A manhã de 14 de fevereiro de 1929, em Chicago, Estados Unidos, tinha tudo para ser como todas as outras: tranquila e repleta de celebrações do Dia dos Namorados. Só que depressa terminou em violência, morte e sangue. Na altura, a Lei Seca estava em vigor e proibia o fabrico e o comércio de álcool em todo o território norte-americano, levando várias organizações criminosas a um conflito constante pelo domínio de várias regiões através da importação ilegal de bebidas alcoólicas.

O culminar de uma guerra que já se arrastava desde 1925 terminou com a morte de sete pessoas, num evento que ainda hoje é conhecido como o Massacre de São Valentim.

No centro do conflito estavam duas organizações criminosas rivais, que depressa se estabeleceram como as mais importantes em Chicago. De um lado estava a máfia controlada por George Moran e, do outro, os homens implacáveis e violentos de Al Capone — aquele que foi considerado o inimigo público número um pela imprensa local.

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Durante vários anos, os dois grupos atacaram-se mutuamente na tentativa de consolidar o domínio de um negócio que, desde muito cedo, se mostrou rentável e livre de risco. É que o álcool ilegal, apesar de dispendioso, era procurado por muitos: desde cidadãos comuns, a políticos e membros da elite norte-americana.

O ataque foi premeditado ao pormenor e foram vários os agentes da polícia suspeitos do massacre

Durante um conflito que registou dezenas de mortes, Al Capone e George Moran sobreviverem a várias tentativas de assassinato, mesmo às mais improváveis e difíceis de se escapar.

Em meados de 1928, Moran ordenou que os seus homens se distribuíssem por seis carros de maneira a preparar um atentado contra Capone, que estaria hospedado num hotel em Illinois, no Estados Unidos. Durante o ataque, foram disparadas mais do que mil balas e todas elas falharam o alvo principal.

Tudo mudou quando, em consequência do falhanço, foi anunciado um valor no submundo do crime pela cabeça de Al Capone — que chegou a valer o equivalente hoje a cerca de 629 mil euros. Cansado do conflito constante, o mafioso engendrou uma forma de eliminar, por completo, a organização de George Moran. E fê-lo a 14 de fevereiro de 1929, ordenando que todos os seus homens se fizessem passar por agentes da polícia e invadissem o território controlado pela organização rival.

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O dia do Massacre de São Valentim

Nesse dia, George Moran esperava um carregamento de álcool. Assim que viu a polícia a chegar, assumiu que grande parte da sua organização iria ser presa, mas nem isso era um problema. Afinal de contas, havia dinheiro suficiente para subornos de todos os tipos, capazes de levar homens incorruptíveis a fechar os olhos a certos crimes.

Mas nada correu como Moran previa. Os agentes eram, na verdade, homens de Capone disfarçados que, depois de ordenarem que os mafiosos rivais se encostassem à parede, dispararam para matar.

As vítimas foram sete mafiosos — os mais importantes da organização rival de Al Capone

As vítimas foram os sete melhores assassinos de Moran, como Frank Gusenberg que, quando foi abordado pela polícia verdadeira, ainda estaria vivo. Apesar disso, decidiu respeitar o código de silêncio promovido pela máfia e recusou revelar à polícia quem o tinha atacado.

"Ninguém disparou sobre mim", terá dito enquanto se esvaía em sangue em Lincoln Park, em Chicago, o local do ataque escolhido pela máfia de Al Capone.

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Embora tenha sido o fim do conflito entre as duas organizações, já que Moran perdeu grande parte dos seus homens, marcou também o início do declínio de Al Capone que era visto, pela polícia e pelos políticos de Chicago, como o alvo mais importante a abater na luta contra o crime.

"De costa a costa, as pessoas começaram a chegar à conclusão de que a violência era demasiada para aguentar", escreveu Jonathan Eig, o biógrafo de Al Capone, no livro "Get Capone", lançado em 2010. E a verdade é que, em 1931, o mafioso foi preso e a sua organização, apesar de ainda ativa, foi perdendo influência e poder nas ruas de Chicago.