O Parque das Nações — perdoem-me quem lá vive — só merece a minha visita quando há concertos no Altice Arena ou quando há um restaurante que justifique a viagem até à outra ponta da cidade.

Quando vimos que o U.M.I ficava na zona mais oriente da cidade, percebemos que se podia encaixar na segunda hipótese e decidimos dar-lhe uma hipótese. O problema foi quando escrevemos a morada no Google Maps. "Avenida do Oriente, 16" é o equivalente a ver o pontinho no mapa passar tudo o que seja zona com cobertura do metro de Lisboa e ir parar a uma área onde passa apenas um autocarro — autocarro esse que, antes de lá chegar, dá a volta à cidade.

Morada: Via do Oriente, 16D, Lisboa
Horário: 12h30-15h30- 19h-23h (fecha à segunda-feira)

Mas é de sushi que falamos e só a promessa de um bom peixe cru nos faz rumar a terra desconhecida.

E se vos disser que mal pus os pés dentro do restaurante me esqueci que estava quase fora de Lisboa? O espaço tem uma decoração simples, uma esplanada a chamar pelas noites de verão, mesas de madeira, candeeiros de origami e uma banda sonora no volume certo, algo mais difícil de acertar pelos restaurantes do que o ponto da carne ou do ovo escalfado.

Este novo restaurante de comida japonesa pertence ao grupo Superfood, detentor dos restaurantes Forneria e do M.A.R – Marisqueira, também localizados no Parque das Nações e tem como líder um chef que esteve na equipa do Aya, aquele que ainda hoje, dez anos depois de fechar, é considerado por muitos o melhor restaurante de sushi que Lisboa já teve. Logo aí, nem sequer nos damos ao trabalho de ver a carta com atenção. Deixamo-nos ir nas mãos de José Alves, um brasileiro de 55 anos que vive em Lisboa há mais de 20 e que aprendeu a dominar o peixe com os melhores dos professores.

Ainda que haja opções à carta, com sashimi, nigiris, hosomakis ou uramakis, a ideia é confiar no menu especial que, por 40€ por pessoa, promete fazer, de um só peixe, um jantar a três momentos.

O chef escolheu dourada mas o cliente pode decidir qual o peixe a ser trabalhado a partir dos que estão expostos na montra do restaurante. A partir daí, José Alves vai aproveitá-lo até ao limite. Escamas e tudo.

Aliás, as escamas aparecem logo no primeiro prato quando o chef pousa um conjunto de nigiris de dourada com topping de escamas crocantes. O Primeiro Momento é aquele dedicado ao peixe cru e, além destas peças, o peixe vem ainda parcialmente inteiro, mas com uma metade totalmente destrinchada em forma de sashimi.

O Segundo Momento deste menu especial promete tempura de peixe e vegetais e é isso que vem, numa travessa montada com a outra metade da dourada. O chef vem à mesa explicar que para equilibrar os sabores, o molho de soja é retirado da mesa, para dar lugar a um molho quente feito com uma fusão de especiarias. José aconselha a que se misture o gengibre e o nabo ralado que vêm com o prato, porque estes asiáticos sabem da coisa e há milénios que juntam estas raízes aos alimentos mais oleosos porque sabem que ajudam a dissolver gordura.

E quando achávamos que já não havia mais peixe que pudesse ser aproveitado, eis que, com a cabeça, o chef faz um Kabutoni, ou seja, uma cabeça cozida a vapor com molho de saquê.

Ainda há espaço para sobremesa, desta vez já sem dourada, mas com brownie de gengibre e uma bola de gelado preto (4€) graças às sementes de sésamo que o chef faz questão de trazer à mesa com uma informação importante: brevemente, o restaurante vai ter um espaço especial no balcão para poder servir menus para celíacos.

Neste caso não há molho de soja tradicional, a farinha da tempura tem que ser especial, mas o peixe, esse, tanto quanto sabemos, ainda não tem glúten e José vai continuar a aproveitá-lo ao máximo. É que se a expressão "fazer render o peixe" pudesse ser pessoa, era este chef com ar bonacheirão.