O conceito era vencedor: um festival de música de luxo num dos locais mais paradisíacos do mundo, as Bahamas, com um vídeo promocional demasiado bom para ser verdade. E, no caso do Fyre Festival, foi exatamente isso que aconteceu — ou melhor, não aconteceu.
Idealizado por Billy McFarland, um empreendedor norte-americano, e com o apoio de Ja Rule, o conhecido rapper, o Fyre Festival inundou as redes sociais em janeiro de 2017 com a promessa de ser o primeiro festival de música de luxo, com bebida, praias incríveis e supermodelos em cada esquina.
O que acabou por se desenrolar nos meses seguintes foi um desastre tal que acabou por gerar um documentário da Netflix, "Fyre — O Grande Evento que Nunca Aconteceu", que estreou na passada sexta-feira, 18 de janeiro, na plataforma de streaming.
A palavra que mais define o Fyre Festival é fraude. Sem qualquer experiência na organização de festivais, Billy McFarland enganou tudo e todos, vendeu bilhetes para chalés de luxo que não existiam e contratou artistas sem lhes pagar um único cêntimo. Mas ainda antes de o festival cair por terra no primeiro dia, sem acontecer nenhum dos concertos prometidos, dezenas de pessoas saíram a perder deste acontecimento, uma vez que nunca foram pagas pelo seu trabalho.
Uma dessas pessoas foi Maryann Rolle, a dona do bar-restaurante Exuma Point Bar and Grille, que surge no documentário da Netflix a contar como perdeu as poupanças de uma vida graças ao malfadado evento.
Contratada para fornecer comida e bebida a todos os trabalhadores e staff do festival, Maryann Rolle tinha uma equipa de pessoas a trabalhar diretamente consigo para garantir que nada faltava à organização. "Tinha dez pessoas a trabalhar comigo, a preparar comida e bebidas dia e noite, durante 24 horas", garantiu no seu testemunho gravado para a produção da Netflix.
Com o descalabro dos acontecimentos, e sem nunca ter recebido qualquer pagamento pelos seus serviços, Maryann Rolle acabou por gastar cerca de 44 mil euros das suas poupanças pessoais para pagar ao staff que tinha contratado. "Eu tinha de pagar às pessoas, vejo-as todos os dias", afirmou no documentário.
A 14 de janeiro, dias antes da estreia de "Fyre — O Grande Evento que Nunca Aconteceu", foi criada uma página de recolha de fundos em nome de Maryann Rolle no site GoFundMe, como forma de compensar os gastos da empresária lesada pela fraude de Billy McFarland.
Com várias partilhas no Twitter e noutras redes sociais, a onda de solidariedade para com Maryann Rolle foi imparável: já foram feitas mais de 3.900 doações, totalizando cerca de 114 mil euros.
Atualmente, Billy McFarland encontra-se a cumprir seis anos de prisão por fraude fiscal numa penitenciária no estado de Nova Iorque.