Incêndios de grande dimensão como o que devastou a Amazónia este verão, espessas nuvens de fumo a cobrir o céu de Nova Deli, Índia, como se viu no início de novembro ou a destruição de parte das Bahamas, na América central, provocada pelo Furacão Dorian, que atingiu o arquipélago em setembro.

Este são três exemplos das consequências das alterações climáticas, que têm deixado rasto por todo o mundo. Mas há muitas mais: a poluição nos oceanos, os animais que chegam à costa das praias com uma grande quantidade de plástico no estômago, as inundações que destroem cidades, e por aqui continuávamos.

Apesar de terem um impacto diferente em cada canto do mundo, todos estes episódios são preocupantes. E essa preocupação notou-se numa experiência realizada num workshop no King's College, em Londres, revelada pela "Time". 

A instrutora pediu ao participantes que se dividissem em dois grupos: aqueles que se sentissem extremamente preocupados com as alterações climáticas deveriam ir para uma ponta da sala e aqueles que consideram estar menos preocupados deveriam ficar no centro. A instrutora acabou por ficar praticamente sozinha no centro da sala. No extremo estavam pessoas amontoadas, todas potenciais vítimas de "eco-ansiedade". 

Mas afinal em que é que isto consiste?

De acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA), de 2017, este tipo de ansiedade é no fundo um como "um medo crónico da destruição ambiental". E há várias razões para isso: uma delas está relacionada com o facto de a ONU prever que temos menos de 11 anos para evitar mudanças climáticas catastróficas.

Nos últimos tempos, e com todas as catástrofes a que temos assistido, os estudos sobre saúde mental, desde a Gronelândia, na América do Norte, à Austrália, na Oceânia, revelam que há cada vez mais pessoas a sofrer de depressão e stresse sobre o clima, a eco-ansiedade.

Talvez não estivesse familiarizado com este conceito, mas ele existe, tem crescido cada vez mais e há até uma organização americana — a The Good Grief — que, através de várias técnicas, fornece "ferramentas e encoraja a comunidade a superar a negação, a prevenir a falta de esperança, a sensação de impotência, o cansaço do ativismo e o esgotamento", refere a organização no site.

Leyla Kaya, de 29 anos, é vegana, evita viajar de avião, reduziu o lixo não reciclável e é uma das pessoas que participaram no workshop do King's College. "Tento não ser dura comigo mesma, porque sei que estou a fazer o máximo que posso", diz à revista "Time", mas acrescenta que o facto de ver pouca ação por parte dos governos e da própria sociedade é algo que a deixa assustada e triste. 

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Caroline Hickman, psicoterapeuta, refere que as "pessoas precisam de ajuda para construir a sua bagagem emocional". Continua, dizendo que "os pais têm de repensar como é que aconselham os filhos, porque não podem dizer apenas que tudo vai ficar bem".

A especialista acrescenta ainda que a eco-ansiedade não é o mesmo que ansiedade clínica, embora possa resultar, de igual forma, em problemas de saúde mental mais agravados. 

A própria consciência ecológica difere de cultura para cultura: se na Maldivas, na Ásia, a ansiedade resulta de uma ameaça eminentemente presente, diz Hickman, nos Estados Unidos "as pessoas não sabem o que fazer com o sentimento de incerteza" sobre o futuro, dados os desafios imprevisíveis da situação climática, refere Aimee Lewis-Reau, co-fundadora do projeto The Good Grief.

Essa incerteza está relacionada com o facto de nos sentirmos descontrolados, e porque "às vezes projetamos no futuro um pensamento apocalíptico", refere Hickman. E é precisamente este tipo de pensamentos que podem levar à eco-ansiedade.

Contudo, este não é um estado que abranja toda a sociedade e está até longe disso: "Todos nós caímos algures nesse espectro [de negar a realidade], acreditando que não está a acontecer nada de preocupante, ou que daqui a 10 anos todos estarão mortos", diz o neurocientista Kris De Meyer.

Este espetro torna mais difícil o trabalho dos cientistas na comunicação dos factos sobre as alterações climáticas — que não pretende instalar o pânico, mas alertar para a necessidade de a sociedade e os políticos atuarem.

Então, como tratar a eco-ansiedade?

"Primeiro, precisa de falar sobre seus sentimentos", refere Hickman, acrescentando que as pessoas que sofrem deste tipo de ansiedade devem aceitar os fatos, tal como a nossa vulnerabilidade às alterações climáticas e a falha em priorizar a ação climática.

O segundo passo é reduzir as emissões e envolver-se no ativismo, criando um sentimento de comunidade, no qual estão a trabalhar para o mesmo objetivo: salvar o Planeta.