Além de obrigar a uma correria alucinante na procura pelo presente perfeito que ficou esquecido até à véspera, o Natal é também a altura onde famílias, amigos e funcionários de empresas se juntam para jantares comemorativos de maior ou menor formalidade — mas sempre com o mesmo nível de stresse associado a toda a logística de procura de um espaço que agrade a todos. Depois de concluído esse passo, é importante confirmar a presença de todos os convidados e ter a certeza absoluta de que não faltam lugares.

Uma vez sentado à mesa, há toda uma série de regras de etiqueta que se deve respeitar, pelo menos se a ideia for passar uma boa imagem enquanto convidado ou anfitrião. Quem o diz é Vasco Ribeiro, autor do primeiro e único blogue de etiqueta em Portugal, chamado "A Hora da Etiqueta", e autor de dois livros sobre o tema.

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No seu mais recente trabalho, intitulado "Etiqueta Moderna — O Manual das Novas Boas Maneiras", Vasco pretende provar com um guia prático, capaz de responder aos desafios da sociedade moderna, que a questão da etiqueta não desapareceu e não deve ser entendida como fútil ou como sinónimo de snobismo.

Na verdade, o especialista no tema diz que estes elementos "principais de etiqueta" não passam de simples regras de boas maneiras que permitem "evitar cometer erros ou falhas" durante um qualquer evento social. No entanto, Vasco Ribeiro garante que nos jantares de Natal as regras de etiqueta mudam ligeiramente das de outros eventos.

A explicação é simples: "A época obriga os intervenientes a uma postura mais solidária na forma como se relacionam com os outros, e promove também o respeito a alguns rituais, sobretudo religiosos, agradecendo uma ceia ou participando numa reza." Há sempre a possibilidade de não participar nesses rituais e, nesses casos, "o comportamento correto deve ser sempre o de não criticar ou boicotar."

Mas há outras tão ou mais importantes.

Como se deve comportar num jantar de Natal para o qual é convidado?

A primeira regra tem que ver com a roupa. É que segundo Vasco Ribeiro, na hora de escolher o que vestir "deve-se evitar cores que, por razões várias, os anfitriões não gostem". Da mesma forma, deve ser posta de parte a hipótese de usar qualquer peça de vestuário mais desportivo.

"A quadra é, por si só, especial e tradicionalmente mais convencional. Todos nós temos uma peça de roupa mais formal que possamos levar, mesmo que tenhamos um estilo mais descontraído. Afinal, tudo o que queremos é ficar bem-vistos junto de todos os presentes no jantar", continua.

Uma vez à mesa, é imperativo que haja um esforço por estabelecer conversa com todas as pessoas já que, para o especialista, "um jantar desta natureza é um convívio especial". Mas a escolha dos temas também é importante e devem ser evitados assuntos "fraturantes ou polémicos", como partilhas de família, heranças ou perdas familiares.

Vasco Ribeiro recomenda ainda que não sejam feitas reclamações sobre a decoração da casa do anfitrião ou até mesmo da comida. "Fica mal reclamar sobre determinado tipo de vinho ou comida só porque não gostamos. Se for esse o caso, é mais fácil comer ou beber menos. Pelo menos, mantém-se a boa imagem que queremos preservar", conta.

'Etiqueta Modera — O Manual das Novas Boas Maneiras' é o novo livro de Vasco Ribeiro

E continua: "Apesar disso, deixar uma iguaria intocável no prato transmite indelicadeza. Deve ser feito um esforço para provar. Caso não esteja do agrado do convidado, é permitido perguntar se existe uma outra alternativa."

Na questão de educação e boas maneiras à mesa, o autor do blogue "A Hora da Etiqueta" não tem dúvidas de que colocar os cotovelos sobre a mesa durante a refeição é um mau hábito. "Apenas devem ser colocados sobre a mesa em momentos de pausa ou transição de pratos. Ainda na mesma linha, jamais se deve ponderar palitar os dentes enquanto estiver à mesa. Em caso de necessidade, deve ser feito na casa de banho."

No final do jantar, o convidado deve despedir-se do anfitrião e agradecer o convite. Esse agradecimento, porém, deve ser repetido no dia seguinte por chamada ou mensagem. "A ideia aqui é só esta: se fomos convidados é porque, de alguma forma, somos importantes para quem nos convidou."

Como se deve comportar num jantar de Natal no qual é o anfitrião?

Do lado do anfitrião, as regras são outras mas a ideia é também preservar a boa imagem e educação num jantar que tem tanto de tradicional como de proximidade entre os intervenientes. Para isso, Vasco Ribeiro recomenda que a receção aos convidados seja feita "com pompa e circunstância". Como? "Abrindo-lhes a porta e acompanhando-os até à mesa, porque ser chefe de cerimónias diz muito de alguém."

E continua: "Um anfitrião deve oferecer, de imediato, um aperitivo de boas-vindas aos convidados porque é a melhor forma de abrir as hostilidades e colocar todas as pessoas à vontade. Também por isso deve ser o último a sentar-se à mesa para que seja dada precedência a quem convidou."

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Isto implica também não começar uma refeição sem que todos os convidados estejam presentes à mesa. A ideia, segundo o especialista ouvido pela MAGG, é que seja dado o mesmo tratamento a todos, não dando importância a uns e desvalorizando outros.

No que toca à decoração do espaço, o blogger diz que não devem faltar os castiçais já que estão de acordo com o grau cerimonial de um jantar de Natal. "É também recomendável que seja colocada uma toalha alusiva à quadra natalícia e vários arranjos decorativos. É importante não esquecer que falamos da quadra festiva com maior tradição religiosa desde sempre", recorda.

Vasco Ribeiro, especialista em etiqueta moderna, é o autor do primeiro e único blogue sobre o tema em Portugal

Na hora de escolher as refeições, a ideia passa por ir ao encontro das opções alimentares dos convidados para evitar que alguém se sinta excluído. "Para isso é importante que tenhamos a preocupação de nos informarmos atempadamente das restrições de todos."

No final, Vasco Ribeiro remete a cordialidade e simpatia para o anfitrião. "Este deve ser a última pessoa a levantar-se e a abandonar a mesa. Caso contrário, só demonstra que nenhuma das pessoas que convidou é assim tão importante. Na despedida, deve agradecer as presenças. Afinal, todos eles podiam ter trocado aquele convite por outro", conclui.