"Bem-vindo ao Januhairy! Infelizmente, a aceitação dos pelos no corpo das mulheres ainda é uma situação difícil. Somos exibidas nos media como 'confiantes' quando as nossas pernas estão lisas, as sobrancelhas arranjadas, axilas depiladas, etc. A sociedade comporta-se como se os pelos naturais do nosso corpo fossem pouco atraentes e desagradáveis. Estamos tão habituados a remover os pelos do corpo que não estamos familiarizados com nossos eus autênticos".

Começava assim a descrição da primeira publicação feita na conta de Instagram Januhairy, a 10 de dezembro de 2018, dando início ao movimento criado por Laura Jackson, uma jovem de 22 anos, estudante de teatro.

Foi Laura Jackson quem criou o movimento Januhairy

O curso foi mesmo o responsável pelo movimento. Isto porque Laura teve de deixar crescer os pelos para uma atuação em maio de 2018 e foi nessa altura que percebeu que se sentia confortável com os pelos naturais — além do facto de não ter de passar pela dor ou incomodo causado pela depilação.

À sua volta a aceitação inicial não foi positiva, mas isso só a fez perceber que tinha de quebrar um tabu. 

Januhairy ganhou uma hashtag e milhares de fãs em todo o mundo — só a conta de Instagram tem atualmente mais de 19 mil seguidores.

O desafio começado em 2019 era simples: deixar crescer os pelos do corpo durante o mês de janeiro. Mas de janeiro, passou para fevereiro, depois para março e fez a contagem decrescente para janeiro de 2020. De um ano para o outro foram cada vez mais as mulheres que se juntaram à iniciativa, que pretende não só promover a beleza natural das mulheres, como também contribuir para fins solidários.

O projeto arrancou com o objetivo de angariar fundos para a Body Gossip — uma instituição de caridade que junta a arte à educação nas escolas e comunidades para enfrentar a forma como a sociedade pensa sobre os corpos — mas este ano o dinheiro tem um destino diferente e ligado à sustentabilidade: a organização TreeSisters.

Esta dedica-se à proteção e restauração dos habitats naturais, de forma a fazer face aos efeitos das alterações climáticas, e surge precisamente numa altura em que a Austrália está cercada pelo fogo, permitindo dar uma pequena contribuição para a proteção do ambiente. Mas até neste movimento que promove a sustentabilidade há um paralelismo com a mensagem que as mulheres querem passar: restabelecer também o habitat natural de cada mulher.

Billie. A marca que pôs (finalmente) pelos num anúncio de depilação feminina
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E como é que as mulheres podem ser solidárias? Primeiro, deixando em 2019 todas as lâminas, cera e outros métodos de depilação, depois fazendo uma doação para a TreeSisters e, por fim, partilhando fotografias da mudança. 

Estas são publicadas na conta de Instagram do movimento e há um pouco de tudo: mulheres que mostram os pelos que deixaram crescer nas axilas ou nas virilhas, modelos que também se juntaram ao movimento e partilham o resultado e mulheres que fazem do movimento algo divertido e dão alguma coloração aos pelos.

Além da luta contra os padrões irreais de beleza feminista e a vertente solidária, a campanha Januhairy tem também como objetivo partilhar histórias, como casos de meninas de apenas 10 anos vítimas de bullying por causa dos pelos no corpo, como forma de desconstruir mentalidades e promover uma aprendizagem conjunta.

"Vai deixar cair a navalha neste Januhairy?" é o mote da campanha que se repete no mês de janeiro de 2020 e dá força ao movimento.