Ethan Lindenberger chegou aos 18 anos sem nunca ter sido vacinado, já que os seus pais seguiam a corrente de pessoas anti-vacinação. Durante anos, o adolescente de Norwalk, no Ohio, Estados Unidos, tentou argumentar com os pais, mas sem sucesso. Recentemente, procurou ajuda no site Reddit, pedindo conselhos aos utilizadores sobre a melhor forma de se proteger de doenças. Segundo o "The Washington Post", Ethan queria ser vacinado, mas não sabia o que fazer. Antes do Dia de Ação de Graças, Lindenberger escreveu: “Por causa das crenças deles (os pais), nunca fui vacinado contra nada. Só Deus sabe como ainda estou vivo". Fez ainda um vídeo, exclusivo para o "The Washington Post" sobre o assunto.

Ethan Lindenberger tem 18 anos e desafiou a decisão dos pais de não o vacinarem

Os movimentos anti-vacinação continuam a ganhar seguidores um pouco por todo o mundo, mas também há cada vez mais filhos que discordam da posição dos pais, muito devido àquilo que vão lendo na internet, e que começam a procurar os seus próprios tratamentos, desafiando a família.

“Esta geração de crianças não vacinadas, que está a amadurecer, examina a ciência e quer proteger-se”, explicou Allison Winnike, presidente e diretora executiva do "Imunization Partnership", um grupo de defesa de vacinas, sem fins lucrativos, sediado no Texas. A presidente do grupo disse ainda que "os movimentos de anti-vacinação se espalharam após a publicação de um estudo de 1998, ligando algumas imunizações ao autismo".

Pelo menos três adolescentes disseram recentemente no Reddit que têm um problema comum: os pais são totalmente contra a vacinação e temem pela sua saúde se não agirem

A publicação de Ethan Lindenberger registou mais de 1200 comentários, incluindo um de alguém que se identificou como enfermeira, e forneceu informações detalhadas sobre como navegar no sistema de saúde.

Ao "The Washington Post" o adolescente disse que a tensão com as vacinas começou anos antes, depois de ter começado a notar que a mãe publicava vídeos anti-vacinação nas redes sociais. Depois disso, Lindenberger começou a ler artigos científicos e jornais. Colocou o contacto dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças no telefone em cima da mesa de jantar, esperando que sua mãe cedesse e fizesse com que ele e seus quatro irmãos mais novos — agora com 16, 14, 5 e 2 anos — fossem vacinados.

A mãe, Jill Wheeler, resistiu, afirmando que as vacinas são um risco para a saúde. Allison Winnike explicou que diferentes leis estaduais afetam a forma como os menores podem seguir os seus próprios interesses médicos. A maioria dos estados não permite que menores de 18 anos procurem cuidados médicos, sem a aprovação dos responsáveis, incluindo vacinas.

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No final do ano passado, Lindenberger, agora na Universidade, confiou num pastor, que lhe sugeriu que ele era legalmente livre para tomar decisões. A 17 de dezembro, entrou num escritório do Ohio Department of Heath, em Norwalk, e recebeu um conjunto de vacinas contra hepatite A, hepatite B, gripe e HPV, de acordo com um registo visto pelo "The Washington Post". Lindenberger disse que assistiu a uma crescente discussão online sobre adolescentes encorajados a tomar as suas próprias decisões sobre saúde e a procurar a vacinação.

Em Washington, uma adolescente, menor, escreveu em janeiro que a mãe não permitia que ela se vacinasse. "Eu, assim como meus irmãos, tenho a ideologia de que as vacinas são uma questão de saúde pública e uma responsabilidade pessoal em benefício da população, e não um direito que pode revogar dos seus filhos", escreveu a jovem.

Outro adolescente, que em setembro se identificou como um jovem de 15 anos, do Minnesota, pediu ajuda, também no Reddit, para que lhe dessem indicações sobre a análise das leis estaduais, num esforço para se imunizar. Minnesota é um estado onde os tutores podem optar por evitar as vacinas exigidas se eles se opuserem filosoficamente a elas.

Lindenberger sugeriu que, para capacitar os adolescentes e imunizar mais pessoas, os estados deveriam reduzir a idade de consentimento exigida para as vacinas, em vez de pressionar por leis de imunização mais rigorosas e abandonar as isenções.

A tensão complicou a vida em casa de Ethan. Ele diz que lamenta ter insultado os pais na publicação original do Reddit e pede que outros adolescentes sejam transparentes e positivos com os pais quando pedirem permissão para serem vacinados. Os especialistas dizem que o diálogo aberto é a melhor opção; outras opções como a emancipação são extremas e difíceis.

No entanto os quatro irmãos mais novos de Ethan Lindenberger enfrentarão alguns problemas. A mãe já disse que não permitirá que o irmão de 16 anos seja vacinado, embora ele o quisesse ser. Lindenberger também tem uma irmã de 2 anos, cuja idade a expõe a numerosos riscos infecciosos à saúde. "Parte-me o coração que ela possa ter sarampo e estaria morta", confessou Lindenberger.

E em Portugal?

Portugal é o país da União Europeia com a maior percentagem de população a confiar nas vacinas, considerando-as seguras, efetivas e importantes para as crianças. Segundo um estudo promovido pela Comissão Europeia, 98% dos portugueses consideram as vacinas importantes para a saúde das crianças, 96,6% entendem que são efetivas e mais de 95% dizem que são seguras. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a vacinação é uma das mais eficazes formas de evitar doenças, prevenindo atualmente cerca de dois a três milhões de mortes por ano. Caso todos fossem vacinados, poderiam prevenir mais 1,5 milhões.

Suécia, Bélgica, Bulgária e Letónia são os países com menor percentagem de população a considerar como segura a vacina do sarampo.