As semelhanças entre o pitch do leitor de vinil e a tiroide são curiosas. Como o botão deste aparelho, que regula a velocidade a que um disco toca (a canção pode ficar mais rápida ou mais lenta), também esta glândula endócrina, localizada abaixo da traqueia atua na agilidade com que as nossas células — portanto, organismo — funcionam.

Como? Através da libertação de duas hormonas fundamentais para esta função (a t3 e t4), explica à MAGG Inês Sapinho, médica especialista em Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, autora do livro, editado pela Manuscrito, que acaba de chegar à livrarias, “Os Segredos da Sua Tiroide." A ocasião não podia ser mais pertinente: afinal, este sábado, 25 de maio, celebra-se o Dia Mundial da Tiroide.

“De forma simples, [as hormonas] atuam em quase todas as células do organismo. Elas regulam a velocidade do seu funcionamento. Havendo uma função normal da glândula, conseguimos equilíbrio.”

Só que os desequilíbrios na função tiroideia são muito mais comuns do que se imagina. Os números mostram-no: em Portugal, mais de um milhão de pessoas sofre de desequilíbrios na função da tiroide. Estas desregulações têm que ver tanto com uma produção excessiva (hipertiroidismo), como com uma produção deficiente (hipotiroidismo). A primeira torna o organismo demasiado rápido. A segunda demasiado lento.

Os níveis querem-se mesmo no sítio certo, até porque as hormonas t3 e t4, as que são produzidas pela glândula, atuam em muitos sistemas e funções do nosso corpo. Vejamos: influenciam o crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes; regulam os ciclos menstruais e de fertilidade; atuam na memória, na concentração, no humor e no controlo emocional; regulam a frequência cardíaca, respiratória, a pressão arterial e o funcionamento dos intestinos. A estes todos, soma-se a influência no peso. Mas poderá uma desregulação na função da tiroide justificar aumentos de peso excessivos? Poderá um problema na tiroide justificar casos de obesidade? Não. Mas já lá vamos.

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O metabolismo e a tiroide

A maior causa para a desregulação da glândula tiroideia é a doença autoimune (influenciada por fatores genéticos, ambientais e existenciais). “O corpo produz anticorpos contra vírus e bactérias. Nas doenças autoimunes produzimos anticorpos contra o próprio órgão”, explica a médica e oradora no evento dedicado a esta glândula, que vai decorrer no sábado, 25 de maio, na CUF Descobertas, a partir das 9h30.

Tanto no hipertiroidismo como no hipotiroidismo é isto que acontece. "No caso do hipertiroidismo, os anti-corpos estimulam a produção excessiva de hormonas [acelera o corpo], no hipotiroidismo [desacelera], a sua produção deficiente."

Chegámos aos quilos. A interferência da tiroide no peso relaciona-se com o facto desta glândula afetar o metabolismo. “Ao regular a velocidade do funcionamento das células, a tiroide vai regular o metabolismo e temos assim uma ação importante em todo o consumo energético do organismo”, explica. “Quando temos situações em que há uma falta de hormonas tiroideias, há um desacelerar do metabolismo com uma tendência para haver algum aumento de peso associado, de que é tão comum ouvirmos falar.”

Também pode levar à perda de peso, apesar do aumento da fome. “Quando estamos com excesso de hormonas há um aumento da velocidade a que o metabolismo trabalha, portanto há um aumento do consumo de energia, estando associado ao emagrecimento, apesar do aumento de apetite”, diz. Faz sentido: por mais que se coma, as calorias e reservas de gordura são queimadas pela aceleração do corpo.

O livro, editado pela Manuscrito, está à venda por 14,9€

Mas poderá uma alteração na tiroide justificar aumentos de peso excessivos ou até a obesidade? “Não, na grande maioria dos casos, não”, diz. Mas “é preciso ter em conta vários fatores”, ressalva, destacando os hábitos alimentares ou o nível de atividade física. Uma pessoa com hipotiroidismo que se alimente mal e que seja sedentária, irá, obviamente, aumentar mais o peso face a uma pessoa com o mesmo problema, mas que faça por ter uma rotina de exercício e dieta equilibradas.

Mas também depende da pessoa. Como salienta Inês Sapinho, “se uma pessoa de 50 quilos engordar quatro, vai notar muito mais do que uma pessoa que pesa, por exemplo, 80”, diz. O despiste é importante: “Alguém que não consegue perder peso, e que acha que está a fazer tudo o que é possível, deve procurar um médico para fazer despiste de função tiroideia.” Com alguém que está a engordar, apesar dos hábitos de vida saudáveis, o mesmo se aplica.

Na comparação entre o hipertiroidismo e o hipotiroidismo, a médica explica que não há um pior do que o outro, mas destaca o facto de o hipertiroidismo mais abrupto surgir de forma muito mais gradual e silenciosa. Com a aceleração do organismo, vem o mal-estar, a ansiedade, e, no pior dos cenários, arritmias cardíacas. “Pode tornar-se muito mais grave, nesse sentido.”

Sobre os comportamentos a adotar para a proteção da tiroide, a médica explica que não há mais nenhum segredo, exceto aquele que deve ser aplicado para a saúde no geral: uma boa alimentação, exercício físico, horas de sono suficientes, não fumar e beber álcool com moderação.

"Em situações particulares, como nas mulheres que desejam engravidar, grávidas e a amamentar, está recomendada a suplementação com iodo na ausência de patologia tiróideia."

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