Estávamos a 12 de junho de 2014 quando três adolescentes muçulmanos e judeus esperavam à beira da estrada por uma boleia que os levasse até casa. Naftali Frenkel, Gilad Shaer e Eyal Yifrah tinham entre 16 e 19 anos quando foram raptados na Cisjordânia por militantes palestinianos. Um dos jovens, Gilad, terá conseguido ligar aos serviços de emergência para reportar o sequestro.

"Eles raptaram-me", foi o sussurro que se ouviu do outro lado da linha seguido de gritos e de vários disparos de armas automáticas.

Embora sem provas, os responsáveis pela investigação estavam convictos de que os três jovens tinham sido assassinados naquele mesmo dia. A descoberta dos corpos em Israel, duas semanas depois, comprovou isso mesmo.

Mas a violência não se ficaria por aqui e a História não deixa que ninguém se esqueça — até porque só piorou. Nos dias seguintes ao aparecimento dos corpos, três israelitas raptaram Mohammed Abu Khdeir, um jovem palestiniano de apenas 16 anos, e queimaram-no vivo numa floresta localizada na periferia da cidade.

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Israel lançou um movimento na Cisjordânia, levando à prisão de centenas de militares do grupo radical palestiniano Hamas que, por sua vez, respondeu com mísseis. Em poucos dias, Israel aprovou uma invasão área e terrestre em toda a região e o conflito escalou. Tanto o é que, 51 dias depois, já se contabilizavam mais de duas mil mortes e metade das vítimas eram civis.

Segundo vários historiadores, o assassinato dos quatro jovens terá contribuído para dar início ao conflito que opôs Israel e o Hamas na Faixa de Gaza em 2014.

É que apesar do cessar de fogo, acordado em agosto de 2014, a verdade é que têm havido sucessivos ataques vindos dos dois lados da barricada que, segundo escreve a CBC, ameaçam dar origem a um novo conflito armado e mais violento.

Embora o contexto não seja novo, vai ser recordado na nova minissérie da HBO chamada "Our Boys", criada por uma equipa de realizadores palestinianos e israelitas — como Tawfik Abu Wael ("Atash"), Joseph Cedar ("Hearat Shulayim") e Hagai Levi ("The Affair").

No entanto, e segundo a mesma publicação, os responsáveis pela produção sabem que a ideia de recriar o sofrimento causado pelos dois lados da barricada possa ser rejeitado depois de décadas de violência. É que apesar de tratarem o tema com uma "sensibilidade jornalística", garantem que não vai ser fácil para ninguém.

"Estamos a tentar trazer alguma coisa para o ecrã que esteja o mais próxima possível dos eventos tal como eles aconteceram ou, pelo menos, da forma como nós os entendemos. Mas vamos ser honestos: vamos ser atacados de todos os lados, pelos árabes, pelos judeus... Vai ser muito difícil para toda a gente", garante Abu Wael, um dos responsáveis.

Além de focar numa história real e dura, "Our Boys" é também a primeira vez que a HBO aceita produzir uma série original em hebraico com legendas em inglês.

Segundo a revista "Time", que já teve oportunidade de ver a série, a nova produção original da HBO está repleta de "excelentes atores" mas garante que pode ser uma série "frustrante e lenta" devido à quantidade de informação que tem de dar a conhecer ao espectador que não esteja familiarizado com o contexto histórico, político e social que levou ao conflito.

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"A série também força judeus a entender que há extremistas perigosos que partilham a mesma fé. E expõe a apatia com que uma maioria poderosa lida com a dor e o sofrimento de uma minoria", escreve a mesma publicação.

Depois do sucesso de minisséries como "Band of Brothers", "The Pacific" e, mais recentemente, "Chernobyl", a nova produção promete manter o mesmo formato com uma história limitada apenas a uma temporada.

"Our Boys" vai contar com dez episódios e chega à HBO Portugal já na próxima terça-feira, 13 de agosto.