Muita cautela no momento de misturar medicamentos com álcool. É que há combinações que são um verdadeiro perigo para a saúde — há mesmo potencial de morte, com doses que não são assim tão elevadas.

Foi uma das conclusões a que chegámos em conversa com médica Ana Isabel Pedroso, a especialista em Medicina Interna do Hospital de Cascais, que ajudou a MAGG a esclarecer alguns mitos e verdades relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas.

Será que os homens aguentam mais do que as mulheres? Comer ajuda mesmo a “ensopar” o álcool? E o café, ajuda a fazer passar o efeito da bebedeira? Temos as respostas.

Mas antes de avançarmos, é importante ressalvar: o consumo de bebidas alcoólicas é péssimo para a saúde e não traz benefício nenhum. Até mesmo a ideia de que um copo de vinho por dia faz bem caiu por terra na altura em que foram publicados, na revista cientifica “The Lancet”, em 2018, os resultados de uma grande investigação que concluiu isso mesmo — não há nenhuma dose ou tipo de álcool livre de malefícios.

Estudo. Afinal nem um copo de vinho por dia faz bem
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1. Os homem têm mais tolerância ao álcool do que as mulheres

Verdade. “Os homens tendem a ter mais peso do que as mulheres e um metabolismo diferente”, explica a médica. Em termos de consumo, aguentam uma dosagem superior à das mulheres, portanto, sim, conseguem, em geral, suportar mais a bebida. “Falarmos de um consumo moderado ou grave num homem implica sempre uma quantidade de álcool superior.”

2. É necessária uma quantidade muito grande para, legalmente, se estar bêbado

Falso. “Não é preciso muito”, afirma Ana Isabel Pedroso. “O limite é de 0,5 gramas por litro de sangue, o que não estará muito longe de equivaler a duas cervejas”, acrescenta a especialista, que relata que vê chegarem às urgências pessoas com três gramas de alcoolemia no sangue. “Não é preciso termos muito álcool no sangue para soprarmos o balão e sermos multados.”

3. Beber café ajuda a ficar sóbrio

Falso. “É uma ilusão. O café é um estimulante e, por isso, acaba por nos deixar com mais energia, atenuando o efeito adormecido em que as pessoas ficam quando bebem”, diz a médica. “Mas o efeito do álcool não passa. Ele não desaparece do sangue por isso. Continua lá.”

Não havendo “nenhum antídoto”, a fórmula que funciona é simples: “A única coisa que funciona é água, sono e descanso.”

4. Comer antes de beber ajuda a não ficar bêbado

Sim e não. Poderá ficar bêbado, dependendo da quantidade de bebida que ingere. No entanto, caso tenha comido, a absorção do álcool no sangue é diferente. “Se houver comida no estômago, vamos absorver o álcool de forma mais lenta e gradual”, explica. “O álcool demora mais tempo a ser absorvido e, nesse sentido, a alteração [ou bebedeira] não será tão rápida.”

5. Há pessoas que aguentam melhor o álcool do que outras

Verdade. “Há pessoas que aguentam mais”, diz Ana Isabel Pedroso. “A metabolização do álcool no fígado é feita através de uma enzima que é o citocromo P450, que tem diferentes variantes genéticas, o que faz com que umas pessoas tolerem melhor do que outras.”

6. Não faz mal misturar bebidas alcoólicas com medicamentos

Falso. Muito falso. Não pense em tocar num medicamento com paracetamol depois de beber, porque tanto este fármaco como o álcool são processados no organismo pelo sistema hepático. Ou seja, nos dois casos, a metabolização estará a cargo do fígado.

Mas a coisa ainda piora: é que tanto o álcool como o paracetamol precisam da mesma enzima — o citocromo P450 — nestas diligências. Só que é impossível os dois processos decorrerem ao mesmo tempo. Resultado: estando o álcool a ser metabolizado, o paracetamol fica como que a boiar no sangue, em fila de espera. “Pode haver uma intoxicação e potencial falência hepática”, o que poderá levar à morte.

Atenção. Não precisa de uma dose de paracetamol assim tão grande para isto acontecer: dois gramas no sangue já provocam perigo de morte, quando misturado com bebidas alcoólicas.

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7. Devemos forrar o estômago com uma cerveja antes de ir começar a consumir bebidas brancas

Falso. Nós sabemos que começar a emborcar vodka logo no início da noite é puxado, mas, se o plano é esse, não vale a pena estar a beber cerveja ou vinho antes. É que só vai piorar o seu estado de ressaca no dia seguinte. “A mistura de bebidas é péssima. É melhor só beber um tipo e não andar a variar. Claro que as bebidas brancas têm um teor de álcool maior do que a cerveja, mas esta ideia de forrar o estômago não faz sentido nenhum.”

8. O álcool das bebidas brancas é igual ao da cerveja ou vinho

Verdade. “O álcool é sempre o mesmo, o teor, ou seja, quantidade presente nas bebidas, é que muda, podendo ser superior ou inferior”, explica. “Uma menor quantidade de bebida branca vai corresponder a uma maior quantidade de cerveja, naquilo que se refere à quantidade de álcool presente.”

9. O abuso de bebidas alcoólicas pode ser perigoso para o cérebro

Verdadeiro. O efeito é direto e indireto. “O álcool tem um efeito a nível das células cerebrais e pode acabar por induzir um tipo de demência, nos de pessoas que bebem muito, as que já têm doença alcoólica crónica”, diz.

“Por outro lado, estas pessoas tendem a não comer o que diminui muito a glicémia no sangue e os níveis de tiamina, a vitamina D6, dois fatores que também contribuem para a alteração das células cerebrais e para o desenvolvimento de demência. É por isso que, no caso de alcoólicos, fazemos sempre a administração endovenosa de tiamina.”

10. Podemos deixar uma pessoa muito bêbeda dormir até que o efeito passe

Verdadeiro. Mas com regras: “É seguro desde que a pessoa esteja a ser vigiada.” É que uma pessoa muito bêbeda pode estar a dormir ou pode estar com uma alteração do estado de consciência, o que faz com que neurologicamente esteja alterada. Este segundo cenário é perigoso: “A pessoa pode ter uma pneumonia por aspiração, o que faz com que o vómito suba do estômago para os pulmões, ficando estes entupidos, com potencial para obstruir as vias respiratórias”, explica. “Neste estado inconsciente, o mecanismo de vomitar não existe.”

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