Qualquer semelhança entre o nome do documentário e a mais conhecida fala de Gandalf em "O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel" poderá não ser por acaso. É que Peter Jackson, o realizador que ficou conhecido por dar vida aos hobbits e ao malvado Sauron da obra de J.R.R Tolkien no cinema, regressa agora para uma nova produção depois de uma ausência de quatro anos. "They Shall Not Grow Old" é o novo documentário sobre a Primeira Guerra Mundial com imagens e gravações inéditas, que pretende contar a história de um conflito através dos olhos de quem o viveu em primeira mão e entre as trincheiras.

A ideia surgiu através do Imperial War Museum, o museu britânico, que sugeriu ao realizador que transformasse todo o arquivo fotográfico da Primeira Guerra Mundial num grande documentário de guerra. Problema? A tecnologia da época só permitia que as câmaras gravassem entre 13 a 15 frames por segundo, e as fotografias e vídeos que foram captados estavam a preto e branco — o que num grande ecrã parecia datado, desinteressante e pouco imersivo.

Foi aí que o realizador não só decidiu colorir todas as fotografias do arquivo, mas também usar computadores e tecnologia avançada para criar frames entre as gravações originais de modo a conseguir uma experiência de vídeo fluída e semelhante à de grandes produções contemporâneas.

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As fotografias foram transformadas para formatos tridimensionais e, nas gravações de vídeo, os lábios dos soldados foram interpretados por vários especialistas para que, já em estúdio, diferentes atores dessem voz aos que a perderam durante um conflito que durou quatro anos.

No filme ouvem-se risos, excertos de diálogos, comentários à situação política e social de um mundo cada vez mais dividido, reações decorrentes do medo e ordens que vão sendo gritadas por entre as trincheiras. O ambiente criado junta a algumas entrevistas, realizadas entre 1960 e 1980 a vários veteranos de guerra, efeitos sonoros especiais como explosões, tanques e armas a disparar, que são sincronizadas com as imagens da história.

"They Shall Not Grow Old" não é, por isso, um documentário genérico cujas imagens vão sendo acompanhadas e descritas pela voz de um narrador. Na produção de Peter Jackson não há narrador, e as únicas vozes que se ouvem pertencem aos vários soldados britânicos que vão comentando o que está a acontecer sempre com a incerteza de saber se regressam ou não vivos a casa.

O filme estreou na BBC, no Reino Unido, a 11 de novembro, para celebrar os 100 anos do cessar de hostilidades entre os Aliados e a Alemanha, e chega aos cinemas dos Estados Unidos para duas transmissões únicas e exclusivas a 17 e 27 de dezembro. Não se sabe quando ou se alguma vez chegará a Portugal.

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Até agora, e a poucas semanas da estreia nos Estados Unidos, a crítica tem sido esmagadoramente positiva. O jornal britânico "The Guardian" escreve que a obra de Jackson é de cortar a respiração e capaz de levar o espectador “diretamente para as trincheiras, rodeado de rapazes cujas caras são semelhantes e familiares às das pessoas por quem passamos na rua."

Já o "Independent" defende que a capacidade criativa do realizador neo-zelandês neste documentário é equiparável à sua técnica de criar um mundo enorme e fantástico, numa clara referência ao seu trabalho na adaptação da obra de Tolkien para o cinema. “A qualidade do trabalho de cor e a alta definição penetrante são capazes de, em conjunto, tornar as imagens de gangrena ainda mais grotescas e violentas."

O documentário tem também recebido comentários positivos no "Rotten Tomatoes", uma plataforma digital que serve como agregador de várias críticas cinematográficas — onde apresenta uma pontuação de 98% (numa escala de 0 a 100%).

A explicação para os elogios pode estar numa breve entrevista que Peter Jackson deu ao "The Guardian", onde defende que mais do que contar uma história que é conhecida por todos, está também a trazer de volta à vida aqueles que não conseguiram regressar a casa e contar os seus feitos aos seus filhos ou netos.

"Estamos simplesmente a pegar em registo fotográfico de há 100 anos. Não estamos a fabricar nada ou a adicionar coisas que não estavam lá no dia em que aquelas fotografias ou aqueles vídeos foram captados. Estamos simplesmente a retroceder a uma altura, tal como ela era há 100 anos. E isso é incrível porque, de certa forma, ao fazê-lo estamos também a trazer de volta aqueles que não sobreviveram", revela.

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