos decentes e sensíveis".

"Não havia egos. Tinham, sim, ambições diferentes e discordaram muito uns dos outros. Até porque eram pessoas diferentes. Mas são rapazes normais vindos de Liverpool", assegura Peter Jackson.

O documentário de Peter Jackson que vai mostrar os Beatles no seu
O documentário vai mostrar as gravações do último disco lançado, mas também as tensões internas do grupo

Apesar de "The Beatles: Get Back" servir como viagem a um dos momentos mais intensos, melancólicos e duros do grupo inglês, a produção contou com o apoio e colaboração de Yoko Ono (viúva de John Lennon) e Olivia Harrison (viúva de George Harrison). Mas também de Paul McCartney que, aquando do anúncio do documentário, fez saber-se "muito feliz por Peter Jackson ter decidido fazer um filme que mostrasse a verdade sobre como foi gravar com os Beatles".

Também o baterista Ringo Starr participou na produção, argumentando de que este documentário será muito diferente daquele que foi lançado em 1970, e no qual este se baseia.

"Houve horas e horas em que só nos rimos enquanto tocávamos música, muito diferente daquilo que o documentário "Let It Be" mostrou em 1970. Houve muita diversão e felicidade e acho que o Peter [Jackson] vai mostrar isso", explicou o baterista.

O primeiro episódio de "The Beatles: Get Back" estreia-se esta quinta-feira. Os dois restantes saem na sexta-feira e no sábado, 26 e 27 de novembro.