Na década de 90 o coração e o cérebro eram os reis. Aqui há uns anos os intestinos ganharam protagonismo. Agora, com o livro de Joana Kouprianoff, temos novo órgão no pódio: o fígado.

“Tem mais de 500 funções”, diz-nos a naturopata, com mestrado em nutrição clínica, Joana Kouprianoff, autora do livro, que chegou às bancas em março “Fígado Feliz”. Mas entre estas centenas, a especialista destaca quatro. Este órgão consegue transformar nutrientes e armazená-los, como é o caso da vitamina B12 ou do ferro. É ainda fundamental na desagregação e eliminação de toxinas (o que faz com que seja um dos responsáveis principais na função natural da desintoxicação), e, por último, “é capaz de produzir nutrientes”, através da criação do colesterol, das hormonas sexuais ou até da bílis.”

No fundo, o fígado é o órgão que limpa o organismo dos “despojos e guerra” com que o sujamos, depois de cometermos uma série de disparates. Sempre que bebemos, fumamos, comemos mal, dormimos pouco, estamos sob stresse e não nos mexemos, estamos a sobrecarregá-lo com muito trabalho, porque há mais toxinas para degradar e eliminar.

Sabemos que o álcool é grande inimigo deste órgão — ligação comprovada à cirrose e cancro hepáticos —, mas há que valorizar os efeitos do stresse. “Começamos a produzir adrenalina e cortisol, o que desgasta o corpo. Uma coisa que devia ser pontual, torna-se a regra e, continuadamente, obriga o fígado a libertar mais glicose”, explica. “Além disso, depois da festa, há vestígios do cortisol, que o fígado tem de limpar.”

O livro, editado pela Manuscrito, está á venda por 15,5€

O sono está ligado ao stresse. Como estamos mais agitados, dormimos pior. Problema: “Cada órgão fica mais ativo em determinadas horas. A medicina chinesa já nos diz há milénios que o fígado está mais ativo às duas e três da manhã. Mas se estivermos acordados, o cérebro é que leva a maior parte da nossa energia e os processos que ele tinha de cumprir ficam comprometidos.”

No livro, editado pela Manuscrito, Joana Kouprianoff deixa vários tipos de plano detox para o fígado, com receitas incluídas. Há de três, sete ou 21 dias, consoante a necessidade, que é avaliada logo ao início, com o questionário disponibilizado nas primeiras páginas. Mas a chegada da primavera é um tempo especial. “Uma pessoa saudável deveria fazer o de 21 dias todas as primaveras, porque é a estação do ano mais ligada ao fígado: há mais pólens, o sistema imunitário tem de funcionar melhor e porque acabámos de sair de uma estação do ano com mais inatividade e toxinas acumuladas.”

Mas além disso, há hábitos que pode adotar diariamente para colmatar este esforço excessivo a que o organismo (em especial o fígado) está constantemente a ser submetido.

Beber um litro de água e meia a dois litros

Nós sabemos. Esta recomendação está em todas. Mas não é por acaso, portanto não a desvalorize. No caso do fígado, é fácil de entender. “Tem a ver com o ajudar o fígado a fazer a sua limpeza”, diz. “Se não ingerirmos quase líquidos, a filtragem e excreção das tóxicas não é feita.” Para que o despojos saiam do nosso corpo, é importante que haja uma circulação fluida e constantemente renovada, fornecida pela água. Por isso, “quanto mais, melhor”, sendo que o sinal de que está a hidratar-se como o suposto está na urina, que deve ser amarela translúcida, muito clara.

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Comer uma colher de sopa de sementes moídas

São ricas em gorduras essenciais, minerais, vitaminas, proteína e fibra. Quando aumentamos estes nutrientes, “ajudamos o fígado na produção do colesterol [bom]” e estamos a saciar-nos com substâncias saudáveis, o que é fundamental para não comermos coisas que nos façam mal, ricas em toxinas e que sobrecarregam o fígado. A esta função, junta-se o papel da fibra, que o “ajuda o intestino na excreção das toxinas.”

Os superverdes, com a spirulina e aipo

Com uma mão cheia de espinafres baby, agrião, coentros e manjericão — aos quais deve juntar a spirulina e o aipo — consegue um copo ou uma pasta de superverdes. “A spirulina tem a capacidade de ajudar o corpo a eliminar os metais pesados, cada vez mais presentes nos mares, oceanos e rios, que ingerimos, através do consumo dos peixes, sobretudo dos grandes como o salmão e o atum”, explica. “O organismo não tem a capacidade para se livrar deles sozinhos.” O aipo entra no jogo porque é “diurético” e, portanto, ajuda na excreção das toxinas.

Ingerir uma dose de vegetais crucíferos

Falamos de brócolos, couves ou até maca. “Eles vão proteger o fígado indiretamente, porque fortalecem o sistema imunitário, que, a funcionar bem, não o sobrecarrega”, diz. A sugestão é que os ingira quase crus, cozidos a vapor, ou salteadas com pouco azeite ou água. Se forem biológicos, melhor ainda.

Joana Koupranoff, 34 anos, é formada em naturopatia, tem o mestrado em Nutrição Clínica e é autora do blogue 'With You We Change'

Coma um dente de alho e uma cebola pequena

Grande desafio: o melhor é que os consuma crus, o que, nós sabemos, não é para todos. A ligação ao fígado “tem a ver com o enxofre, que estimula a produção de aminoácidos, essenciais na função da limpeza e eliminação das toxinas.”

Sumos verdes

Substitua o pequeno-almoço por isto: uma peça de fruta, um vegetal de folha verde, água, gengibre e uma erva aromática. Pode ainda acrescentar as sementes moídas do ponto anterior.

Comer mirtilos

“São o fruto vermelho com mais antioxidantes”, diz. Os antioxidantes são peças importantes na limpeza dos elementos tóxicos do organismo, ajudando o fígado quando há demasiado para limpar. Caso as toxinas fiquem lá, é possível que se armazenem na gordura. “Por isso é que um processo de emagrecimento pode necessitar de um suporte com estes cuidado: há mais toxinas na corrente sanguínea” — que, por sua vez, vêm atrasar o processo de perda de peso, porque tornam o metabolismo mais lento.