Foi na conferência One Young World, que decorreu em Londres, no Reino Unido, que a autora e responsável pelo universo fantástico de "Harry Potter", pediu aos estudantes que parassem de se candidatar para trabalhos voluntários em orfanatos. Segundo JK Rowling, citada pelo jornal britânico "The Guardian", há cada vez mais provas de que o "turismo de orfanatos" potencia a separação das famílias e o tráfico de crianças.

"Apesar das boas intenções, a triste verdade é que visitar e voluntariar-se num orfanato potencia uma indústria que separa as crianças das famílias, colocando-as em risco de negligência e de abuso", terá dito à plateia que a escutava.

E continuou: "A institucionalização é uma das piores coisas que se pode fazer às crianças no mundo. Tem um grande efeito no seu desenvolvimento natural e deixa-as vulneráveis a situações de abuso e tráfico. E esta estatística aplica-se também àqueles orfanatos que consideramos serem bem geridos. O efeito nas crianças é pobre e é universal."

O discurso da escritora vai ao encontro daquela que tem sido a sua luta nestes últimos três anos à frente da Lumos, uma associação de caridade infantil que diz que o número elevado de voluntários e turistas em orfanatos serve de alavanca a uma indústria multimilionária — que põe crianças em risco.

De Chernobyl para Lisboa. "Quando lhe dei uma escova de dentes para a mão, ele escovou o cabelo"
De Chernobyl para Lisboa. "Quando lhe dei uma escova de dentes para a mão, ele escovou o cabelo"
Ver artigo

Aliás, segundo uma investigação da associação Lumos, crianças que estejam atualmente a viver em instituições destas têm 500 vezes mais probabilidades de se suicidar e são 40 vezes mais prováveis de virem a ter cadastro.

"Muitas dessas crianças nem são órfãs. São colocadas ali por questões diversas como casos de pobreza ou deficiência, ou para terem acesso a sistemas de educação. Muitas delas têm família que, com os devidos apoios, seriam capazes de cuidar delas", diz Alex Christopoulos, um dos responsáveis da Lumos, ao mesmo jornal.

Christopoulos lamenta ainda que o dinheiro que seja gasto na manutenção destes orfanatos quando poderia ser usado para manter as famílias unidas. "É uma tragédia saber que a quantidade de apoio internacional que é dado a estes orfanatos poderia ser usado para ajudar a manter as famílias juntas."