Drogas, culto e viagens espaciais até Vénus. É assim que Guinevere Turner, a argumentista por detrás de "Charlie Says" (o filme sobre o infame Charles Manson) descreve uma infância perturbadora depois de a família se ter juntado à organização de Mel Lyman — um músico que, tal como Manson, criou uma seita com vários seguidores e uma ideologia bem vincada.

Em ambas as organizações, a doutrina praticada era semelhante: as "pessoas do mundo", aquelas que vivessem fora da seita, eram vistas como seres sem alma e o contacto com elas deveria ser muito limitado. Havia um medo muito forte de que essas pessoas fossem capazes de sugar a alma daquelas que viviam sobre a influência dos seus líderes.

No entanto, as semelhanças entre ambos os cultos ficam por aí. É que, apesar de em 1969, Charles Manson ter ordenado os seus seguidores a uma série de assassinatos espalhados pela região de Los Angeles, nos Estados Unidos, a doutrina de Lyman era bem mais discreta e menos violenta.

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Segundo conta Guinere ao jornal "Mirror", a mãe juntou-se à seita em meados de 1968 quando já estava grávida. À medida que foi crescendo, o contacto com a realidade exterior era muito limitado e sempre controlado.

"Não tinha contacto com ninguém fora da família e o meu mundo era habitado por pessoas que sempre conheci e que me fui habituando a ver. A minha educação foi dada em casa e durante muitos anos não vi um único médico. Além disso, a minha realidade era composta por LSD, queijo processado dado às famílias de baixo rendimento social e um autocarro renovado com as palavras 'Vénus ou Nada'", revela.

Segundo a argumentista, Mel Lyman levou os seus seguidores a acreditarem que um dia seria possível serem levados por naves espaciais até Vénus, o planeta do amor.

Como todas as crianças inseridas na organização, Guinevere viveu longe da mãe durante anos. Mas isso não a impediu de ver como o líder usava drogas pesadas para converter todos os seus seguidores — que somavam cerca de 100 adultos e 60 crianças.

Segundo conta, era prática comum ser distribuído LSD "para que todos se juntassem e se transformassem numa parte contínua de um coletivo" que continuava a crescer.

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"Se estiveres sempre nos ácidos e houver alguém que está constantemente a falar para que tu a oiças, vai chegar uma altura em que é difícil perceberes o que é real", continua.

Durante as sessões, jogava-se ainda ao jogo do copo e a argumentista recorda a quantidade de livros onde cada pessoa da família transcrevia as conversas que tinha tido com os espíritos.

"Nós, crianças, só podíamos falar com um espírito chamado Faedra. E muitas vezes juntávamo-nos todos para a evocar." Mas embora a organização nunca tenho estado envolvida em assassinatos, como a de Manson esteve, Guinevere diz não ter dúvidas de que isso seria possível tal era a admiração que todos sentiam pelo líder.

A argumentista foi expulsa da seita depois de a mãe ter fugido, mas diz guardar memórias felizes da infância

"É verdade que o Lyman nunca mandou matar ninguém. Mas se ele tivesse pedido, tenho a certeza que haveria pelo menos uma pessoa a aceitar." No entanto, houve pelo menos um assalto a um banco em 1974, quatro anos depois dos assassinatos pela família de Charles Manson — que resultou na morte de uma pessoa e na prisão de outras duas.

Foi no mesmo ano que o grupo recebeu a notícia que mais queria ouvir: estava a caminho da Terra uma nave espacial para os levar até Vénus.

"Foi-nos dito para vestirmos as nossas roupas favoritas e escolher um brinquedo para a viagem. Ficámos a noite toda na sala à espera de ouvir o som das naves". Obviamente, nunca chegaram. Mas nem isso abalou a fé dos seguidores de Lyman.

"O fracasso da profecia não fez com que os seguidores de Lyman deixassem de o seguir. Foi-nos dito que as naves não tinham chegado porque as nossas almas ainda não estavam prontas."

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Guinevere foi expulsa da seita depois da mãe ter decidido fugir. Ainda assim, diz que guarda memórias felizes dos anos em que viveu com a família.

"Aquilo que nem sempre revelo é que também houve momentos felizes. As crianças juntavam-se todas para cantar ao final do dia e ainda brincávamos na floresta à procura de cogumelos. Também tínhamos cães, cabras, vacas e galinhas", conclui.

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