No passado domingo, dia 21 de abril, aconteceu mais uma gala do programa de talentos “La Banda”, emitido da RTP. O programa tem como objetivo final formar um grupo musical com cinco membros, com rapazes e raparigas. Para isso, os jurados, Manuel Moura dos Santos, Carolina Deslandes e Miguel Cristovinho, percorrem o País de norte a sul à procura das melhores vozes.

Foi justamente numa das primeiras etapas – as audições – que o polémico Manuel Moura dos Santos proferiu declarações que não caíram bem junto do público, incluindo do apresentador da SIC, João Baião.

Depois da concorrente Filipa Barros ter cantado, o jurado perguntou: “Filipa, o que é que tu fazes?”. “Sou maquilhadora”, respondeu a concorrente. “Boa. E acho que deves continuar afincadamente a fazer isso. A tua afinação não existiu. Eu percebo o teu sonho e os teus anseios, mas é preciso fazer o mínimo e aquilo que tu fizeste não chega sequer aos mínimos. Foi muito fraco.”, continuou Moura dos Santos.

A concorrente desfez-se em lágrimas e foi confortada por Carolina Deslandes. “Calma. Isto não é o fim de nada. Se isto de deixa feliz e é uma coisa que te dá prazer fazer, continua a fazer. Mas não te deixes ficar assim, foi só um dia mau.”

Esta situação não passou despercebida a João Baião, que usou o seu Instagram pessoal para indignar-se contra a situação. “Humilhar alguém de forma arrogante em televisão, não é televisão. Vergonha”, escreveu o apresentador. Ainda acrescentou sentir-se “furioso”.

“Normalmente não comento publicamente o que quer que seja, mas ver uma jovem a chorar em frente a um País completamente indefesa deixou-me assim”, garantiu o apresentador. Apesar de não se referir ao programa “La Banda” nem ao jurado, Manuel Moura dos Santos, os seus seguidores conseguiram identificar a situação, o que levou Baião a apagar o post.

Mais do que a humilhação propriamente dita, existem duas situações diferentes que podem ajudar a explicar o que a concorrente sentiu naquele momento. Inês Vinagre, psicóloga clínica, explica à MAGG que “uma coisa é quando a pessoa está ‘preparada' para que essa situação possa acontecer, outra coisa é quando não está à espera disso e nem sequer se dispôs a tal”.

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Para a psicóloga é claro que alguém que queira ir a um concurso de televisão tem, naturalmente, as expectativas altas, caso contrário não se disponha a tal. Outras, que até possam ter demasiado talento, não vão com receio de críticas. No caso das mais corajosas, aquelas que tentam efetivamente a sua sorte, vão para o “concurso abertas a serem avaliadas”, uma vez que é um pressuposto assente que este tipo de programas existe um painel de jurados a opinar sobre o seu talento.

“O que me parece é que as pessoas que se inscrevem e que têm de ser avaliadas publicamente, têm algum resistência e capacidade de encaixe para poder receber críticas”, ao invés dos mais tímidos que, por muito talento que tenham, nem sequer conseguem inscrever-se e sujeitar-se ao escrutínio.

Os efeitos que estas críticas podem ter nos concorrentes varia de pessoa para pessoa e da própria estrutura que tem para receber a crítica: "Acredito que alguém que tenha este tipo de exposição, está um pouco mais preparado porque já estava com essa disponibilidade”.

Ainda assim, esta é uma situação que poderá deixar marcas: “Todas as experiências que são diferentes na nossa vida nos marcam, principalmente em momentos de vergonha – que hoje se sabe que têm um impacto brutal em nós e na nossa construção”, explica a psicóloga.

“Não me parece que não seja algo superável, a não ser que tenha sido vivido de uma forma quase traumática”, continua. Inês Vinagre remata com a crença de que não terá tanto que ver com a situação em si, mas da forma como é experienciada pela pessoa.