Angus Sinclair tinha apenas 16 anos quando começou a envolver-se em crimes violentos. Nas décadas que se seguiram, o escocês violou e matou dezenas de pessoas, incluindo crianças e jovens. Esta segunda-feira, 11 de março, um dos mais conhecidos serial killers do mundo morreu aos 73 anos, numa prisão escocesa. Teria 106 anos quando estivesse elegível para uma possível saída da prisão, em liberdade condicional.

Sinclair sofreu uma série de derrames nos últimos anos e, de acordo com o "The Sun", os presos de Glenochil iniciaram, na semana passada, um livro de apostas sobre quando é que morreria, depois de ter sido transferido para a ala médica do corredor da morte, na prisão. Nos seus últimos dias, Sinclair só podia ingerir "refeições líquidas".

O primeiro crime de Angus Sinclair

A onda de crimes começou em 1961, e a primeira  vítima de Sinclair tinha apenas 8 anos. Catherine Reehill foi atraída até casa do homicida que, depois de a violar, estrangulou-a e atirou o seu corpo da varanda. Ainda se tentou livrar da situação, aparecendo no local do crime a tentar convencer as testemunhas de que a criança tinha caído. No entanto acabou por ser preso, aos 16 anos, e admitiu o homicídio. A pena de prisão ditava dez anos, porém só esteve preso seis.

Christine Eadie e  Helen Scott (1977)

Livre novamente, aquele que podia ser o início de uma nova vida, sem mais crimes, acabou por se transformar num pesadelo para muitas mulheres e crianças. Angus Sinclair tornou-se num assassino em série que embarcou num caminho de violações e homicídios que durou até ao início dos anos 80.

Parece inacreditável, mas durante estes anos, chegou a casar com uma enfermeira, Sarah Hamilton, com quem teve um filho.

Os homicídios de World's End estiveram por resolver durante mais de 30 anos

O caso mais conhecido foi sem sombra de dúvida o que aconteceu em 1977. Nesse ano, o homem violou e matou duas adolescentes de 17 anos, Christine Eadie e Helen Scott. As jovens foram amarradas e estranguladas pelo homicida, com a própria roupa interior.

Bar escocês onde as adolescentes foram vistas pela última vez

O crime ficou conhecido como os homicídios de World's End, uma vez que as raparigas foram vistas pela última vez a sair de um pub com este mesmo nome. Durante 30 anos, a identidade do homicida permaneceu em mistério. Tudo mudou quando, em 2007, novas provas de ADN o associaram ao caso — a ele e ao cunhado, Gordon Hamilton, que morreu em 1996. No entanto, o juiz decidiu que a acusação era "muito fraca", e Sinclair acabou absolvido.

Após a alteração da lei de dupla penalização escocesa, que impedia que um homem absolvido fosse outra vez julgado pelo caso, o serial killer voltou a tribunal em outubro de 2014. Foi finalmente condenado por ambos os assassinatos, a 14 de novembro de 2014. O homicida teria de cumprir, no mínimo, 37 anos de prisão, a mais longa pena alguma vez aplicada num tribunal escocês.

O juiz que o condenou descreveu Angus Sinclair como um predador perigoso, capaz de mergulhar nas profundezas da depravação, dizendo que as palavras "mau" e "monstro" eram insuficientes para ele.

1959: Rouba a caixa do ofertório da igreja de Glasgow
1959: Acusado de tentar invadir propriedade privada
1961: Condenado a três anos de liberdade condicional por comportamentos impróprios com uma criança de 8 anos
1961: Condenado a dez anos de prisão pela morte de Catherine Reehill. Cumpre seis
1970: Casa-se com a enfermeira estagiária Sarah Hamilton
1972: Tem um filho
1977: Comete os crimes de World’s End
1978: Assassina Mary Gallacher, de 17 anos
1980: Posse ilegal de um revólver
1982: Declara-se culpado pela violação e agressão sexual de 11 crianças. Condenado a prisão perpétua
2000: Revisão do caso de Mary Gallacher
2001: Condenado pela morte de Mary Gallacher
2007: Julgamento pelos assassinatos de Christine Eadie e Helen Scott
2014: Condenado pelas mortes de Christine Eadie e Helen Scott

O caso World's End, foi durante décadas, um dos maiores crimes não resolvidos da Escócia. O advogado Frank Mulholland, promotor do julgamento, disse que os milhares de polícias que trabalharam no caso ao longo dos anos "nunca diminuíram os esforços para levar o assassino das meninas à justiça".

Sinclair ainda lançou uma tentativa de reduzir o prazo para os crimes, mas foi rejeitada pelos juízes do tribunal de recurso. Numa sentença escrita, proferida em março de 2016, sobre os assassinatos de 1977, pode ler-se: “Esses crimes aterradores demonstraram uma capacidade imensurável para o mal, a depravação e o sadismo. O sofrimento das vítimas e das suas famílias é, na nossa opinião, incalculável".

Outros crimes de Sinclair

O assassinato das duas adolescentes foi o caso mais mediático, mas esteve longe de ser o único crime de Sinclair — e condenação. Cinco anos depois de cometer este crime, em 1982, o homem declarou-se culpado de 11 de um total de 13 acusações de violação e abuso a crianças, que tinham idades entre os 6 e os 14 anos.

Com a evolução da tecnologia, e sobretudo das técnicas de ADN, a polícia escocesa conseguiu ligar o serial killer a outros casos. Em junho de 2001, ainda na prisão, Sinclair voltou a julgamento pelo assassinato de Mary Gallacher, de 17 anos, que aconteceu em 1978. A adolescente foi arrastada para os arbustos, agredida sexualmente e morta com um corte fatal na garganta.

Ainda hoje a polícia acredita que Angus Sinclair pode ter sido responsável por outros homicídios cometidos nos anos 70.