Os millennials, aqueles que agora são jovens adultos na casa dos 30, estão a mudar a maneira como a sociedade olha para as doenças mentais. Nunca se falou tão abertamente sobre depressão, ansiedade, burnout ou até mesmo bipolaridade, não só na esfera privada como na pública.

Nos últimos anos, personalidades como o príncipe Harry, Lady Gaga e Ellie Goulding admitiram sofrer de ataques de pânico, Dwayne Johnson confessou ter tido uma depressão e Selena Gomez usou o Instagram várias vezes para falar de ansiedade. Em Portugal, mais recentemente, Jessica Athayde revelou ter tomado anti-depressivos durante a gravidez.

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Nunca se falou de tanto de doenças mentais, é verdade, mas os números atuais também obrigam a isso: segundo a Organização Mundial de Saúde, entre 2005 e 2015 verificou-se um aumento de casos de depressão em 18%. Em Portugal, e no ano de 2015, 5,7% sofria de desordens depressivas, enquanto que 4,9% da população tinha ansiedade. Eram, respetivamente, 502.452 e 578.234 portugueses a lutar contra um problema de saúde mental.

Porque é que isto está a acontecer? Segundo o “Business Insider”, existem 11 razões para o estado da saúde mental dos millennials.

1. Número de casos de jovens diagnosticados com depressão é cada vez maior

De acordo com um estudo realizado pelo “Blue Cross Blue Shield Health Index”, o número de casos diagnosticados de depressões está a aumentar a um ritmo mais elevado nos millennials e nos adolescentes do que nas restantes gerações.

O sintoma mais verificado na maioria dos casos de depressões é a persistência de mau humor, profunda tristeza ou sentimento de desespero, segundo a Harvard Medical School.

2. Número de mortes relacionadas com drogas, álcool ou suicídio tem aumentado

Segundo o estudo sobre saúde mental da "Trust for America's Health and Well Being Trust", algumas das razões por detrás destas mortes são a maior inclinação desta geração para comportamentos de alto risco. A morte por overdose de drogas é a mais comum.

3. E isto está parcialmente relacionado com stresse financeiro

Ainda segundo o estudo da "Trust for America's Health and Well Being Trust", alguns dos problemas relacionados com drogas, álcool ou suicídio têm por base outros fatores, nomeadamente as dificuldades financeiras. Os desafios impostos aos millennials americanos, de acordo com a investigação, são elevados: hoje, eles têm de lidar com os preços elevados do mercado imobiliário, empréstimos para pagar os estudos, a necessidade de fazer seguros de saúde e os custos dos infantários.

4. Nem todos os millennials conseguem suportar os custos de um tratamento

As dificuldades financeiras estão a contribuir para o aumento de doenças mentais entre os jovens adultos, mas também são um fator importante de impedimento na procura de tratamentos. Apesar de esta ser a geração com maior predisposição para pedir ajuda, um em cada cinco casos diagnosticados com depressão grave não recorre a um profissional, segundo o estudo da "Blue Cross Blue Shield Health Index". Isto pode justificar-se pelo aumento dos custos dos seguros de saúde.

5. Os millennials sentem-se sozinhos

Segundo a revista "Time", como estes jovens tendem a casar mais tarde e estão menos ligados a comunidades políticas ou religiosas, o seu núcleo social acaba por ser menor. Sem ninguém para desabafar, acabam por isolar-se.

6. Lidam com esgotamentos dentro e fora do local de trabalho

Os casos de esgotamentos nervosos (burnout) têm aumentado, como Ivan De Luce explicou ao "Business Insider". A Organização Mundial de Saúde classificou recentemente o esgotamento nervoso como um síndrome e a doença tornou-se medicamente legítima pela primeira vez.

O esgotamento nervoso é um problema cada vez maior no mercado atual devido ao excesso de horas de trabalho e recursos e staff limitados.

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7. Os empregadores não dão apoio aos trabalhadores diagnosticados com uma doença mental

Muitos millennials afirmam que não têm direito a seguro de saúde mental no seu emprego e 45% dos supervisores não têm formação na área, como referido pelo Paychex. 56% dos empregados inquiridos avaliou a sua empresa em termos de benefícios para a saúde mental como média ou fraca.

8. Quem é que está mais vulnerável? Mulheres, comunidade LGBTQ, minorias raciais e quem não cumpre horário das 9 às 17 horas

De acordo com a Universidade de Exeter, alguns trabalhadores são mais propícios a depressões do que outros. Os millennials que trabalham fora do horário full-time numa empresa são particularmente vulneráveis à depressão. O estudo revelou que pessoas com horários irregulares e turnos noturnos são 33% mais propícios a desenvolverem doenças mentais do que a restante população.

Intimidação e bullying no trabalho também são causas de problemas de saúde mental, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Estas questões tendem a ser mais evidentes em mulheres, minorias raciais e membros da comunidade LGBTQ.

9. A discriminação com o burnout é a mais frequente

Num estudo da Kantar, foi apurado que mais de metade dos trabalhadores em todo o mundo não pensa que o seu empregador faz o suficiente para responder a preocupações relacionadas com doenças mentais.

10. Quase metade dos millennials já deixou um emprego devido a doenças mentais

Um estudo da "Mind Share Partners, SAP, and Qualtrics" revelou que a saúde mental está a tornar-se a próxima fronteira de diversidade e inclusão, e os trabalhadores querem que as empresas façam algo em relação a isso.

11. A terapia já não é um estigma por causa dos millennials 

Estes jovens veem o tratamento como uma forma de se tornarem pessoas melhores. Peggy Drexler disse num artigo para o "The Wall Street Journal" que os millennials sofrem de um desejo de serem perfeitos e é por esse motivo que muitas vezes procuram terapia.

Muitos dos millennials, assim como outras gerações, sentem-se constrangidos em falar de problemas mentais, por isso procuram a ajuda de profissionais. Mas, quando isso não é possível, tanto por constrangimentos financeiros como por vergonha, existem linhas telefónicas gratuitas e confidenciais. Estas linhas de apoio foram criadas para que as pessoas possam falar sobre os seus problemas anonimamente, e contam com a ajuda de profissionais especializados.

Em Portugal, existe a linha de apoio SOS Voz Amiga, aberta entre as 16 e as 24 horas. Se preferir, também pode enviar um email para direccaolphm@gmail.com.