Esta semana, Ruth Manus escreveu uma crónica no “Observador” sobre os jovens que são bons demais para qualquer emprego. Referindo-se às pessoas que nasceram no início dos anos 90, a escritora brasileira descreveu uma geração que vive para o seu superestimado valor, que acha que só tem direitos e nenhuns deveres, que é pouco humilde e não sabe trabalhar em equipa.

Não demorou muito até o meu feed de Facebook encher-se de comentários ao texto. Curiosamente (ou não), as opiniões dividiram-se consoante a geração. Éa guerra habitual entre décadas — o meu pai nasceu no final dos anos 30 e garante que no tempo dele “é que era”, portanto acho que podemos todos concluir que nada disto faz sentido.

Guerras geracionais à parte, Ruth Manus tem razão — em várias coisas, mas já lá vamos. Para começar, estamos de facto a viver uma época muito diferente. Quando comecei a trabalhar, há sete anos, a minha geração (final dos anos 80) queria provar tudo. Estávamos dispostos a trabalhar de graça o tempo que fosse preciso, fins de semana e horas extra incluídas, e enchia-nos de orgulho dizer que tínhamos feito noitada. Quando finalmente nos apresentavam o primeiro contrato (precário), éramos as pessoas mais felizes do mundo — mesmo que nem o ordenado mínimo levássemos para casa. Não tínhamos um pingo de amor próprio.

Hoje já não é assim. Não há cá horas extra ou trabalhos ao fim de semana. Os miúdos que entram hoje no mercado de trabalho sabem de cor o Código do Trabalho, e não têm vergonha nenhuma de reivindicar os seus direitos. São assertivos, decididos e sem medo de empinar o nariz.

Em parte, ainda bem que é assim — já chega de uma geração de atadinhos. Infelizmente, porém, e nisso Ruth Manus tem toda a razão, há quem leve isto a um extremo. Estamos de facto perante uma geração que acha que merece tudo e não tem de fazer nada.

Deixo-vos com o Top 10 das melhores coisas que já ouvi de jovens jornalistas nas redações por onde passei.

— Enviei-te o artigo. Sublinhei a amarelo o que não consegui traduzir [eram cinco parágrafos];
— Uma entrevista às 9 horas? Não dá, eu moro muito longe, teria de me levantar às seis da manhã [morava em Telheiras, a entrevista era no Chiado];
— Desculpa, mas são 17h45, tenho de me ir embora [chegava às 11 horas, saía sempre às 17];
— Aquele artigo que me enviaste é bué grande;
— Não consigo encontrar a idade de X, podes procurar tu?;
— Pus lá o artigo, mas olha que está mesmo mau [risos];
— Calma lá, eu sei que entrei há três horas e ainda não escrevi nada, mas não é como se não estivesse a trabalhar — estou a acabar um trabalho para a faculdade;
— Não gosto deste tema. Não tens por aí outra coisa?;
— Tenho mesmo de fazer a entrevista por telefone? Não posso enviar um email?;
— Não tenho culpa dos erros, o meu computador não tem corretor automático [esta frase já foi dita por mais do que uma pessoa, infelizmente].

A frase “eu quero, eu tenho direito” não podia ser mais falsa. Não é apenas por desejarmos muito uma coisa que temos direito a ela, e sim, lamento, na sociedade atual só se constroem carreiras com (muito) trabalho. Só que a maioria das pessoas acha que empenho e dedicação é ser explorado.

Há exceções. Já tive a honra de trabalhar com estagiários e jovens jornalistas extraordinários, e nunca pedi a ninguém que fizesse horas extra para cair nas minhas boas graças. Mas pedi sempre que me ouvissem, que percebessem que estava ali para os ensinar. E 90% não quis saber.

A minha geração era feita de tansos. A geração que chega hoje ao mercado de trabalho é feita de credores de direitos. Honestamente, tínhamos muito a aprender uns com os outros.

Mas pode ser que o meio termo saudável esteja a chegar. Esta semana, a jornalista Ana Luísa Bernardino conta-nos a história de Eduardo Couto, um jovem de 16 anos que se recusou a aceitar que existem acessórios específicos do sexo masculino e do sexo feminino. A professora discordou e até o ameaçou com uma falta disciplinar.

Já Leonor Cipriano, a mãe de Joana, saiu em liberdade esta quinta-feira, e a Inês Ribeiro foi analisar os mitos e verdades de um dos casos mais mediáticos dos últimos anos. Ainda há quem acredite que a criança foi dada a comer aos porcos ou que Leonor Cipriano e João Cipriano foram apanhados por Joana a ter relações sexuais.

Mas há mais. Fizemos também um frente a frente do estilo de Cristina Ferreira e Maria Cerqueira Gomes quando “O Programa da Cristina” fez um mês e descobrimos histórias de pessoas que fizeram um retiro de silêncio — e adoraram. Mostramos-lhe ainda um manual de etiqueta para lidar com um doente oncológico, elaborado por quem já enfrentou o cancro, e contamos-lhe como uma professora foi suspensa por pedir boa educação aos alunos.

Qualquer coisa, dúvida, ou só um olá, estou aqui: martamiranda@magg.pt. Até sexta-feira e bom fim de semana.

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