Ser pai não é fácil. Ponto final, parágrafo. Quer seja uma pessoa descontraída ou algo nervosa, é certo e sabido que, a certa altura do crescimento do seu filho, irá deparar-se com dúvidas e obstáculos. E se há pais com um grande sistema de suporte e com muita facilidade em pedir ajuda, existem outros que não sabem a quem recorrer.

Foi a pensar nisso que Patrícia Poppe, psicóloga clínica e psicoterapeuta analítica de grupo, criou a Escola de Pais Grupanalítica em 2014, na Escola Alemã de Lisboa. Este modelo original é dirigido aos pais, tal como o próprio nome indica, e é "uma abordagem que se apoia na grupoanálise, com um modelo científico por trás”, explica à MAGG. “Aqui o objetivo é apoiar os pais e fazer com que estes desenvolvam recursos próprios para lidar melhor com as dificuldades e os desafios da parentalidade.”

Mas qual é a grande mais valia deste modelo, em comparação com outras terapias de análise? A psicóloga não tem dúvidas em afirmar que a abordagem em grupo é a base do sucesso da Escola de Pais.

“O facto de ser em grupo tem muitas mais valias. Sendo a responsável por este modelo, agrupo as pessoas que acho que funcionam bem em conjunto, embora não exista qualquer pré-seleção para fazer parte da Escola de Pais”, esclarece, embora ressalve que pode não recomendar este modelo a pais que necessitem de uma terapia mais individual ou que estejam a passar por problemas mais específicos.

Pais não podem querer ser os melhores amigos dos filhos. Isso é o papel dos amigos, alerta psicoterapeuta
Pais não podem querer ser os melhores amigos dos filhos. Isso é o papel dos amigos, alerta psicoterapeuta
Ver artigo

Ainda antes de estes pais se juntarem às sessões em grupo, Patrícia Poppe realiza uma entrevista individual para "conhecimento prévio e também para existir confiança”. Nesta primeira conversa, a psicóloga explica as regras de relacionamento de grupo e avalia se este é o modelo indicado para aquela mãe ou pai —“por vezes, existem situações que requerem outra resposta”.

Na entrevista individual, a especialista estabelece uma aliança, explica o conceito e exige um compromisso dos pais, o de que estes frequentem regularmente as sessões em grupo. “Devem participar nas sessões semanalmente, e recomendo que assistam a 15 sessões, o que totaliza três, quatro meses de grupoanálise”, esclarece a psicóloga.

Primeiro objetivo? Ajudar os pais

Patricia Poppe criou este modelo para preencher uma lacuna. “Vi uma oportunidade para ajudar os pais que, normalmente, não têm muitos locais para serem apoiados, nem estruturas”, justifica. Acredita que, muitas vezes, estes se "sentem sozinhos e, quando surgem problemas, não sabem a quem recorrer ou o que fazer”.

Patrícia Poppe, psicóloga clínica e psicoterapeuta analítica de grupo

“Há muitas pessoas que têm dificuldades em pedir ajuda, querem fazer o melhor que sabem e podem, mas precisam de ajuda. Há quem compre livros, pesquise na internet, mas não é por aí que se aprende muito. Os problemas na parentalidade estão ligados a muitas experiências dos pais e a relações que tiveram, logo não é a nível racional que se aprende. É preciso existir uma experiência emocional”, explica a especialista.

E o que procuram os pais nesta escola? A psicóloga refere que as principais motivações são o desejo de "comunicar e interagir com outros pais, o quererem compreender os filhos, lidar melhor com estes, aprender ferramentas e sentirem-se seguros, confiantes e tranquilos no seu papel de pais".

Nas sessões de grupo, podem “comunicar à vontade, falar daquilo que lhes interessa, e percebem que são escutados”. Patrícia Poppe salienta que a atmosfera positiva e de aceitação “é propícia à abertura e ao envolvimento” dos membros do grupo.

“Se existir confiança, os pais vão partilhar informações, experiências e acabam por sentir o apoio emocional dos outros”, explica a especialista, que faz uma avaliação inicial aos participantes das sessões de grupo, e volta a repetir a análise no final das 15 sessões. Foi a partir desses resultados que percebeu que os pais gostam de falar com outros com filhos de diferentes idades, dado que isso lhes dá um sentido de perspetiva.

Mesmo em idades diferentes, a psicóloga salienta que as problemáticas das crianças “são quase sempre as mesmas, apesar de terem expressões diferenciadas. Os pais com filhos mais novos começam a perceber o que os espera no futuro e os que têm filhos mais velhos recordam essas questões. Há aqui uma troca muito interessante, e também uma diversidade enriquecedora”.

De uma forma geral, Patrícia Poppe explica que os principais objetivos deste modelo, para além do apoio aos pais, são "aumentar a compreensão de alguns aspetos conscientes e inconscientes em si próprios, nos filhos e na relação entre ambos, melhorar a relação com as crianças e desenvolver recursos internos”.

Tal como nas escolas dos miúdos, aqui também há regras

Para além da assiduidade, que é um dos critérios mais importantes da Escola de Pais, a confidencialidade é uma das regras vitais deste modelo, bem como o respeito do grupo.

Patrícia Poppe refere que os conhecimentos prévios dos membros e os encontros fora das sessões durante os meses de funcionamento da Escola de Pais são de evitar, tudo para garantir a segurança do grupo. “Não quero proibir ninguém de se relacionar mas, durante os meses das sessões, se os membros da escola se relacionam fora desta, pode existir uma partilha de informações que depois não se repete e prejudica os outros pais e o próprio funcionamento do modelo”, explica a especialista.

Telemóvel: perigo para as crianças ou uma ferramenta útil para os pais?
Telemóvel: perigo para as crianças ou uma ferramenta útil para os pais?
Ver artigo

Também os casais, caso queiram ambos participar na Escola de Pais, são separados em diferentes grupos. “As pessoas acabam por falar mais à vontade se não tiverem o parceiro ao lado”, conta a psicóloga.

A Escola de Pais funciona semanalmente em Lisboa, na Avenida das Forças Armadas 133 A, e o horário é combinado conforme a disponibilidade dos membros do grupo e da psicóloga. As sessões têm um custo aproximado de 100€ por mês (preçário de 2018), embora Patrícia Poppe afirme que, caso haja necessidade, os valores possam ser revistos individualmente com cada pai. Caso os seus filhos sejam alunos da Escola Alemã de Lisboa, onde a especialista criou o modelo, a frequência é gratuita.