Não é só Cristina Ferreira que vai andar à bulha com o amigo (ou “amigo”, se nos fiarmos nas revistas cor-de-rosa) Manuel Luís Goucha. Também Diana Chaves chamou Fátima Lopes para um mano a mano no ringue da pancada das audiências. Ainda antes das estreias do “Programa da Cristina” e do renovado “Você na TV”, versão Maria Cerqueira Gomes (7 de janeiro), a guerra SIC vs TVI começou a ferver esta quarta-feira com a estreia de dois formatos muito parecidos, “O Carro do Amor” (SIC) e “First Dates” (TVI), que têm um objetivo comum: juntar casais em primeiros encontros e ver se a coisa vai evoluir para algo mais sério ou se fica logo por ali.

Mas qual dos dois programas vale mais a pena ver? Que tal se saíram as apresentadoras? E qual dos dois formatos é mais interessante? E os casais, alguma coisa de jeito? É isso tudo que vamos ver.

Formato

O formato de “O Carro do Amor” é bem mais diversificado, mais cheio, mais analítico do que o de “First Dates”. O programa da SIC traz novamente dois coachs de relacionamentos, Cris Carvalho e Eduardo Torgal, que já faziam parte do formato de sucesso do programa anterior, “Casados À Primeira Vista”, que tinha sessões diárias à mesma hora deste “O Carro do Amor”. São eles que têm a missão de ir analisando o comportamento de cada elemento do casal à medida que o encontro decorre.

Diana Chaves, que também estava no Team Casados, volta a apresentar o programa e vai fazendo visitas-surpresa (em forma de curtas boleias no carro do amor) e lançando desafios ao casal, para os espicaçar ou para que eles revelem algumas facetas que não estão a trazer para a conversa. O programa da SIC é quase todo filmado em exterior, tem uma produção vistosa, com filmagens aéreas com drones, e procura surpreender os telespetadores. Na estreia, "O Carro do Amor" chamou o ex-casado à primeira vista Dave, irmão de um dos concorrentes, Tiago, o que acabou por ser um elemento de interesse extra.

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O formato de “First Dates” é muito mais simples, básico mas também mais imediato. É fast food — o que não é uma crítica, porque os restaurantes de fast food estão quase sempre cheios. Há basicamente três cenários: 1) um bar, onde os concorrentes se conhecem, e onde está Ruben Rua (já lá vamos) a servir copos e a aliviar a tensão de duas pessoas que se veem pela primeira vez num date; 2) uma mesa onde os casais jantam; 3) uma sala privada, para onde vão depois do jantar para se conhecerem melhor.

Fátima Lopes, a apresentadora, é uma espécie de MC (mestre de cerimónias) ou chefe de sala, que recebe os casais, encaminha-os até ao bar e depois leva-os à mesa. Qual é a grande vantagem de ter um formato fast food? É que a ação fica centrada unicamente naquilo que na verdade toda a gente mais quer ver: os dates. Não há cá conversinha demorada, nem enquadramentos, nem o lado sociológico comportamental, nem surpresas, é pimbas!, direto ao assunto, conversa de engate o tempo quase todo e ponto final.

Resumindo: não há aqui um vencedor. A SIC apostou numa coisa em grande, e conseguiu algo visualmente muito mais interessante do que a TVI; mas a TVI tem um formato straight to the point, o que acaba por ser mais eficaz e mais centrado naquilo que queremos ver: gente a engatar-se.

Dinâmica

Vamos lá ver: há dois tipos de dinâmica — a dinâmica de programa, em que estão sempre coisas novas a acontecer, em que os telespetadores vão sendo surpreendidos, em que há vários focos de ação; e depois há a dinâmica da ação real, ou seja, os diálogos, a intensidade dos relacionamentos, a conversinha de engate que nos prende ou não, a capacidade de os elementos dos casais de criarem tensões, conflitos, paixões, uma ligação aos telespetadores.

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Uma vez mais, temos um vencedor para cada lado: “O Carro do Amor” tem bem mais dinâmica de programa, com os coaches, as boleias de Diana Chaves, a surpresa do irmão de Dave, um GPS metediço que vai provocando os casais, os planos de exterior bonitos, mas depois “First Dates” ganha claramente na dinâmica da ação real, porque se foca muito mais nos casais, na conversa de engate, que é isso que muita gente quer ver.

Personagens/casais

Uma das principais razões que levam a que um programa de televisão seja um sucesso ou um fracasso é o casting dos participantes. Se eles forem ótimos, as pessoas querem continuar a seguir as suas histórias, se eles forem aborrecidos, ninguém quer saber e mudam de canal. Nem na estreia de “O Carro do Amor” nem na estreia de “First Dates” houve personagens daquelas marcantes (ao estilo da mãe do José Luís de “Casados À Primeira Vista”). Ainda assim, houve uns cromos jeitosos (cromos no sentido carinhoso, gente carismática que faz rir, não se ofendam).

Em “First Dates”, o melhor de todos foi o André, cabeleireiro de Leiria, com 23 aninhos, calças arregaçadas até quase ao joelho (o que era aquilo rapaz?), e um cabelo medonho. Não, o cabelo não era medonho, o tique de sacudir a cabeça para tirar a franja dos olhos é que era medonho (ou ainda mais medonho). O rapaz calhou logo com a moça mais gira e divertida do programa, Mariana, que não teve outro remédio senão passar o date inteiro a gozar com o rapaz (e ele parecia que nem sequer estava a perceber isso). Esta discrepância tão grande de perfis (aquilo nunca daria em nada, nunca) gerou alguns momentos engraçados no programa, embora se soubesse logo como a coisa iria terminar, com um redondo “Não” (da parte dela, claro).

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Depois houve o Rogério do Magoito, outra personagem (depois da palavra Rogério deveria estar lá uma vírgula, mas não está propositadamente, porque Rogério do Magoito é um nome de personagem muito mais interessante do que Rogério, do Magoito). Então, o Rogério do Magoito é um bailarino que dá aulas a dança de saltos altos, usa a camisa aberta até ao umbigo e acha que isso é sedutor. Não querendo nós dar opinião, limitamo-nos a dar a da Ana, com quem ele teve um date: não, não é. O rapaz tinha graça, fazia rir, parecia uma personagem de filme, mas também não teve arcaboiço para fazer a personagem durar até final do programa. Os últimos minutos já foram cansativos.

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Em “O Carro do Amor”, as grandes personagens foram a Paula, uma tia lisboeta de 55 anos, que adora jazz e Florbela Espanca, que não vai jantar à margem sul nem come carne, e odeia homens que dão erros gramaticais, e que calhou com o Paulo, 57, de olho azul e fato, mas que é fã de Tony Carreira, não sabe quem é Oscar Wilde, acha que um ator e um autor são a mesma coisa, vai mamar bifes ao Zé dos Cornos e diz que quer encontrar “uma princesa”. Todo o date foi hilariante, a postura altiva da Paula acabou por ter piada (sobretudo a forma como insistentemente corrigia o Português de Paulo), e a forma como o desgraçado do Paulo tentava mascarar as lacunas culturais também acabou por ser constrangedora, e por isso engraçada (tipo “The Office”).

“O Carro do Amor” vs “First Dates”. O bom, o mau e o péssimo da estreia dos dois programas

Problema no programa da SIC: a história do senhor Miguel, 74 anos, viúvo há 7, que se emocionou a falar da ex-mulher, e que passou o programa todo à conversa com Diana Chaves, acabou por cortar muita da dinâmica do programa, e teve mesmo alguns momentos chatos. Pior: a estreia de “O Carro do Amor” acabou e o pobre do senhor Miguel não chegou a conhecer a sua senhora — ficou para outro programa.

Apresentadoras

Primeira nota para a senhora Fátima Lopes: está ali com um corpaço que sim senhora. Outra para Diana Chaves: fez-se uma excelente apresentadora, muitos, muitos, muitos furinhos acima de Cláudia Vieira, Sílvia Alberto e, sobretudo, de Rita Pereira, que não nasceu para apresentar programas, nada a fazer.

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A luta era à partida injusta. Fátima Lopes leva uma vida disto, Diana Chaves não. Mas como isto não é a tropa, a antiguidade vale zero, e Diana conseguiu estar num registo muito mais natural do que Fátima Lopes. Fátima cumpriu, fez bem o que tinha de fazer, mas pareceu sempre menos natural, mais esforçada do que enquadrada no formato, e isso sentiu-se.

Diana Chaves esteve bem, tranquila, divertida, acrescentou valor nas suas intervenções, mas o formato ganharia mais com menos Diana, menos distrações e mais foco nos dates.

Última palavra para Ruben Rua, que foi o barman de serviço em “First Dates”. Esteve bem, seguro, dentro do guião que tinha, não procurou ser mais do que aquilo que deveria ser, e isso resultou. Era assumidamente um ator secundário, e não quis ser mais do que isso. Foi competente.

“O Carro do Amor” e “First Dates” passam de segunda a sexta-feira, depois das 19h10, na SIC e na TVI, respetivamente.

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