Ted Bundy era um homem charmoso, aparentemente inofensivo e bem articulado nas palavras. Talvez por isso (e também pela falta de conhecimento e tecnologia que hoje é utilizada nas investigações), tenha sido tão difícil acreditar e provar que foi esta a pessoa que raptou, violou e matou mais de 30 mulheres entre 1974 e 1978, nos Estados Unidos.

Mas apesar de todas as suas vítimas serem mulheres, a tese de que Bundy nutria algum ódio pelo sexo feminino nunca foi comprovada. Até porque o assassino em série teve várias relações com mulheres ao longo da sua vida, chegando mesmo a casar e a ser pai de uma menina — concebida na prisão durante o tempo em que esteve no corredor da morte.

Mas antes da execução, do julgamento e de uma investigação que durou anos (e que agora originou um documentário da Netflix), houve uma mulher por quem Ted Bundy se apaixonou e que viria a ser uma peça fundamental durante todo o processo, precisamente porque foi ela quem o denunciou às autoridades depois de vários meses de suspeitas.

A namorada que denunciou Bundy à polícia

Elizabeth Kloepfer e Bundy conheceram-se num bar de Washington, em 1969, e aquilo que parecia um relacionamento fugaz e sem importância viria a durar cerca de seis anos. Os dois complementavam-se de forma exemplar e não havia nada no comportamento de Bundy que pudesse explicar a brutalidade dos seus crimes. Tudo mudou, porém, com os relatos dos primeiros desaparecimentos e o primeiro retrato robô disponibilizado pela polícia.

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As feições, o cabelo e os traços do rosto pertenciam a Bundy mas a caça ao homem demorou meses até que surgisse, finalmente, um suspeito. E quando surgiu, foi devido à denúncia de Kloepfer, que via naquele retrato o seu namorado de quem nunca tinha desconfiado.

Além das semelhanças físicas, Bundy correspondia ao perfil traçado pela polícia. Mais: isto poderia explicar o porquê de se ausentar tantas vezes de casa, e de permancer desaparecido durante horas. Elizabeth Kloepfer não o queria admitir, mas foi durante aquela relação que o namorado raptou, violou e matou as suas primeiras vítimas.

A queixa não seguiu em frente e Ted Bundy permaneceu em liberdade sem nunca esquecer a traição. No livro "The Phantom Prince: My Life With Ted Bundy", publicado dois anos depois de o serial killer ser condenado à morte por cadeira elétrica, em 1981, Kloepfer relatou como Ted sabotou a chaminé da casa que partilhavam e trancou todas as portas. O objetivo? Sufocar Elizabeth com o excesso de fumo.

Ted Bundy e Elizabeth Kloepfer namoraram durante seis anos — mas a relação quase acabou em tragédia

"Não sei como mas consegui abrir uma janela e foi isso que me permitiu sobreviver. Mas ele queria que eu morresse naquela noite", escreveu. Desde então que pouco se sabe acerca do que lhe aconteceu. Especula-se que tenha mudado de nome, até porque todos os livros que tem publicado têm sido assinados sob vários pseudónimos.

No livro "The Stranger Beside Me", escrito pela jornalista Ann Rule, a autora referiu-se a Kloepfer como Med Anders e revelou nunca tentar saber onde é que ela estava — para não perturbar a paz e a privacidade de alguém "que já sofreu muito".

A admiradora com quem o assassino casou em tribunal e engravidou na prisão

Mas depois de uma relação falhada com Kloepfer houve Carole Ann Bonne, que assumiu o papel de admiradora principal de Bundy. Enquanto dezenas de investigadores estavam empenhados em arranjar provas suficientes que servissem para sentenciar o assassino, havia uma pessoa que estava presente em todos os julgamentos e que fazia de tudo para tentar provar a sua inocência.

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O fascínio foi tal que a admiração deu lugar a um casamento em pleno tribunal. Os dois conheciam-se há vários anos mas a relação intensificou-se quando, a 9 de fevereiro de 1980, Carole foi chamada a testemunhar e defendeu Bundy à frente de todos.

"Nunca vi nada no Ted que indicasse que ele podia ter atitudes destrutivas em relação a outras pessoas. Ele é um homem simpático, atencioso, querido e paciente", defendeu a testemunha, citada pelo jornal "Orlando Sentinel". Depois do testemunho, Bundy, que se representava a si mesmo, pediu Carole em casamento — ao qual esta acedeu.

Carole Ann Bonne foi a admiradora mais fiel de Bundy, mas divorciou-se dele três anos antes da sua morte

"Então, de agora em diante, declaro que estamos casados", afirmou Bundy. Aquilo que poderia ter sido uma simples troca de palavras entre o casal foi mesmo oficializado como matrimónio, já que estava presente no tribunal um notário que ouviu os votos e emitiu, naquele preciso momento, uma certidão de casamento.

Suspeita-se que Ted tenha descoberto esta lacuna na constituição do estado de Florida — que ditava que cidadãos a ser investigados por crimes de gravidade alta não podiam casar — e tenha planeado o casamento com Ann Boone antes de testemunhar perante o júri.

Mas não se ficou por aqui. É que Carole engravidou pouco tempo depois do casamento, o que à partida parecia improvável ou até mesmo impossível, visto que presos condenados à pena de morte não têm direito a visitas conjugais. No entanto, e segundo várias investigações, o jornal "The Deseret News" escreveu, a 29 de setembro de 1981, que Ted Bundy subornava os guardas para que estes permitissem encontros longos e demorados com a mulher.

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"Quando há elementos humanos envolvidos, tudo é possível", revelou Clayton Strickland, responsável pela Prisão Estadual da Florida onde Bundy estava detido. E foi mesmo possível: Rose, ou Rosa (ninguém sabe ao certo o nome da única descendente de Bundy) nasceu no outono de 1981 e visitou várias vezes o pai, acompanhado pela mãe e pelo meio-irmão, fruto de uma outra relação de Ann Bonne.

Três anos antes de Bundy ser executado, o casal divorciou-se e desde então que pouco ou quase nada se sabe sobre a mulher que defendeu o assassino em série com unhas e dentes. Quando, mais uma vez, a jornalista Ann Rule reeditou uma nova biografia de Bundy, explicou que evitou ao máximo procurar Carole e Rose.

"Evitei, de forma ponderada e deliberada, tentar saber onde é que a ex-mulher e a filha de Ted estariam porque também elas merecem ter a sua privacidade. Não quero saber onde estão. O pouco que sei é que a sua filha cresceu e se tornou numa mulher muito bonita e inteligente", revelou a jornalista no seu site oficial.