Este texto contém spoilers sobre o reboot de "Frasier". Se não quer saber pormenores, por favor não continue a ler. 

"Frasier has re-entered the building!". Música para os nossos ouvidos, a reinterpretação do clássico "Tossed Salad and Scrambled Eggs", pela voz de Kelsey Grammer. Tal e qual como na versão original, estreada há precisamente 30 anos, e que esteve no ar ao longo de 11 temporadas, até 2004.

Temos de fazer uma declaração de intenções antes de revelarmos mais pormenores sobre o reboot de "Frasier", que se estreia a 3 de novembro na plataforma de streaming SkyShowtime. A sitcom protagonizada por Kelsey Grammer é a nossa favorita de sempre. Emitida originalmente na TVI, em meados da década de 90, "Frasier" representava uma viagem a um mundo elegante, sofisticado, cosmopolita, cheio de lattes em cafés chiques e jantares em restaurantes ainda mais fancy, e também aquele incrível apartamento com vista para Seattle, nos pareciam tudo o que se poderia almejar na idade adulta. E mesmo a vida amorosa estilo salta pocinhas de Frasier nos parecia fascinante. E ainda parece, de certa forma.

As 11 temporadas da série criada por David Angell, Peter Casey e David Lee (um spin off de "Cheers, Aquele Bar", onde a personagem Frasier Crane surgiu inicialmente) também estão disponíveis na SkyShowTime. Revê-las, além de uma boa preparação para refrescar a memória, dão-nos a certeza de que esta é uma das séries de comédia mais bem escritas e interpretadas da história da TV. A começar por Kelsey Grammer e a acabar em Eddie, o endiabrado Jack Russell Terrier que protagonizava hilariantes momentos no finais dos episódios das primeiras temporadas.

Mas chega de viajar no tempo. De volta a 2023 e ao reboot de "Frasier". Só agora nos apercebemos de que Kelsey Grammer era mais novo do que nós quando a série começou. O ator norte-americano tinha 38 anos quando se estreou a primeira temporada da série. Agora, com uns muito bem conservados 68, volta a vestir a pele da sua mais famosa personagem. Mas, infelizmente, Grammer é o único elemento do núcleo duro de "Frasier" que regressa.

O elenco original das 11 temporadas de
O elenco original das 11 temporadas de "Frasier"

John Mahoney, que interpretava o patriarca Martin Crane, morreu em 2018. David Hyde Pierce (Niles Crane), Jane Leeves (Daphne Moon) e e Peri Gilpin (Roz Doyle) declinaram regressar, embora haja não uma, mas duas participações especiais, e uma delas é da maravilhosa Bebe Neuwirth, que interpretava Lilith, a ex-mulher de Frasier e mãe do seu único filho, Frederick.

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E, por falar em Frederick, o filho de Frasier é agora um rapagão bem apessoado, interpretado por Jack Cutmore-Scott. Vive em Boston e, para grande desgosto do pai, não lhe seguiu as pisadas. É bombeiro e partilha casa com Eve (Jess Salgueiro). O par não namora e vive numa situação algo... peculiar (estamos legalmente proibidos pela distribuidora da série de revelar qual é este detalhe). Vamos só dizer que vai gerar uma confusão dos diabos.

Os fãs de "Frasier" saberão certamente que este não tinha uma relação próxima com o filho. Depois do divórcio de Lilith, Freddy fica a viver com a mãe e Frasier muda-se para a Seattle. 30 anos depois, o psiquiatra deixa Seattle, pouco tempo após a morte do pai e do fim do relacionamento com Charlotte, e regressa a Boston. O objetivo é reaproximar-se do filho e, quem sabe, reencontrar o amor.

Frasier regressa à terra natal não só por motivos pessoais mas também para dar aulas em Harvard, a universidade onde estudou. É lá que reencontra Alan (Nicholas Lyndhurst), antigo colega de curso (e o mais preguiçoso professor universitário que já conhecemos). O núcleo duro da nova vida de "Frasier" é ainda constituído por Olivia (Toks Olagundoye), diretora do departamento de psicologia da universidade e David (Anders Keith), sobrinho de Frasier (e sim, filho de Niles e Daphne).

"Frasier" é Kelsey Grammer e não haveria "Frasier" sem Kelsey Grammer. O problema deste novo reboot é que é só Kelsey Grammer. O que dava alma aos 264 episódios da série era o ritmo absolutamente alucinante dos diálogos, a forma brilhante como o elenco devolvia as falas. O humor físico, a comicidade das expressões, os exageros, a interação orgânica entre Frasier, Niles, Daphne e Martin davam ao telespectador a sensação de não só pertencer àquela família mas também de entender aquela família. E tudo isto contrabalançava o snobismo irritante de Frasier, ao qual Niles aderia com todo o entusiasmo, os gostos ridiculamente caros e refinados dos irmãos Crane, motivo de gozo constante por parte de Marty e Daphne.

O que se passa neste regresso é que o resto do elenco, à exceção de Alan (Nicholas Lyndhurst), não tem pedalada para o ritmo de "Frasier" e de Frasier. E não deixa de ser irónico que, em tempos tão mais rápidos, em que tudo se decide em escassos segundos, "Frasier" tenha diminuído o passo, tornando-se mais lenta ao ponto de provocar sonolência. A falta de química em cena entre Kelsey Grammer e Jack Cutmore-Scott é evidente e nem o inseguro David (Anders Keith) consegue chegar sequer aos pés das paranóias hilariantes do pai Niles.

Quem chega a este "Frasier" sem se ter apaixonado pelo antigo dificilmente o compreenderá e menos pachorra terá para ver até ao fim esta temporada. Nós, por cá, vamos ver. Só por causa de Frasier.

Os dois primeiros episódios de "Frasier" estreiam-se a 3 de novembro na plataforma de streaming SkyShowtime. Os restantes oito estarão disponíveis semanalmente, às sextas-feiras.