As novas revelações feitas por Marcelo Rebelo de Sousa sobre o caso das gémeas luso-brasileiras são, no mínimo, espantosas. Numa notícia do jornal brasileiro "Correio Braziliense", na qual é citada uma conversa que o presidente da República teve durante um jantar com jornalistas estrangeiros esta terça-feira, 23 (de acordo com o "Expresso") , o chefe de Estado fala sobre o degradar de relações com o filho mais velho, Nuno. Mas não só. Conta como este já o tinha tentado, alegadamente, usar, e refere também que António Costa "o consolava" durante este período conturbado.

Mas vamos por partes.

O caso das gémeas luso-brasileiras, atualmente em investigação pelo Ministério Público devido a um alegado favorecimento, foi o motivo pelo qual o presidente da República cortou relações com o filho. E é o próprio que o confirma, confirme citado pelo jornal "Correio Braziliense".

"Isso é imperdoável, porque ele sabe que eu tenho um cargo público e político, e pago por isso. Há coisas piores na vida. Não sei se ele vai ser responsabilizado, não me interessa. Essa é uma das vantagens de se cortar. Ele tem 51 anos, se fosse o meu neto mais velho e preferido, com 20 anos, eu sentia-me corresponsável. Mas, com 51 anos, é maior e vacinado."

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A referência ao "neto mais velho e preferido" não é nova. Nuno Rebelo de Sousa foi casado com Rita de Sousa Coutinho, com quem tem quatro filhos em comum, sendo Francisco o mais velho (e o único rapaz). O filho mais velho do presidente voltou a casar-se quando se mudou para o Brasil, desta vez com Juliana Vilela Drummond. O casal tem uma filha em comum, Maria Eduarda, de 7 anos.

O diário brasileiro adianta que, nesta conversa, que aconteceu com jornalistas estrangeiros, o presidente da República revelou ainda em que contexto as relações com o filho azedaram. E nada teve que ver com a suposto pedido de ajuda de Nuno Rebelo de Sousa no caso das gémeas luso-brasileiras, que acabariam por receber tratamento no Hospital Santa Maria, em Lisboa, com um dos medicamentos mais caros do mundo, o Zolgensma.

Por ocasião de uma viagem do presidente ao Brasil, Nuno Rebelo de Sousa — conta Marcelo — terá marcado um encontro com vários políticos locais, numa tentativa de influenciar o governo português. Este encontro arreliou o presidente da República e motivo o início do fim da relação entre pai e filho.

Esta visita oficial ao Brasil aconteceu em janeiro de 2019, pouco tempo antes do email enviado por Nuno Rebelo de Sousa, a pedir que o pai intercedesse no caso das gémeas. “Expliquei a um antigo presidente brasileiro, a presidentes de partidos, governadores que, se eu aceitasse que ele fosse, eles ficariam convencidos de que a melhor maneira de se chegar até a mim era através do filho. E o filho ficaria convencido de que a melhor maneira de chegar até eles era através de mim”, contou Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que a sua decisão se revelou acertada, uma vez que, meses mais tarde, aconteceu o primeiro contacto a propósito do tratamento das crianças.

À comunicação social portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido muito parco em detalhes sobre a forma como se sucederam os contactos entre Belém e o filho. Mas, nesta conversa, chega mesmo a dizer que Nuno, “que é teimoso, é de Leão”, insistiu sobre o caso. Do seu lado, e uma vez que estava prestes a ser operado ao coração (o que aconteceu em 2010), resolveu pôr o assunto de lado. Mas Nuno voltou a insistir, ainda em 2019, com um telefonema. “Argumentei que não era possível”, recorda.

Quatro anos depois, no final de 2023, o caso é tornado público, mais ou menos na mesma altura em que António Costa apresenta demissão do cargo de primeiro-ministro, na sequência da Operação Influencer. E o presidente da República conta ainda aos jornalistas que procurou um ombro amigo no então chefe de governo. “Eu consolava-o em relação ao caso dele, e ele consolava-me no caso das gémeas”, disse Marcelo, "rindo".

O presidente da República salienta ainda que este está a ser "um período chato", por causa da divisão da família, de estar de relações cortadas com o filho, referindo ainda o facto de Nuno Rebelo de Sousa ter sido fotografado a chegar ao aeroporto de Lisboa disfarçado “com um boné” e óculos escuros.