"Mais de um terço das mulheres sofreram maus-tratos e estavam particularmente vulneráveis durante o parto", revela o estudo publicado esta terça-feira, 8 de outubro, pela revista científica "The Lancet".

Os números vão mais além e revelam que da população estudada, quase metade (41,6%) sofreu abusos físicos ou verbais, bem como estigma ou discriminação. Dos maus-tratos fazem parte situações de agressão, gritos ou repreensões.

O estudo liderado pela Organização Mundial de Saúde incidiu sobre mulheres da Nigéria, Myanmar, Gana e Guiné — acompanhando no total mais de duas mil mulheres durante o trabalho de parto e entrevistando mais de 2.600 depois de darem à luz. Entre estas mulheres, aquelas que revelaram uma maior ocorrência de casos de maus-tratos foram as mais jovens e com um menor grau escolaridade.

"É essencial compreender os fatores propulsores e as dimensões estruturais dos maus-tratos, incluindo as desigualdades de género e sociais, para garantir que as intervenções respondem adequadamente ao contexto mais amplo", explica o estudo.

O facto é que estas mulheres de países em desenvolvimento registam taxas elevadas de intervenções não autorizadas: das 2.016 mulheres observadas, no que diz respeito a cesarianas, 13% foram feitas sem o seu consentimento, bem como 75% dos cortes cirúrgicos na vagina.

E, em muitos casos, estas operações foram feitas sem administração de analgésicos (cuja função é reduzir a dor das intervenções), correspondendo a 57% das mulheres acompanhadas, de acordo com o estudo.

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A investigação revela ainda que a maior parte dos abusos ocorreram entre os 30 minutos antes e os 15 minutos depois do parto. "As parteiras e os médicos descreveram as mulheres como 'não cooperativas' durante este período e alguns justificaram usar o abuso físico e verbal como 'punição' pela não cooperação e para garantir 'bons resultados' para o bebé", continua a investigação.

Contudo, de acordo com o jornal "Time" os casos de abuso durante o parto ocorrem por todo o mundo, incluindo em países desenvolvidos. A diferença está no facto de essas práticas serem raramente documentadas e as mulheres temerem pelas consequências da revelação das violações.

O mesmo jornal indica que foram divulgados casos de abusos na América Latina, o que levou a que a Venezuela fosse o primeiro país a formular uma lei, em 2007, para combater estas práticas — a lei orgânica sobre o direito das mulheres a uma vida livre de violência, que regulava também sobre a violência obstétrica.

A investigação relata ainda outra situação, que não está diretamente relacionada com os maus-tratos, mas com a intolerância para com a mulher: "133 (5%) das 2672 mulheres ou dos seus bebes foram detidas nas instalações porque não tinham capacidade para pagar a conta", agravando a situação após os abusos ou práticas discriminatórias.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a melhor forma de evitar os maus-tratos a mulheres e garantir apoio continuo durante o parto, é assegurar cuidados de maternidade respeitosos, de forma a manter a sua dignidade, privacidade e confidencialidade.