Páscoa não rima com doce, doce não rima com ovos moles. Mas tudo junto casa com Aveiro. Na verdade, o que queremos é dar-lhe um pretexto para se fazer à estrada e só parar no Montebelo Vista Alegre, em Ílhavo, a poucos quilómetros do centro da cidade injustamente apelidada de Veneza portuguesa (não só porque é mais cheirosa, mais barata, mas também porque tem, lá está, ovos moles).
Com dois séculos de história, a marca Vista Alegre está intimamente ligada às mudanças que o País atravessou, ou não fosse o seu fundador, José Ferreira Pinto Basto, um visionário e um progressista, sendo um dos empresários mais notáveis da sua época.
A fábrica de porcelanas, faiança e grés pertence desde 2009 ao grupo Visabeira que, em 2015, uniu as marcas Vista Alegre e Montebelo para requalificar o complexo fabril de Ílhavo e, além de preservar a memória de tempos antigos, modernizar aquele espaço, maximizando todo o seu potencial turístico. Da ideia nasceu o Montebelo Vista Alegre, um hotel de cinco estrelas que tem várias modalidades de alojamento, espalhadas por vários edifícios.
Com parcerias com artistas de renome de várias áreas (desde Siza Vieira e Joana Vasconcelos às casas Christian Lacroix e Oscar de la Renta), a Vista Alegre tem não só renovado a sua importância no panorama internacional, mantendo-se sempre jovem e atual, como conservado as ligações históricas (os serviços da marca são usados oficialmente pela presidência da República Portuguesa, pela Casa Branca e em várias embaixadas, um pouco por todo o mundo).
Atualmente, trabalham 65o pessoas na Vista Alegre (50 na fábrica, cuja etapa final, a da pintura, é aberta a visitas ao público). O fabrico da bicentenária porcelana é feito 24 horas por dia, sete dias por semana. E só para se perceber o que está aqui em causa (e também parte da explicação do preço das peças da marca), um prato básico demora 48 horas a ser feito. Uma chávena de café, em média, demora sete dias e as peças mais complexas, dependendo dos tempos de secagem, dos pormenores, das colagens dos vários elementos, podem demorar até um mês a ficarem prontas. Agora já olha para aqueles preços de outra forma, não é? Nós também.
As peças Vista Alegre, das mais úteis às decorativas, estão em todo o lado, em cada pormenor, do hotel. Desde as paredes à mesa do restaurante, passando por pequenos apontamentos nos quartos.
Conheça o interior da ala nova do hotel
Ficámos alojados na ala nova, com vista privilegiada para o rio Boco. Apesar de estarmos tão perto de Aveiro, o silêncio da ria e dos seus canais, a vegetação característica desta zona e a fauna local proporcionam uma serenidade perfeita para uma escapadinha de fim de semana. Quando o tempo aquece, a enorme piscina exterior é perfeita para mergulhos em família (e corridas dos mais pequenos no relvado). Ah, e é imperdoável perder o pôr do sol na varanda, de preferência acompanhado por um copo de qualquer um dos vinhos Casa da Ínsua (marca que também pertence ao grupo Visabeira).
Veja os quartos da ala nova do Montebelo Vista Alegre
As várias tipologias de alojamento estão espalhadas pela ala nova, Palácio dos Pintores, Palácio dos Fundadores e Bairro Vista Alegre (quarto duplo superior, estúdio, suite e apartamento). Esta última parte, a mais recente, é a que proporciona maior privacidade e também permite que se agreguem famílias ou até grupos de amigos. São, no total, 162 alojamentos espalhados pela propriedade.
1 . Comer no restaurante do hotel (vão por nós, vale mesmo a pena)
O chef Rui Rodrigues não brinca em serviço. Nos quase três dias que passámos no Montebelo Vista Alegre, provámos grande parte da carta do restaurante e podemos garantir que não há nada que seja aborrecido ou menos bom. Apesar da recente aposta em opções vegetarianas para diversificar a oferta, há pratos "que nunca saem da carta", como explica Rui Rodrigues.
Um deles o bacalhau à Brás. "Estamos na terra dele, em Ílhavo, portanto tem de ter uma forte presença na carta". O mil folhas de ovos moles, que também testámos, "traz o tradicional" de Aveiro, combinado com técnicas modernas. "Parece que o ovo mole vestiu Chanel", brinca o chef de 36 anos, natural de Viseu.
"É difícil descrever a minha carta. É uma carta de fusão, que tem como pilar a cozinha portuguesa, mas depois tem toques, ingredientes ou técnicas que vêm da cozinha oriental, mediterrânea, também da italiana, de que sou muito fã, da francesa também", explica Rui Rodrigues, que faz quase todo o seu percurso profissional nas unidades hoteleiras do grupo Visabeira.
No restaurante do hotel há menu à carta, com uma seleção que privilegia os ingredientes locais, com especial ênfase para o bacalhau e peixe fresco, e também um menu degustação composto por oito momentos (90€), para o qual é necessário fazer reserva antecipada através do 234 241 630.
Veja o que comemos
2. Fazer uma massagem no spa (e dar mergulhar na piscina interior)
Há piscinas interiores para todos os gostos, mas a do Montebelo Vista Alegre conjuga o melhor dos dois mundos: é grande, quente e iluminada, graças às enormes janelas que permitem a entrada de luz natural, mas também às cores claras que, de resto, são presentes em todo o hotel. Tivemos ainda a oportunidade de fazer uma massagem com Diana Prior, massoterapeuta e técnica de fisioterapia, que nos conduziu-nos por 120 minutos de puro relaxamento.
Com o Ritual de Energia e Espiritualidade (180€), Diana Prior combinou relaxoterapia com aromaterapia, massagem de recuperação e reabilitação. Podemos afirmar sem pejo que foi uma das melhores experiências de relaxamento que já experimentámos, muito devido ao facto de a massoterapeuta ter personalizado todas as fases do ritual, tendo sempre em atenção as nossas características físicas e o estado físico e emocional em que nos encontrávamos no momento. Vale a pena o investimento.
Desde serviços de estética, como depilação, manicure e pedicure, até tratamentos corporais específicos, como esfoliação e para pernas cansadas, passando por tratamentos faciais, rituais (sessões de relaxamento mais complexas, em que são combinadas várias técnicas), massagens localizadas e massagens de corpo inteiro. Os preços começam nos 35€ e vão até 180€.
3. Fazer um workshop na antiga escola da Vista Alegre (e levar a peça para casa)
Desde 2016 que o edifício fabril está desativado, tendo sido transformado no museu que existe atualmente. Embora, na Vista Alegre, sempre tenha havido a tradição de colecionar as peças para memória futura. Tal como aprendemos durante a visita guiada, que atravessa dois séculos de história e cruza os acontecimentos que marcaram Portugal e o Mundo com a evolução da marca, o primeiro museu abriu ao público em 1964. A peça central que cumprimenta os visitantes é um antigo forno de cozedura de porcelana, que fica logo à entrada deste espaço (está desativado, claro).
Visitar a capela, a fábrica, o museu e os restantes edifícios do que antes era uma aldeia onde viviam apenas os trabalhadores da Vista Alegre não é obrigatório quando no Montebelo Vista Alegre... mas altamente recomendável. E mesmo se não estiver instalado no hotel, vale muito a pena uma visita ao complexo (e às lojas).
A entrada no Museu Vista Alegre é gratuita para hóspedes e inclui a visita à oficina de pintura manual, onde os técnicos da casa podem ser vistos a colocar cor em peças gigantescas ou mínimas com uma arte e precisão impressionantes. Esta parte da visita só se realiza aos dias úteis, das 10 horas às 18h30. O museu está aberto de maio a setembro das 10 horas às 19h30 e de outubro a abril das 10 às 19 horas. Quem visitar o museu tem ainda direito a 10% de desconto nas três lojas.
As visitas à Capela de Nossa Senhora da Penha de França (um exemplar incrível do barroco tardio, mandada construir por D. Manoel de Moura Manoel, bispo de Miranda do Douro, no século XVIII), que já existia antes da fábrica ser erigida, e ao Bairro Operário também estão disponíveis com marcação prévia (e vá por nós, que valem bem a pena).
Há três tipos de workshops que podem ser realizados na Vista Alegre, quer queira fazer uma peça de raiz ou apenas pintar uma já criada. Tivemos a oportunidade de fazer a Oficina de Pintura com tintas cerâmicas (a partir de 16€ / peça). Depois de cozida, a peça pode ser levantada no museu no prazo de 15 dias úteis, entregue ao domicílio ou numa loja Vista Alegre. A inscrição deve ser feita pelo e-mail museu@vistaalegre.com, através do 234 320 628 ou na receção do museu dentro do horário de funcionamento.
O nosso workshop de pintura foi conduzido por Sónia Prior, terceira geração de funcionários da Vista Alegre. Na antiga creche da empresa, que recebeu, durante várias décadas, os filhos dos funcionários, regressámos aos bancos da escola para, sem grande jeito, pintarmos uma caneca. Depois de vidrada, para proteger a pintura (sim, inaugurámos uma nova era, chama-se Faltadejeitismo), recolhemos a peça numa loja Vista Alegre.
No que toca a compras, há muito por onde escolher, e para todas as bolsas. No complexo Vista Alegre há três lojas abertas ao público. A da marca Vista Alegre, um outlet com preços mais acessíveis e uma loja dedicada apenas a peças Bordallo Pinheiro, marca que está sob a alçada do grupo Visabeira.
De acordo com simulação feita no site do hotel, para a noite de 24 para 25 de março, o preço para um quarto twin standard na ala nova, com pequeno almoço incluído, começa nos 124€. O valor pode ir até aos 537€, se optar por ficar na suite master da ala nova, situada no terceiro piso do hotel, com uma vista incrível sobre o rio Boco.
Veja o exterior do Montebelo Vista Alegre
* a MAGG visitou o Montebelo Vista Alegre a convite do grupo Visabeira