No dia em que se assinala o Dia Mundial da Água, a UNICEF revela que, muito mais do que a violência direta, como bombas ou balas, é a água não potável que mata o maior número de crianças em países que estão em cenários de guerra.

Um novo relatório da UNICEF, “Water Under Fire”, ou seja, “Água Debaixo de Fogo”, publicado esta sexta-feira, 22 de março concluiu que, em 16 países que se encontram em conflito de guerra prolongado, 86 mil crianças morreram de doenças relacionadas com a diarreia, enquanto que 31 mil morreram de violência.

"Os humanos podem fugir abrigar-se de balas e de bombas. Mas quando somos privados de água, acabamos desidratados ou bebemos do esgoto, vamos beber qualquer tipo de água", disse Omar El Hattab, chefe regional de água, saneamento e higiene da UNICEF ​​no Oriente Médio e Norte da África, ao jornal “The Telegraph”. "O acesso a água limpa é uma questão de vida ou morte".

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De acordo com o relatório da UNICEF, as crianças com menos de 15 anos têm cerca de três vezes mais probabilidade de morrer devido a doenças diarreicas do que por violência direta. Em 14 dos 16 países investigados – com exceção para a Síria e para a Líbia –, a água imprópria para consumo matou milhares de crianças a mais comparativamente ao cenário de guerra.

"Os serviços de água e saneamento salvam vidas, e nunca deveriam ser interrompidos. Em muitos conflitos, esses serviços são muitas vezes atacados de forma deliberada e indiscriminada. Isso viola o direito internacional humanitário sob a Convenção de Genebra e tem que acabar”, afirmou Omar El Hattab.

Segundo o documento, as crianças ainda mais jovens são as mais vulneráveis ​​à desagregação das infraestruturas de saneamento e à escassez de água. Entre 2014 e 2016 morreram 72 mil crianças com menos de 5 anos  por doenças diarreicas em zonas de guerra, o que representa um número 20 vezes superior às mortes por violência – 3.400.

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"Não é surpreendente. [As crianças] são muitas vezes as que correm um maior risco, especialmente as mais pequenas porque não acumularam imunidade a bactérias que podem causar doenças diarreicas”, referiu Tomas Jensen, assessor de medicina tropical da organização médica internacional “Médicos Sem Fronteiras” ao “The Telegraph”.

O relatório “Água Debaixo de Fogo” indica ainda que as meninas são mais afetadas do que os meninos no que diz respeito ao acesso à água e ao saneamento adequados, o que as torna mais vulneráveis ​​à violência sexual quando, por exemplo, vão recolher água.