"Rita, preciso que vás comprar uvas ao Continente". As palavras da minha editora apanharam-me de surpresa. Como assim comprar uvas? Porquê? Para quê? "Há um vídeo viral a circular de uma uva a pegar fogo no microondas. Temos de testar".

É verdade, a última sensação da internet são uvas a pegar fogo no microondas. O método é simples: primeiro é preciso cortar a fruta ao meio, sem a separar totalmente, de maneira a ficar unida pelas extremidades. Depois, coloca-se a uva no meio do microondas, a aquecer durante cinco segundos. Por um momento glorioso, as metades da uva vão produzir uma bola de fogo.

O físico Stephen Bosi tentou fazer a experiência em 2011, para o canal do YouTube Veritasium, na sala de descanso do departamento de física da Universidade de Sidney. Na câmara, juntamente com o apresentador do programa, os dois ficaram surpreendidos com o brilho da uva.

Depois de comprar as uvas — optei pelas brancas sem grainha —, fui para a copa da MAGG onde há três microondas. Testei em dois: no primeiro a uva derreteu, no segundo viu-se uma chama. Não era mentira: tinha conseguido pegar fogo a uma uva num microondas.

Não sei porque é que no outro microondas não funcionou — talvez tenha sido por causa das diferenças de potência. O que é certo é que conseguimos ver a uva a pegar fogo e o espetáculo é no mínimo surpreendente.

Apesar de haver dezenas de experiências destas no YouTube, ninguém sabia ao certo porque é que isto acontecia. As explicações mais populares diziam que as metades da uva agem como uma antena, e que, de alguma forma, direcionam as micro ondas para a pequena ponta de pele que liga a uva, dando origem a uma chama. No entanto, eram apenas opiniões — o assunto ainda não tinha sido verdadeiramente estudado.

Mas afinal porque é que a uva pega fogo?

Agora foi: depois de várias tentativas, físicos do Canadá podem ter finalmente descoberto a razão porque isto acontece. A notícia, lançada pela "Wired", explica que, segundo os físicos, a verdade é que as pessoas deixam distrair-se pela bola de fogo, que é "emocionante e memorável", mas "de interesse secundário", escreveram num artigo publicado na revista "Proceedings", da Academia Nacional de Ciências, na segunda-feira, 18 de fevereiro.

A bola de fogo é apenas uma bolha bonita e quente de elétrons e íons soltos, conhecidos como plasma. A ciência mais interessante está contida nos passos que levam ao plasma, dizem os físicos. A verdadeira questão é como é que a uva ficou suficientemente quente para produzir o plasma em primeiro lugar.

Para descobrir isso, os físicos aceleraram o seu microondas, uva após uva, e fizeram réplicas de uvas com contas de plástico embebidas em água. Chegaram até a substituir a porta do microondas por uma malha mais transparente, para que pudessem filmar o processo com mais clareza.

Os físicos concluíram que a uva é mais parecida com um trombone do que com uma antena. Quando tocamos trombone, empurramos o ar que vibra para dentro dele. O trombone só sustenta vibrações de um determinado comprimento de onda — a nota musical que ouvimos — dependendo de onde posicionamos o instrumento. Simplificando, o trombone amplifica as ondas estacionárias e silencia todas as outras.

A uva tem o tamanho perfeito para amplificar as micro ondas que os nossos eletrodomésticos irradiam. O aparelho empurra essas ondas para as duas metades da uva, e as ondas saltam e concentram energia num ponto da pele do bago. Ambas as metades da uva passam a concentrar a energia no mesmo ponto minúsculo.

Essa energia intensa empurra os átomos e as moléculas naquele local, aquecendo-os de tal forma que eles não conseguem segurar mais os elétrons, o que os transforma num plasma — e causam uma explosão ou bola de fogo. Está explicado.

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