A vida é tramada por vários motivos e um deles é porque o tempo não estica. As consequências desta particularidade da existência são várias, mas vamos concentrar-nos no potencial de preguiça: assim que pomos o pé fora do escritório, a vontade de cozinhar evaporou-se e foi substituída por um intenso desejo de passar no supermercado e comprar o jantar. Para reduzir os danos colaterais, lá cai no cesto uma sopa que não dá trabalho nenhum, porque está feita.

Seria pior comprar uma pizza, claro que seria. Mas podemos considerar que é uma afronta à palavra sopa — o símbolo máximo do saudável, porque reúne legumes, água e uma data de vitaminas, minerais e antioxidantes num só prato — aquilo que as prateleiras nos vendem. Têm cor, têm sabor e até podem ter textura. Mas têm nutrientes em défice e aditivos em excesso.

E quem diz sopa, diz caldos e cremes. Na sua versão caseira, todos estes são um prato "tradicional e característico da dieta mediterrânica", como indica à MAGG a nutricionista Ana Lúcia Silva. Têm um valor nutricional elevado e um teor em calorias baixo, contribuindo "para a saúde em geral e para um peso saudável." São de fácil digestão, excelentes para iniciar uma refeição e garantir a ingestão de verduras, mas, caso sejam cozinhados com carne, peixe ou ovo, "podem ser o prato principal."

A ideia de fazer sopa é muito pior do que, de facto, fazer a sopa. É do mais simples que há: basta lavar os legumes, cortá-los, juntá-los, fervê-los e já está. Lembre-se disto da próxima vez que se sentir tentado em cair em preguiça. É que, segundo a especialista, pratos pré-confeccionados e instantâneos são de evitar. Por cinco motivos principais.

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Muito sal

Esta é uma particularidade flagrante, porque se sente. Mas que preferimos ignorar. A quantidade de sal nas sopas instantâneas é grande e o seu sabor vem, em parte, daí. "Por norma estes preparados apresentam uma quantidade de sal ou de sódio — elemento presente no sal — superiores aos desejáveis", começa por dizer. "A Organização Mundial da Saúde recomenda para adultos um consumo máximo diário de 5 gramas de sal (2 gramas de sódio), aumentado significativamente quando se opta pelo consumo de alimentos industrializados. Por cada 100 gramas de sopa instantânea ou pré-confeccionada ingerem-se, em média, 0,6 gramas de sal, bastante acima dos 0,2 gramas preconizados para a sopa."

O tipo de gordura

O azeite virgem extra é a gordura com que deve ser confecionada a sopa, porque é a fonte associada a padrões alimentares saudáveis. "Evidências científicas reconhecem os seus efeitos para a saúde, pela presença de compostos antioxidantes", diz Ana Lucia Silva. Portanto, relativamente às sopas de supermercado, caso tenham utilizado azeite (importante consultar o rótulo para perceber), este já não apresenta as características vantajosas: "Para que o azeite não perca as suas propriedades é fundamental que seja adicionado no final da confeção da sopa, para que não ultrapasse os 180ºC, o que não se pode garantir numa sopa pré-preparada."

Além disso, há o fator quantidade, que vai mexer muito com as calorias do produto final. Nunca vamos saber ao certo o peso do azeite na sopa: "Apesar de ser a gordura de eleição o seu consumo deve ser moderado pelo seu elevado valor calórico — 1 grama representa 9 calorias."

Os problemas da falta de sazonalidade e de produtos locais

"Por serem preparadas em grandes quantidades e com o objetivo de rentabilizar o produtor, os produtos utilizados na sua confeção destas sopas podem não ser sazonais, o que aumenta a quantidade de pesticidas e outros contaminantes, limitando a sustentabilidade económica local e os pequenos produtores", diz.

Sabores falsos

Sabe-lhe mesmo a sopinha, não é? Mas não é só dos ingredientes. Estas sopas tendem a ter glutamato monossódico, segundo Ana Lúcia Silva. O que é isto? "É um aditivo com o objetivo de intensificar o sabor, presente em muitos produtos industrializados, nomeadamente nas sopas instantâneas. Para além de aumentar o consumo de sal, pode induzir algumas alterações alérgicas ou intolerantes."

Qualidade nutricional fraca

"Tempo, temperatura e calor são condições fundamentais à preservação de alguns nutrientes, tais como as vitaminas", salienta. "A relação entre estes fatores e a quantidade e qualidade vitamínica é inversamente proporcional, pelo que todos eles levam à diminuição do valor nutricional. Da horta ao consumidor, as sopas pré-preparadas estão sujeitas a todas estas condições, cujo resultado é inferior ao desejável."