Light, baixo teor de açúcares, sem gorduras, sem glúten. É provável que já se tenha deixado levar por alguns destes termos no supermercado, mesmo que não seja daquelas pessoas que presta muita atenção aos rótulos. Mas se uma destas palavras estiver presente num alimento, quase que apostamos que já foi influenciado na hora da compra — nem que tenha sido pelo menos uma vez.

No entanto, muitos dos produtos que são rotulados desta forma, nem sempre representam as melhores opções. E mesmo os consumidores mais atentos, que não prescindem de ler um rótulo completo e fazer uma análise profunda a todos os valores, podem ter dificuldade em interpretá-los e a tomar as melhores decisões.

Este sistema de rotulagem avalia o produto tendo em conta o teor de ácidos gordos, açucares, sal, fibras, proteínas e calorias

Por esta razão, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO Proteste) está a promover uma petição para tornar obrigatório o Nutri-Score — uma escala com cinco cores identificadas de A  (para a melhor pontuação) a E (para a pior) — por toda a Europa.

Na estrada, vermelho é sinal para parar. O mesmo acontece com este "semáforo" nutricional: quando os rótulos apresentam esta cor salientada no logótipo retangular, o melhor será ser cauteloso e estar em alerta. Consumir sim, mas de forma muito regrada, uma vez que não está perante um produto saudável. O objetivo desta classificação é ajudar os consumidores a identificarem de forma mais fácil e clara a qualidade nutricional dos alimentos. Assim, torna-se mais fácil "reconhecer rapidamente os produtos nutricionalmente mais interessantes", explica a DECO Proteste na petição.

A cadeira de supermercados Auchan Retail Portugal já começou a aderir ao Nutri-Score  em todos os produtos de marca própria para “aumentar a transparência” e contribuir “para que os portugueses tomem decisões conscientes sobre a sua alimentação”, afirma a empresa em comunicado.

A Nestlé anunciou que vai introduzir este mesmo sistema nos seus produtos vendidos na Europa até ao final do ano. “Esperamos que o anúncio da Nestlé ajude a criar um ambiente favorável para o Nutri-Score em todos os países da Europa continental”, disse Marco Settembri, CEO da Nestlé para a Europa, Médio Oriente e Norte de África, conforme cita a revista de negócios “Grande Consumo”.

Este sistema de rotulagem avalia a qualidade nutricional de cada produto de forma geral, tendo em conta o teor de ácidos gordos, açucares, sal, fibras, proteínas e calorias.

Com carácter opcional, França, Bélgica e Espanha são os países europeus que já têm este "semáforo" em funcionamento. Também na Alemanha, Áustria, Suíça e Eslovénia alguns produtos já adotaram esta escala nutricional.

Em conjunto com sete organizações europeias de consumidores, a DECO Proteste pede à Comissão Europeia que torne esta classificação obrigatória em todas as fábricas alimentares. Para tal, é necessário recolher um milhão de assinaturas, 15.750 em Portugal, até 8 de maio de 2020.

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Na cidade francesa, o Nutri-Score foi implementado em 2016. Curiosamente, foi neste país que esta proposta surgiu por parte de uma equipa de pesquisa em nutrição pública francesa, a EREN, liderada por Serge Hercberg — um médico com especialização em epidemiologia e nutrição. E segundo um estudo de comportamento de compra em França, o Nutri-Score é considerado o método mais eficaz em comparação com outros sistemas de rotulagem simplificada.

Em Portugal, um estudo orientado pela Direção-Geral de Saúde (DGS) em 2017, revelou que cerca de 40% dos consumidores portugueses (cada 4 consumidores em 10, portanto) não compreendem a informação básica nutricional nos rótulos alimentares. A DECO Proteste alerta precisamente para esta problemática que pode estar na origem de vários problemas de excesso de peso e obesidade, uma realidade cada vez mais preocupante em Portugal e no mundo.