A curiosidade era geral quando, ainda antes do Natal, era visível a existência de uma grua junto ao Palácio da Comenda, em Setúbal. Localizado num pequeno monte, a propriedade de 600 hectares é já um dos abandonados mais emblemáticos do País e não é raro encontrar grupos de amigos a explorar o local — não só devido à sua beleza, mas também ao mito que já é indissociável do espaço.

Consta que, em meados de 1963 e imediatamente após o assassinato do presidente americano John F. Kennedy, Jacqueline Kennedy, sua mulher, chegou a Portugal com os dois filhos pequenos a convite dos condes D'Armand que, supostamente, seriam muito amigos da família.

Terá sido no Palácio da Comenda que Jacqueline e os filhos viverem após a morte do presidente, mas esta é uma teoria impossível de confirmar — e há vários especialistas com sérias dúvidas acerca da veracidade da história. No entanto, a lenda já faz parte do espaço e quem o visita não está muito preocupado em saber se é verdade ou não.

A grua junto ao Palácio da Comenda indicava que tinham começado trabalhos de recuperação do imóvel

É por isso que a presença de uma grua suscitou interesse, principalmente nas redes sociais. É que além de ser um dos locais mais visitados por turistas e pessoas que gostam de explorar locais abandonados, temia-se que o Palácio da Comenda, que está à venda há vários anos, pudesse dar origem a um novo complexo turístico em substituição de um património que também conta um bocadinho da história portuguesa.

A presença de uma grua nas imediações do espaço fazia antever que o espaço ou tinha sido comprado ou estava a sofrer obras de renovação, tendo em conta que o interior já acusa desgaste há vários anos — consequência de atos de vandalismo, mas também do tipo de material que começou a ceder ao longo dos anos, como tetos, chão ou escadarias de madeira.

A MAGG contactou a Câmara Municipal de Setúbal para obter esclarecimentos e foi Paulo Anjos, adjunto da presidência da Câmara, que revelou não ter conhecimento de quaisquer alterações na propriedade. "Nos nossos serviços ainda não deu entrada de nenhum pedido de licenciamento para qualquer alteração ou obra nesta propriedade privada. Sobre eventuais intenções para o palácio e restante propriedade, devem ser contactos os respetivos proprietários", explica.

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A propriedade, detida pela família Xavier de Lima desde meados de 2009, encontra-se listada para venda no site oficial da imobiliária Sandra Camelo Imobiliária. A MAGG tentou por diversas vezes chegar à fala com a empresa, mas não obteve quaisquer esclarecimentos até à data da publicação deste artigo.

No entanto, e após um primeiro contacto com a Câmara Municipal de Setúbal, o jornal "Setúbal Mais" avançou com a notícia em primeira mão de que o palácio e toda a herdade circundante terá sido comprada por um empresário estrangeiro pelo valor de 50 milhões de euros.

A compra foi feita à família Xavier de Lima e terá sido a própria presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, a confirmar que já se encontram a decorrer os trabalhos de recuperação — o que justifica a presença de uma grua no local.

Ao contrário do que se pensava, a mesma publicação adianta que a compra do imóvel "não se destina a turismo", mas sim para "a residência do empresário que irá ainda recuperar mais de 30 imóveis espalhados pela quinta de 600 hectares". O jornal escreve ainda que, após a aquisição, já foram colocadas placas de aviso de propriedade privada em "vários locais da Arrábida".

No entanto, esta é uma informação que não vai ao encontro das indicações cedidas pela Câmara Municipal de Setúbal à MAGG que, num primeiro contacto, negou ter conhecimento de quaisquer trabalhos de renovação ou alteração à propriedade.

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Num segundo contacto, e confrontado com a notícia do jornal "Setúbal Mais", Paulo Anjos, adjunto da presidência da Câmara, explicou à MAGG que embora não lhe seja possível "estar presente em todos os momentos em que a presidente da Câmara Municipal de Setúbal presta declarações aos jornalistas, essa informação não foi desmentida". Por isso, diz manter "as mesmas declarações", embora tenha decidido não adiantar mais informações.

Construído no início de 1900, o Palácio da Comenda foi encomendado por Aben Henri Armand, um aristocrata francês, e é uma das primeiras obras de Raul Lino — considerado por muitos um dos mais emblemáticos arquitetos portugueses do século XX.

As fotografias do Palácio da Comenda foram cedidas à MAGG por um fotógrafo ligado ao projeto GG Photography, que fotografou o espaço em meados de 2014.

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