Quem tem filhos pequenos sabe que não é fácil lidar com as opiniões alheias. Há sempre quem saiba mais do que nós, quem tenha gozo em criticar todos as nossas escolhas, e que tenha sempre uma história de uma amiga cujo filho já dizia o abecedário de trás para a frente com 2 anos, enquanto os nossos têm sérias dificuldades em contar até cinco sem se perderem a meio.

Existem mesmo temas "quentes" entre pais e uma espécie de competição disfarçada dos adultos, que assenta na premissa de que os miúdos devem fazer tudo mais cedo: seja gatinhar, andar, falar ou largar as fraldas.

Mas em relação a este último ponto, um especialista deixa claro que a pressa pode ser uma inimiga e que as crianças devem estar preparadas para deixar as fraldas de lado, sendo completamente contraproducente forçá-las a tal. "Acima de tudo, é preciso perceber se a criança está preparada ou não para dar esse passo", conta à MAGG o pediatra Fernando Chaves.

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O especialista acredita que "não se devem forçar as crianças a largar as fraldas", e explica que há que esperar pelos sinais indiretos que estas dão para avançar para esta mudança — tudo sem dramatizar.

"Se não tirar as fraldas aos 2 anos, tira aos 3, aos 4 ou aos 5. Cada criança tem o seu tempo, a sua fase de crescimento e os pais têm de perceber isso. Muitas vezes, os adultos até estão influenciados por ideias de terceiros, por aqueles histórias de famílias fabulosas que tiraram as fraldas aos filhos com um ano de vida ou pelos avós, que insistem muito na importância de tirar as fraldas cedo, talvez influenciados por um passado em que ainda eram utilizadas fraldas de pano", explica o pediatra.

Fernando Chaves é médico pediatra no Hospital Lusíadas Lisboa

Fernando Chaves alerta que forçar uma criança a largar as fraldas sem esta estar preparada pode até ter o efeito contrário e "atrasar" o processo: "Se a criança estiver apta, este processo faz-se em duas ou três semanas. Se não estiver, pode até demorar muito mais tempo. Essa aquisição vai acontecer, se não for neste verão, será no próximo".

O verão é uma boa altura para tirar as fraldas aos seus filhos

Embora Fernando Chaves acredite que todas as crianças têm os seus tempos, o especialista recomenda que os meses mais quentes sejam a altura escolhida para tirar as fraldas aos miúdos.

"Por uma questão prática, recomendo que se faça esta mudança no verão do ano em que as crianças fazem 2 anos", explica o médico pediatra, que salienta que esta altura do ano é ideal por ser uma época em que as crianças usam pouca roupa, o que permite "um treino eficaz" de utilização do bacio ou dos redutores de sanita.

Mas os tempos das crianças não podem ser esquecidos, e os pais devem estar atentos aos sinais dos miúdos antes de dar este passo. "Com 2 anos, há crianças que já falam bastante e verbalizam que estão a fazer xixi ou cocó. Outras não se exprimem tão bem, logo os adultos devem estar atentos aos sinais de retenção", afirma o especialista.

Fernando Chaves explica que os pais devem perceber "em que altura do dia é que os miúdos têm por hábito fazer cocó e levá-los para a casa de banho; já com o xixi, vai muito por tentativa e erro de interpretação dos sinais ao longo do dia, e por perguntar à criança se quer ir à casa de banho", principalmente depois desta ingerir grandes quantidades de água.

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Mas existem sinais indiretos que são comuns a muitas crianças. "Se eles começam mais aos saltinhos, com a mão nos genitais, estes podem ser sinais de que existe alguma retenção. Mas há miúdos que têm preguiça de ir à casa de banho, ou que até sabem identificar a vontade, mas não têm noção que têm de avisar os adultos", afirma o médico pediatra.

O redutor de sanita pode ser uma melhor opção do que o bacio

Apesar de pensarmos imediatamente em comprar um bacio para os nossos filhos quando começamos a considerar a hipótese de os fazer largar as fraldas, os redutores de sanita podem ser também uma opção a considerar — e talvez até com mais benefícios.

"Pessoalmente, prefiro os redutores na retrete do que o bacio, por uma questão de higiene e também porque as crianças vão imitando os adultos ou os irmãos mais velhos", explica Fernando Chaves, que acredita que a vontade de os mais pequenos imitarem as ações das figuras de referência pode ser um incentivo para agilizar o processo de aprenderem a ir à casa de banho sozinhos.

Por falar em figuras de referência, o largar das fraldas pode ser mais fácil para crianças com irmãos mais velhos. "Os segundos ou terceiros filhos, e por aí em diante, largam as fraldas mais depressa porque vão muito por imitação e observação do que os irmãos mais velhos fazem", explica o pediatra, que também enaltece as diferenças neste processo entre rapazes e raparigas.

"Normalmente, os rapazes são mais preguiçosos do que as raparigas. Do ponto de vista cognitivo, as raparigas andam sempre à frente em termos de desenvolvimento, por isso acho que este processo é sempre mais fácil com as raparigas".

E se os redutores de sanita podem ser opções mais higiénicas, também as toalhitas humedecidas (e próprias para a utilização na zona dos genitais) são melhores para as crianças se aprenderem a limpar.

"Acho que as toalhitas são mais higiénicas para os primeiros tempos. As crianças até podem usar o papel higiénico primeiro, porque veem os adultos a fazê-lo, e o pai ou a mãe podem complementar a higiene com toalhitas. Não vamos cortar a tendência de a criança fazer as coisas sozinha, mas há que ajudar para ter a certeza de que a higiene fica bem feita", afirma Fernando Chaves.

E quando é que os bebés devem parar de usar fralda à noite?

Embora alguns pais optem por retirar as fraldas por completo de um momento para o outro, Fernando Chaves, pediatra, acredita que esta deve ser uma mudança faseada: "Numa primeira fase, mesmo quando já se retirou a fralda durante o período em que a criança está acordada, deve manter-se a utilização da fralda durante a sesta e à noite".

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Mas o pediatra alerta que os pais devem estar atentos ao estado em que a mesma fralda está quando a criança acorda: "Se o bebé acordar com as fraldas persistentemente secas, então chegou altura de as tirar. Se estão cheias e ensopadas, acho que não se deve 'pôr o carro à frente dos bois'".

O especialista recomenda que este processo seja feito por etapas, primeiro com o retirar das fraldas no período diurno, mantendo nos períodos de sono, e apenas depois retirar as fraldas por completo. "Quando a situação estiver controlada de dia, pode-se passar para uma segunda fase e retirar à hora de ir dormir", conclui Fernando Chaves.

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