Quando era pequeno, David Eagleman subiu a uma casa em construção e caiu. A queda pareceu-lhe durar para sempre. “Fiquei inconsciente, mas também fiquei interessado na questão de sobre como é  que percecionamos o tempo.”

Podemos considerar que este foi o início do caminho para vir a tornar-se neurocientista. “Percebi que crescemos com a noção de que o tempo é só um rio que corre na mesma direção, num ritmo fixo, mas aquilo que sabemos é que pode ser diferente na minha cabeça e nas vossas cabeças porque, de alguma forma, o tempo é uma construção psicológica”, diz à “BBC”.

Vamos imaginar o cérebro “trancado em silêncio e na escuridão do crânio”, a tentar trabalhar aquilo que está a acontecer fora dele, a editar tudo aquilo que vemos. É aqui que começam os truques do tempo, aqueles que também nos explicam porque é que quando somos novos o tempo parece durar uma eternidade e porque é que quando somos mais velhos parece passar a correr.

Por exemplo: “A visão e a audição processam sinais a velocidades diferentes e, mesmo assim, de alguma forma, quando vemos um balão a rebentar ou alguém a bater palmas parece que a visão e audição estão sincronizados. E isso significa que o cérebro tem de estar sempre a reunir toda a informação antes de criar uma história final que sirva a perceção consciente”, explica.

Ou seja: “Estamos sempre a viver um pouco no passado — o que está a acontecer já aconteceu há cerca de meio segundo.”

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Só que a perceção do tempo muda conforme aquilo que vemos. O neurocientista dá um exemplo. “No laboratório, se, num ecrã, durante meio segundo, mostrarmos a mesma fotografia uma vez, depois outra vez (e outra vez e outra vez) e depois mostrar uma imagem diferente durante a mesma quantidade de tempo, parece que a fotografia nova, que mostrámos em último lugar, fica no ecrã mais tempo, apesar de ter estado lá o mesmo meio segundo.”

Aquilo que acontece é que, ao ver uma coisa nova, o cérebro precisa de queimar mais energia para representá-la, porque ela é desconhecida e inesperada. “Este sentimento de que as coisas estão numa espécie de slow motion é um truque da memória”, diz.

É por isso que situações de emergência parecem durar para sempre. “Quando o cérebro regista tudo, há tanta densidade de memória, que a sua única conclusão é de que aquele momento deve ter demorado imenso tempo.”, explica. “Acho que isto explica porque é que o tempo acelera conforme envelhecemos.”

Faz sentido. Quando somos novos, estamos a descobrir o mundo, a conhecer as regras, a ser permanentemente confrontados com a novidade. Assim, o cérebro recebe estímulos diversos que o obrigam a trabalhar mais e, consequentemente, o tempo demora mais a passar. Por outro lado, à medida que ficamos mais velhos, por criarmos rotinas mais repetitivas, ficamos com a impressão de que — olhando, por exemplo, para o ano anterior — o tempo passou quase como se fosse um flash.

É por isso que, conforme crescemos, o tempo passa mais a correr. Mas, conhecendo o mecanismo da coisa, é mais fácil tornar esta perceção mais demorada, desacelerando o tempo. “A maneira de fazer o tempo prolongar-se passa por procurar novidades”, sugere. “Podem começar-se com coisas simples: pôr o relógio na outra mão, lavar os dentes com a outra mão. Coisas tão simples como estas ativam o cérebro naquelas mesmas zonas, porque, ao não conseguir prever o que vai acontecer, ele tem de estar acionado.”