Um dos passatempos preferidos de Ryan era ver vídeos no YouTube com outros miúdos a testarem brinquedos. Estávamos em 2015, altura em que ele teria 3 anos. Perguntou à mãe: “Porque é que eu não estou no YouTube, quando todos os outros miúdos estão?” Não houve grande resistência, já que em março do mesmo ano o miúdo já tinha o seu próprio canal. Nesta plataforma, iria desembrulhar, mostrar e experimentar brinquedos para outros poderem ver. O primeiro teste foi feito com o comboio da Lego — o Lego Duplo Number Train —, inaugurando o canal Ryan ToysReview.

Passados quatro anos, Ryan, 7 anos, é milionário e a maior estrela do YouTube. Tem 17 milhões de seguidores, um total de 25 mil milhões de visualizações, tendo gerado mais de 22 milhões de dólares (cerca de 19 milhões de euros) em 2018, mais 11 do que em 2017. De acordo com a lista divulgada pela "Forbes", foi o youtuber mais bem pago do ano. Subiu da 8.ª para a 1.ª posição do ranking.

Mas o canal já não é só o Ryan a brincar. Quer esteja na Disney, a cortar o cabelo ou com febre, os pais é que decidem o que é que se filma e partilha”

O passatempo preferido de milhões de crianças é este: ver outras crianças a brincarem, através do ecrã. Aprendem a dominar o touch do telemóvel antes de saberem falar. Ainda nem assumiram a posição bípede, e já sabem aceder à gigante plataforma de armazenamento para ali ficarem entretidos durante horas, se os deixarem. A realidade poderá para muitos soar a nova, mas já é assim há alguns anos. De acordo com um artigo publicado pelo "The Guardian", já em 2016, entre os 100 canais com mais sucesso no Youtube, 20 são dedicados a brinquedos.

O sucesso de Ryan (não são revelados mais pormenores sobre a sua identidade para protegê-lo) não foi imediato. O vídeo de estreia, em que o vemos à volta de um comboio com grandes quadrados de Lego, dura dez minutos e tem registo muito mais amador. A criança ainda mantém traços de cara de bebé e não consegue articular bem as palavras. Aparece sentado, a tentar montar o brinquedo, com a ajuda da mãe, cuja voz se consegue ouvir.

De acordo com um perfil publicado em 2015 pelo “The Verge”, o esquema foi mudando. O número de brinquedos por vídeo foi aumentando, culminando naquele que é o vídeo mais popular de todos, com um total de 934.850875 de visualizações. Foi publicado em julho de 2015, quando Ryan recebeu um ovo com um total de 100 brinquedos em simultâneo, merchandising do filme da Pixar “Carros”. Apesar de só testar um de cada vez, no final podemos vê-lo a andar por entre a centena de embrulhos e pacotes. É neste momento que se dá a reviravolta e o Ryans ToysReview inicia o caminho para chegar ao canal de YouTube mais bem sucedido do mundo.

Já não são só os brinquedos. A vida de Ryan é um negócio

Apesar da idade, Ryan está ciente daquilo que é preciso para cativar o seu público. “Porque eu entretenho e sou divertido”, disse Ryan à "NBC" (pode ver em baixo) em novembro de 2018, depois de lhe perguntarem porque é que tantos miúdos gostavam de assistir aos seus vídeos.

O Ryan ToysReview foi um dos pioneiros no género que combina o vlog com o unboxing (desembrulhar caixas, apresentar e explicar produtos). Apesar de se ter começado por se dedicar exclusivamente aos brinquedos, há dois anos, em novembro de 2016, foi criado um segundo canal que mostra mais da vida privada da criança. Chama-se “Ryan’s Family Review” e é possível vê-lo não só com os pais, mas também com as irmãs mais novas gémeas, que são protagonistas em várias publicações, sendo também já conhecidas entre o público infantil. É um negócio de família, tanto que a mãe deixou a carreira como professora de Química para se dedicar exclusivamente ao canal do filho. O pai mantém a profissão como engenheiro, mas é recorrente marcar presença nos vídeos.

“Mas o canal já não é só o Ryan a brincar. Quer esteja na Disney, a cortar o cabelo ou com febre, os pais é que decidem o que é que se filma e partilha” escreveu o “The Verge.” De acordo com a mesma revista, em 2016, “a pretensão de que Ryan realmente brinca com os brinquedos foi totalmente descartada”, porque as falas mostram uma voz “desprovida de admiração e de empolgação.”

Por esta altura, os vídeos já eram divulgados todos os dias. “Publicamos os vídeos diariamente e, geralmente, gravamos dois ou três vídeos, duas ou três vezes por semana. Tentamos não interferir na agenda escolar, portanto a maioria das filmagens acontecem durante a semana e editamos enquanto ele está na escola", explicou a mãe ao "TubeFilter", citado pelo "The Verge".

A mãe garantiu que Ryan gosta do que faz: “Neste momento, ele adora fazer vídeos. Sempre que lhe digo para irmos filmar, ele fica muito entusiasmado”, diz. “Desde que ele goste e que isso não interfira com a rotina” está tudo bem. “O momento em que ele deixar de gostar” será aquele em que os vídeos acabarão, acrescenta a ex-professora.

Desde 2017 que as conta de Ryan estão a ser geridas pela pocket.watch, uma startup que faz a comunicação de diferentes youtubers na faixa etária de Ryan, criada em 2016 por Chris Williams e Albie Hecht, dois nomes importantes no universo das marcas infantis como a Disney e Nickelodeon. Os brinquedos em que o miúdo toca são sempre um sucesso de vendas. De acordo com a BBC, “vendem instantaneamente”.

Já fechou várias parcerias, incluindo uma gigante com a Walmart, a multinacional norte-americana, que lançou uma linha de brinquedos e de roupas do “Ryan’s World”. O sucesso é tão grande, que até há uma tour pelos Estados Unidos para celebrar e promover esta colecção. Num vídeo, a criança de 7 anos e os pais aparecem neste supermercado à procura destes produtos. Teve 14 milhões de visualizações em três meses, o que leva a estimar que as receitas do Walmart aumentem “substancialmente” no próximo ano. "É tão fixe", comentou Ryan sobre ver a sua cara em tantos brinquedos.

O que acontece com o dinheiro de Ryan? De acordo com a "BBC", “15% das receitas são colocadas numa conta bancária, à qual ele só terá acesso quando se tornar legalmente adulto.” Segundo a "Forbes", "uma boa porção do resto serve para pagar despesas de gerência, taxas de produção — bem como todos aqueles brinquedos."

Quanto a todo o material de trabalho manuseado pelo que foi descrito como "diretor criativo" do canal (sim, estamos a falar de Ryan), desde outubro que carros, Legos e todos os outros produtos que aparecem no vídeo são reembalados e vendidos através de plataformas online como a Amazon.

Como é que Ryan ganha este dinheiro todo?

Vem quase todo da publicidade do YouTube. Quanto mais visualizações tem um canal, mais caros são os anúncios que precedem os vídeos. "Cerca de 21 milhões de dólares (18 milhões de euros) vêm da publicidade que precede os vídeos nos canais Ryan ToysReview e Ryan’s Family Review", explica a "Forbes". "Quando as visualizações aumentam, o mesmo acontece com esses dólares dos anúncios automatizados."

O resto do dinheiro — o milhão que sobra — vem de posts patrocinados. Este valor é inferior ao que outros youtubers ganham com conteúdos semelhantes. Segundo a "Forbes", em causa não estará apenas o facto de se fecharem poucas parcerias, mas também a idade do seu público alvo.

Como é que a loucura dos vídeos de brinquedos começou? Terá sido em 2013, com o lançamento do canal DisneyCollecterBR, um dos dez mais visitados em 2014. A diferença é que aqui surgia uma adulta, que nunca mostrava a cara, a abrir e a experimentar brinquedos.

Quanto a Ryan, a sua inspiração veio de dois canais protagonizados por crianças. O EvanTubeHD, considerado pelo "Business Insider" o primeiro youtuber milionário, e o HulyanandMaya, onde se veem duas irmãs a testar e a divertirem-se com brinquedos. Os dois canais geram milhões de visualizações diárias. E, como estes, há muitos mais.

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