Rami Malek tornou-se no primeiro ator de origem árabe a vencer o Óscar de Melhor Ator pela sua interpretação de Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody", um filme de tributo aos Queen e ao vocalista da banda.

"Há uma razão pela qual é difícil nomear os atores de Hollywood com a herança do Médio Oriente: conciliar a identidade do Médio Oriente com o trabalho em Hollywood vem com uma sucessão de obstáculos, desvantagens e compromissos. No Ocidente, os atores de descendência do Médio Oriente geralmente têm duas opções: ou são ignorados ou são estereotipados", pode ler-se numa entrevista feita ao ator pela revista "GQ".

Rami Malek no papel de Freddie Mercury, no filme 'Bohemian Rhapsody'

Desta vez foi diferente e, aos 37 anos, Rami Malek arrecadou mesmo o galardão de Melhor Ator, naqueles que são considerados os principais prémios do cinema norte-americano.

Quando questionado sobre o dia em que foi abordado para fazer o papel de Freddie Mercury, Rami Malek assumiu-se como um não-cantor, um não-dançarino e um não-músico. “Eu disse: 'Olha, eu não toco piano, não canto, não me considero um dançarino de modo algum'”, explica em entrevista à revista "GQ". Foi então que decidiu viajar para Londres onde passou a ter aulas de canto, de piano e de guitarra.

Mas quem é, afinal, Rami Malek? Nasceu em Los Angeles, no estado da Califórnia, nos EUA, em 1981. É filho de uma família de imigrantes egípcios do Cairo que foi para os EUA com a finalidade de construir um nova vida no "sonho americano". Decorria a década de 70. Rami Malek foi criado segundo a igreja ortodoxa copta (uma igreja cristã ortodoxa oriental presente no Egito, em África e no Médio Oriente). Rami Malek falou a língua árabe até aos 4 anos, mas a partir daí foi o inglês que passou a dominar e a língua materna ficou "congelada".

Antes de 'Bohemian Rhapsody', Rami Malek era conhecido pelo papel principal na série televisiva americana 'Mr. Robot'

Cresceu numa comunidade multicultural e diversa em San Fernando Valley, na Califórnia. O pai, Said Malek, começou a trabalhar como vendedor porta a porta e a mãe, Nelly Abdel-Malek, como contabilista. Rami Malek tem um irmão gémeo chamado Sami, que é professor. Tem ainda uma irmã mais velha, a Yasmine, que é médica.

Rami Malek estudou teatro na Universidade de Evansville, no estado do Indiana. Segundo o jornal espanhol "El Mundo", não foi fácil convencer os pais de que queria ser ator. "Os meus pais queriam que eu fosse médico ou advogado. Foi difícil porque a carreira de ator não é considerada a melhor [profissão]".

Rami Malek com o irmão gémeo Sami Malek

O ator iniciou a sua carreira em 2004, no videojogo "Halo 2", no qual deu voz mas não foi creditado. Em 2006 foi um faraó no filme "À Noite, no Museu", e que é considerado o seu primeiro papel importante. Em 2010 interpretou um terrorista na série "24" e em 2012 participou na saga "Crepúsculo — Amanhecer parte 2" onde interpretava um vampiro egípcio. Antes de "Bohemian Rhapsody", Rami Malek era conhecido pelo papel principal na série televisiva americana "Mr. Robot". Mas foi com a interpretação de Freddie Mercury que Rami Malek chegou ao estrelato.

"Durante muito tempo pensei, 'não vou conseguir, não há forma de ter um papel principal numa série de televisão. O ecrã era dominada por atores que não se pareciam fisicamente comigo ou tinham nomes como o meu'", admitiu o ator numa entrevista, escreve o "El Mundo".

Óscares. "Green Book", "Bohemian Rapsody" e "Roma" foram os vencedores da noite
Óscares. "Green Book", "Bohemian Rapsody" e "Roma" foram os vencedores da noite
Ver artigo

O pai de Rami Malek atribuía muita importância à preservação das origens egípcias, uma vez que a assimilação da cultura norte-americana era inevitável. "Foi: 'Não estás a perder essas raízes. Isso é muito importante para nós. Não podes comprometer quem somos e tornares-te americanizado'. Isto era algo sobre o qual o meu pai tinha muita consciência”, conta Rami Malek, em entrevista à revista "GQ".

"(...) Sou egípcio. Cresci a ouvir música egípcia. Amei Umm Kulthum. Amei Omar Sharif. Estas são as minhas pessoas. Sinto-me tão maravilhosamente ligado à cultura e aos seres humanos que lá existem. Reconheço que tenho uma experiência diferente, mas estou tão enamorado e entrelaçado com a cultura egípcia. É o tecido de quem eu sou", disse.