Martin Thompson não vai ao supermercado sem os sacos que leva de casa, quando vai ao talho ou à peixaria pede que ponham a carne e o peixe nos tupperwares que leva consigo, trocou o champô em garrafa por champô sólido e, no carro, tem sempre uma pinça para apanhar lixo do chão sem se sujar.

São rotinas que para si já fazem parte do dia a dia mas tem noção de que essa não é a regra. "Mas pode vir a ser, uma pessoa de cada vez". À MAGG, o ativista recorda que talvez seja a sua costela nórdica — ainda que nascido em Portugal, é filho de pai britânico e mãe dinamarquesa —que o tenha, desde cedo, puxado para este lado mais ecológico de ver a vida. "Chamem-lhe sensibilidade escandinava", brinca.

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A verdade é que, ainda que tenha tido sempre alguns cuidados com a quantidade de lixo que produzia e a forma como o reciclava, foi com o nascimento da filha que tudo mudou. "Não quero que ela viva num mundo que piora a cada dia", garante, justificando esta vontade com o cenário que todos os dias encontra em Sintra, onde vive. E, na verdade, basta escrever a junção das palavras 'lixo' e 'Sintra' no Google para ter acesso a um rol de notícias sobre entulho na via pública, falhas na recolha e crimes ambientais.

"A questão aqui é que, apesar de ser um problema local, as consequências são globais. O lixo pode estar em Sintra, mas eventualmente vai parar ao mar e, além da poluição, vai ser consumido pelos peixes que nos chegam ao prato. No limite, aquele lixo vai entrar no nosso organismo", explica.

Da vontade à ação

Em Fevereiro criou um site e uma página de Facebook chamadas "Litter Hero". "A ideia é juntar os 'heróis do lixo' que andam por aí", conta. E para ser um herói neste grupo não são precisos super poderes. "Basta ter vontade de ver Portugal mais limpo".

O grupo funciona em duas frentes: a prevenção e a eliminação, ainda que a primeira seja, para Martin, a mais urgente. "Andamos constantemente a tentar resolver o problema quando o mais importante é evitá-lo", explica. Para isso, trabalham no sentido de chegar aos municípios e mesmo ao governo para que legislem no sentido da eliminação do problema. Além disso, divulgam e partilham dicas para o fim do uso de plástico descartável.

Mas também têm estratégias pensadas para quando o mal já está feito. "Denunciamos situações que encontramos na rua e criamos eventos de limpeza de zonas onde a sujidade é evidente".

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Durante o ano, organizaram limpezas de praia, limpezas de ruas, na Black Friday incentivaram ao consumo zero e limparam a zona circundante do MAAT e, para dia 22 de dezembro, está marcada uma limpeza especial de Natal.

"Este Natal não compre tanto, planeie as suas compras, compre em segunda mão ou faça os seus presentes", pode ler-se na descrição do evento, sugerindo ainda que cada um dê uma prenda a Lisboa. Neste caso, 1h30 para limpar a zona à volta dos Armazéns do Chiado.

E ainda que esta seja a última ação organizada do ano, Martin tem já um 2019 bem estruturado. Está a ser desenvolvida um aplicação que permite partilhar em tempo real as situações que encontram na rua dignas de denúncia e multiplicar os grupos locais de recolha de lixo. "Mas mais importante que tudo isso, é passar destes eventos de grupo para as ações individuais. Quero encontrar mais 'litter heroes' que andam por aí".