Seja com monstros, serial killers, assombrações ou freiras demoníacas, não parece estar estabelecida a fórmula para o sucesso de um bom filme de terror. Sabe-se apenas que tem deixar o espectador desconfortável e provocar um qualquer tipo de reação em quem o vê. Um susto, de preferência. E esta é uma premissa que se aplica também aos realizadores de algumas das produções mais conhecidas, quando ainda viam o terror apenas na óptica do utilizador. É o caso de Leigh Wannell, o realizador do primeiro filme de "Saw" que, em entrevista à MAGG, revelou que em miúdo "fingia que ver filmes de terror era fixe" mas, na verdade, estava sempre "borrado de medo".

"Costumo dizer que o primeiro contacto com os filmes de terror foi uma experiência muito forçada, mas com o passar dos anos fui gostando cada vez mais", explicou na altura.

Também Jordan Peele, realizador de "Foge" — o filme que lhe valeu um Óscar de Melhor Guião Original em 2018 —, parece ter tido a mesma experiência. Segundo contou numa entrevista a Jimmy Fallon esta terça-feira, 19 de março, o realizador viveu durante a sua infância aterrorizado com o cartaz do filme "Pesadelo em Elm Street".

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"Eu via o cartaz do filme e aquilo assustava-me imenso. Acreditem, achava aquilo estupidamente assustador e arrepiou-me durante dois anos", revelou.

Terá sido pouco tempo depois que o realizador norte-americano começou a ganhar uma maior noção do que queria fazer e do que significava contar uma história de terror. Jordan Peele estava no 9.º ano quando numa visita de estudo contou uma história inventada por ele aos colegas.

Apesar de não ter revelado pormenores da história ou se serviu de base para os filmes que viria a criar, admite que foi tão assustadora que fez os amigos estremecer e perder o fôlego.

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"A melhor e maior gargalhada que alguma vez tiveste na tua vida não significa nada quando é comparada àquilo que eu senti. Quando tens um público que estremece quando ouve a tua história, é muito poderoso", explica.

"Naquela altura senti-me o Freddy Krueger [o serial killer do filme "Pesadelo em Elm Street"]. Senti que podia ser o monstro e provocar terrores noturnos. Desde então fui evoluindo do nerd pateta para um tipo complicado como Rod Sterling [criador da série 'The Twilight Zone']", continua.

A entrevista surgiu com o propósito de promover o mais recente filme do realizador, que chega esta quinta-feira, 21 de março, às salas de cinema portuguesas.

Chama-se "Nós" e é um dos mais esperados do ano, a par de "Era Uma Vez em... Hollywood" — que vai juntar Brad Pitt ("Fúria") e Leonardo DiCaprio ("A Origem") nos papéis principais.

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Tal como em "Foge", o início da história de "Nós" não parece denunciar que algo de errado se vai passar com as personagens principais. No centro da ação está a família Wilson que se desloca até à sua casa de praia para umas férias descontraídas e aparentemente normais com os amigos.

Mas um acontecimento mórbido, que tem de existir sempre neste tipo de filmes, promete marcá-los para sempre. Uma noite, quatro figuras estranhas e assustadoras perseguem os Wilson até sua casa. Chamam-se Amarrados e são como um espécie de clone de cada membro da família que além de se parecerem a eles — agem e pensam exatamente da mesma forma.

Numa questão de segundos, aquelas figuras assustadoras perseguem e confrontam a família até à morte num conflito que, segundo Jordan Peele, tem como objetivo revelar "as verdades mais escondidas e os medos que temos de enfrentar enquanto sociedade."

E o que diz a crítica?

Apesar de ainda não se ter estreado, "Nós" conta já com uma pontuação de 7.1/10 no IMDb e de 99% no Rotten Tomatoes. Ainda que estes valores estejam sujeitos a alterações após a estreia do filme, a crítica parece satisfeita com a nova produção do realizador.

A revista "Vulture" escreve que, apesar de por vezes parecer repetitivo, o filme "demonstra a capacidade de Peele em entender que grandes histórias de terror precisam sempre de metáforas incríveis."

Já a plataforma "Screen Rant" defende que, apesar das semelhanças com "Foge", o realizador mostrou maturidade "ao não se desleixar quando o filme ganha elementos de ação, fundamentais na criação de momentos interessantes e arrepiantes na história."

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A revista "Variety" também se desfez em elogios e recomenda que os espectadores vejam o filme sem pesquisar nada sobre as personagens ou os seus desfechos.

"Quanto menos o espectador souber o que vai acontecer melhor o filme funciona já que utiliza várias combinações presentes na imaginação do realizador que, quando combinadas com a nossa consciência, sugere um clima de terror bem mais vasto e opressivo", lê-se na mesma publicação.

O jornal britânico "The Guardian" atribuiu quatro, em cinco, estrelas ao filme e considera que "a utilização de sósias ou clones por Jordan Peele funciona como sátira ao sonho americano" e destaca a performance "magnífica" de Lupita Nyong'o — que, em 2014, ganhou o Óscar de Melhor Atriz Secundária pela sua interpretação em "12 Anos Escravo".

No elenco estão ainda outros atores relevantes como Elisabeth Moss, conhecida pelo seus papéis em séries tão diferentes como "Mad Men" e "The Handmaid's Tale"Winston Duke ("Black Panther") e Tim Heidecker ("The Comedy")