Foram precisos nove anos para que David Benioff e Daniel Brett Weiss (D.B. Weiss) sentissem o carinho e, mais tarde, também o ódio do público. É que quando, em 2009, foram anunciados como os responsáveis pela adaptação para televisão dos livros de George R.R. Martin, o facto de serem relativamente desconhecidos no meio deu-lhes alguma vantagem.

Enquanto as primeiras temporadas de "A Guerra dos Tronos" se mantiveram fiéis aos livros original, os fãs da história não tiveram dúvidas de que a dupla de escritores não podia ter sido melhor escolhida pela HBO.

Os problemas começaram quando a série foi ultrapassando os livros — o último foi publicado em 2011 e ainda faltam mais dois —, o que obrigou Benioff e Weiss a trabalhar sem texto que pudessem adaptar para televisão. As queixas não se fizeram esperar e a última temporada, que terminou em maio de 2019, foi recebida com poucos elogios e é a pior cotada de todas no agregador de críticas Rotten Tomatoes, com uma avaliação de apenas 58% em 100%.

Porque é que as cenas de "A Guerra dos Tronos" estão cada vez mais escuras?
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Mas por ter sido uma das séries mais populares da HBO, os criadores (que escreveram, realizaram e produziram vários episódios) foram ficando cada vez mais populares.

Tanto é assim que, ainda a série não tinha terminado, e já se sabia que ambos iam escrever e produzir os próximos três filmes da saga "Star Wars" — com estreias marcadas para 2022, 2024 e 2026.

Depois da Disney, foi a vez de a Netflix acordar uma colaboração milionária com os argumentistas americanos. A notícia foi avançada esta quinta-feira, 8 de agosto, pelo "The Hollywood Reporter" que diz que o acordo, de cerca de 178 milhões de euros, pressupõe a criação de novas produções para a plataforma de streaming.

Mas afinal, quem são David Benioff e Daniel Brett Weiss?

Não é possível falar de um sem falar do outro até porque, antes de "A Guerra dos Tronos", Benioff e Weiss trabalharam juntos no argumento de um filme de terror que nunca chegou a ser lançado nos cinemas.

Mas entre os dois é David Benioff, 48 anos, quem tem mais experiência no meio do cinema e da televisão, mesmo que o seu percurso tenha começado com um livro — que deu origem a um filme. Publicado em 2001, "25th Hour" conta as últimas 24 horas em liberdade de um homem que se prepara para ir para a prisão depois de ter sido condenado por tráfico de droga.

O livro foi um sucesso e captou o interesse do ator Tobey Maguire ("Homem-Aranha") e do realizador Spike Lee ("BlacKkKlansman: O Infiltrado") que, juntos, decidiram adaptar a história para o cinema com Edward Norton no papel principal.

D.B. Weiss, David Benioff, George R.R. Martin e grande parte do elenco de 'A Guerra dos Tronos' nos Emmys

Depois da estreia, em 2002, Benioff foi convidado a escrever o argumento do filme "Tróia" que o viria a associar a nomes como Wolfgang Petersen, o realizador alemão, e Brad Pitt. Mas antes de escrever para grandes produções, como "X-Men Origens: Wolverine", em 2009, o argumentista americano fez de tudo.

Foi segurança de uma discoteca em São Francisco, nos EUA, deu aulas de inglês e de wrestling em Nova Iorque e chegou a trabalhar como DJ em Wyoming. Já na universidade, ponderou uma carreira académica como investigador, mas o facto de não conseguir terminar a tese de mestrado (que tinha o romancista Samuel Beckett como foco principal) fê-lo repensar nos seus objetivos.

Apesar de ser um nome desconhecido no meio até meados de 2001, a verdade é que David Benioff vem de uma família influente. Além de ser filho de Stephen Friedman, antigo presidente da empresa de investimento Goldman Sachs, é primo afastado de Marc Benioff, co-fundador e CEO da Salesforce — a maior empresa de tecnologia de São Francisco e que, atualmente, está avaliada em cerca de 3,2 mil milhões de euros.

Embora estejam relacionados e ambos partilhem o mesmo grau de sucesso, embora em áreas diferentes, só se conheceram em 2015 durante a estreia da quinta temporada de "A Guerra dos Tronos", em 2015.

"Estou entusiasmado por finalmente poder conhecer o meu primo David Benioff na estreia de 'A Guerra dos Tronos'. Temos o mesmo tetravó", escreveu Marc Benioff na sua página oficial de Twitter. David Benioff é casado com a atriz Amanda Peet desde 2006, com quem tem três filhos.

Já a carreira de Daniel Brett Weiss, 48 anos, foi marcada por sucessivos fracassos. Depois de uma tese de mestrado focada apenas no livro "Finnegan's Wake", de James Joyce, Weiss decidiu virar-se para a ficção e escreveu um romance chamado "Lucky Wander Boy", publicado em 2003.

A história acompanha um miúdo obcecado com videojogos e a incapacidade de os catalogar num livro que decide organizar. O romance foi recebido com críticas positivas e levaram o escritor a pensar numa sequela. Depois de vários atrasos e rascunhos por completar, o segundo livrou nunca chegou a sair.

Mas 2003 foi também o ano em que Weiss conheceu Benioff e que, devido à química imediata entre os dois, o convidou para um projeto de terror chamado "The Headmaster".

D.B. Weiss na Comic-Con, no painel referente a 'A Guerra dos Tronos'

Embora não se conheçam muitos detalhes, sabe-se que o projeto nunca conseguiu o financiamento necessário e não chegou a concretizar-se.

Foi nessa altura que decidiu avançar com o argumento para a adaptação para cinema do videojogo "Halo". Ainda que tenha finalizado o projeto, em meados de 2007, o realizador Alex Garland ("Ex Machina") desistiu o projeto e, mais uma vez, Weiss ficou sem trabalho.

Mas não se ficou por aqui. Pouco tempo depois, Weiss começou a escrever o argumento daquele que viria a ser a sequela do filme "Eu Sou a Lenda", que contou com Will Smith como protagonista. Em 2011, o realizador Francis Lawrence anunciou que nunca achou que a sequela alguma vez fosse acontecer.

Foi com "A Guerra dos Tronos" que Weiss ficou conhecido e se tornou num dos argumentistas e produtores mais procurados de Hollywood — ainda que a ideia de adaptar a história de George R.R. Martin tenha partido de Benioff que, apesar de ser fã de histórias de fantasia, nunca tinha lido a saga.

Mas a autorização para adaptação teve de passar por Martin que, numa reunião com ambos, fez a pergunta que selou o negócio. O momento foi recordado pelos argumentistas numa entrevista em meados de 2013, escreve a revista "Business Insider".

"Ele perguntou-nos: 'Quem é a mãe de Jon Snow?' Tínhamos discutido isto antes e demos uma resposta que deve ter chocado. Naquele instante, o George não confirmou se tínhamos acertado ou não mas o sorriso disse tudo e soubemos, de imediato, que tínhamos passado o teste dele", recordam.

Mas apesar da petição online — assinada por quase dois milhões de pessoas — que foi posta a circular no final da série, e que tinha como objetivo pedir um reboot da temporada sem Benioff e Weiss nos cargos de argumentistas e produtores, a verdade é que a dupla americana continua a ser a mais procurada de Hollywood.

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Prova disso foi o facto de terem obrigado empresas como Amazon, Netflix e Disney a batalharam-se pelo valor mais alto para um contrato de exclusividade — ganho pela Netflix.

Segundo a "Celebrity Net Worth", David Benioff vale cerca de 16 milhões de euros contra os surpreendentes 19 milhões de euros de D.B. Weiss. Pela adaptação dos livros de ficção de George R.R. Martin, Benioff e Weiss venceram 45 Emmys e foram nomeados outras 160 vezes.

Depois dos novos contratos assinados com a Netflix, a dupla é obrigada a conciliar os próximos filmes da saga de "Star Wars" com uma série de novas produções exclusivas para a plataforma de streaming. Já a série "Confederate", que estava em produção na HBO e que contava com a presença de ambos, foi cancelada.