Em "Atracção Fatal", Dan Gallagher (Michael Douglas) parece ter a vida perfeita: um bom trabalho num escritório de advogados em Nova Iorque, um casamento feliz, uma filha linda. Tudo muda quando se envolve com a sedutora Alex Forrester (Glenn Close), num caso rápido e fugaz que termina rapidamente.

Para ele. Para ela, ser ignorada não é uma hipótese. A rutura da relação transforma Alex numa pessoa descontrolada e obsessiva — de tal forma que é capaz de enviar um coelho morto à mulher de Dan. Alex sofre do transtorno de personalidade borderline — e o medo de ser rejeitada, um dos seus maiores receios, tornou-se real.

"O borderline é uma perturbação que pertence à 'família' das perturbações de personalidade", explica à MAGG Ana Luísa Rosa, psicóloga clínica na Oficina de Psicologia. "Caracteriza-se por um padrão de instabilidade nas relações interpessoais, nas respostas emocionais, na autoimagem e por uma impulsividade acentuada."

Vamos descomplicar. Regra geral, o borderline manifesta-se no começo da adolescência ou início da vida adulta e apresenta os seguintes traços.

  • Esforços desesperados para evitar um abandono real ou imaginado;
  • Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização;
  • Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da auto-imagem ou do sentimento de self;
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  • Impulsividade em pelo menos duas das áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex. sexo, gastos financeiros, abuso de substâncias, condução imprudente, comer compulsivamente);
  • Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento de automutilação;
  • Instabilidade afectiva devido a acentuada reatividade do humor (por ex. episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade, geralmente durando algumas horas e apenas raramente alguns dias);
  • Sentimentos crónicos de vazio;
  • Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex. demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, agressões corporais recorrentes);
  • Ideação paranóide transitória e relacionada com stresse ou sintomas dissociativos.

"O que mais distingue as pessoas com esta perturbação é exatamente este padrão de instabilidade", reforça a psicóloga clínica.

Isto reflete-se em relações intensas e instáveis — o mais pequeno gesto pode ser percebido pelo indivíduo com borderline como abandono (por exemplo, chegar tarde a um encontro), despertando uma zanga e raiva profundas.

"Manter um estado de humor estável é particularmente difícil, sendo frequente que, de forma repentina e sem justificação, surjam sentimentos de angústia, irritação ou zanga e noutros momentos energia e euforia."

Como distinguir o borderline da bipolaridade

A grande diferença está no tempo. "Na perturbação de personalidade borderline, vemos que o humor e o comportamento mudam rapidamente em resposta a stressores, nomeadamente os interpessoais". Na perturbação bipolar, o humor é mais sustentado e menos relativo — "há uma estabilidade que, por norma, não se vê na perturbação de personalidade borderline."

Ainda assim, o diagnóstico tem sempre de ser feito por um profissional de saúde mental. Uma pessoa com perturbação de personalidade borderline pode ter outras perturbações, nomeadamente ansiedade, trauma ou uso de substâncias.

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Como é feito o tratamento

"Na minha experiência, os clientes chegam ao consultório após momentos de crise ou desorganização, ou devido ao impacto que as características de personalidade têm nas relações mais próximas, por vezes a pedido de familiares e amigos", explica a psicóloga clínica.

Neste sentido, é importante perceber que, tal como tudo o resto na vida da pessoa que tem borderline, também a relação com o terapeuta vai sofrer altos e baixos. "É importante ser acolhedor, respeitador, procurar que o cliente confie, ao mesmo tempo em que se estabelecem limites no espaço terapêutico."

Mas é essencial procurar ajuda. "A principal recomendação é a psicoterapia. A primeira linha de foco deverá ser psicoeducação sobre a perturbação borderline, clarificar com o cliente o que é e o seu impacto e reduzir comportamentos autodestrutivos."

Nos casos em que existam sintomas específicos e para estabilizar os estados de humor, o uso de medicação psiquiátrica também pode ser necessária, adianta Ana Luísa Rosa.

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