Tudo começou com um estudo. Publicado em 2003 pelo centro nacional de informação biotecnológica americano, a investigação revelou que os níveis de testosterona masculinos aumentavam depois de sete dias de abstinência de ejaculação. No seguimento destes resultados, várias homens evitaram masturbar-se com o objetivo de fazer uma espécie de reset.

Em 2011, esta onda de abstinência ganhou representação virtual: o programador de redes Alexander Rhodes, de Pittsburgh, nos Estados Unidos, fundou a NoFap, uma plataforma online que representa este movimento e que pretende encorajar os utilizadores a absterem-se da masturbação. Porquê? Para combaterem o vício em pornografia, pretendendo funcionar, por isso, como um programa de saúde sexual.

NoFap é uma plataforma de compreensão da saúde sexual que ajuda os utilizadores a afastarem-se da pornografia, a melhorar as relações e a alcançar os objetivos de saúde sexual.

Aqueles que se juntarem ao movimento recebem uma vez por semana informação sobre como fazer o reboot e as notícias mais recentes relacionadas com os conteúdos da plataforma para que os utilizadores se mantenham motivados no seu objetivo. Além disso, podem aceder a um fórum da comunidade para receberem algum apoio e debater ideias.

Segundo os membros da NoFappers há mais benefícios nesta prática anti-masturbação. Como cita o jornal "The Guardian", consideram que o facto de os homens não se masturbarem pode dar origem a "superpoderes": maiores níveis de energia, maior confiança ou ainda a capacidade de curar a ansiedade social.

A plataforma ganhou força entre os homens num fórum do movimento NoFap do Reddit, onde conta já com mais de 450 mil membros, principalmente da América do Norte e do Reino Unido. Mas entre esta a comunidade também já se encontram mulheres: correspondem a uma percentagem de 5% que, apesar de ser pequena, tem muita força.

Tanto assim é que, para integrar mais as seguidoras femininas, a plataforma NoFap introduziu recentemente novidades: contratou moderadoras e criou fóruns desta espécie de reboot para as mulheres.

"Mesmo que a maior parte das respostas sejam encorajadoras e positivas, há ainda pessoas que não falam com seriedade. Para começar, elas acham que as raparigas nem sequer se masturbam", refere ao jornal britânico Kristel, youtuber de 26 anos, que faz parte da percentagem de 5% das mulheres que está no NoFap.

Kristel tem já 49 mil subscritores no YouTube e criou o canal para falar da sua vida. Começou por partilhar a história da luta contra a acne e sobre os problemas de confiança com o corpo. Porém, depois de a pele ter melhorado, de ter perdido peso e de ter mudado o cabelo, está mais positiva.

Só que Kristel acredita que estas mudanças se devem ao NoFap. Para a youtuber, foi a abstinência da masturbação que mudou completamente a sua forma física e mental.

Apesar dos benefícios, parece que vários utilizadores descobriram um lado negro na plataforma. Entre as discussões no Reddit e nos vídeos de YouTube, há vários comentários com um discurso misógino — ou seja, que revela desprezo ou preconceito contra as mulheres. É que a NoFap foi criada como um movimento focado na testosterona — e os argumentos mais frequentes referem-se ao facto de esse traço masculino tornar os homens mais atraentes para o sexo oposto, objetificando a mulher e vendo-a como um "prémio" para quem consegue ficar mais tempo sem se masturbar.

"Eu acho que o maior problema é a pornografia", refere Alana, de 29 anos, que desde 2017 faz parte do grupo de mulheres que se juntou ao movimento NoFap.

A era digital trouxe uma multiplicidade de plataformas de pornografia cujos conteúdos são acedidos de forma imediata. Só que, como aponta Alana, a pornografia em alguns casos tornou-se numa dependência e continua a ser um mundo centrado no homem, isolando-os ainda mais da sexualidade feminina. Isso acaba por contribuir para ideias estereotipadas sobre o sexo masculino e feminino.

"O novo movimento popular é onde as pessoas procuram recuperar os seus corpos separadamente da pornografia. Se a mulher apenas aprendeu como proporcionar prazer para ela própria através da alta estimulação da pornografia e mais tarde encenou isso com outras pessoas, provavelmente, não se conhecerá muito bem sexualmente", explica a terapeuta sexual Staci Spount ao jornal britânico.

"Depois de anos de abstinência, já não se trata de restrição. Agora, é algo natural para mim", conta Kristel, que conclui dizendo que não sente nenhuma necessidade de voltar a masturbar-se.