Existem muitas teorias sobre a água e os bebés. Há quem defenda que os recém-nascidos alimentados a leite de fórmula têm mais necessidade de beber água, quem esteja certo que o leite é suficiente e ainda quem ofereça um biberão com água apenas nos dias de maior calor. Mas, afinal, os bebés devem ou não beber água?

“Não”, afirma à MAGG o pediatra Miguel Fragata Correia, que acrescenta que o único alimento que um recém-nascido precisa é o leite materno. O especialista explica que, “embora não existam estudos sobre o tema, é mais ou menos consensual que até aos bebés começarem a comer comida sólida, algo que acontece entre os quatro e os seis meses, não necessitam e não devem beber água”. No entanto, Miguel Fragata Correia salienta que o cenário ideal seria manter uma alimentação exclusiva a leite materno até aos seis meses.

Composto maioritariamente por água (cerca de 90%), o leite materno tem toda a água que um bebé necessita, mas o leite de fórmula também é mais do que suficiente. “Há mitos associados a este tema, existe muito a ideia de que os bebés que são alimentados a leite de fórmula precisam de água, a teoria de que, quando faz calor, o leite não é suficiente e temos de dar alguma coisa ao bebé”, refere o pediatra, que insiste que tanto o leite materno como o de fórmula “supre todas as necessidades de água que o bebé tem nos primeiros meses de vida”.

Embora a água possa começar a fazer parte da alimentação de uma criança a partir dos quatro, seis meses, o mesmo não se aplica a outras bebidas. “De uma forma global, não recomendo o consumo de sumo mas, no primeiro ano de vida, nunca deve ser oferecido”, salienta o pediatra Miguel Fragata Correia.

O especialista refere que estas bebidas não são de todo recomendadas e podem ser prejudiciais. “Os açúcares presentes nos sumos causam cólicas, diarreias e, quando as crianças começam a ter dentes, também podem provocar cáries”, afirma o pediatra.

Mais, embora o especialista concorde que a água pode ser introduzida na alimentação de uma criança a partir do momento em que esta começa a comer sólidos, Miguel Fragata Correia refere que não existe uma necessidade para tal. “Por volta dos quatro, seis meses, os bebés continuam com algum aleitamento e têm toda a água que precisam. Com as sopas e as papas, as crianças aumentam o consumo de água, logo a recomendação que dou aos pais é que o bebé pode beber, mas não o tem de fazer”, salienta o pediatra.

O caso muda de figura a partir de um ano de idade: numa altura em que a alimentação da criança já se aproxima muito da dieta da família e que os biberões de leite estão reduzidos a um ou dois por dia, o pediatra refere que já existe uma maior necessidade de beber água, dado que “o leite já não está a suprir as necessidades. Até costumo dizer aos pais: ‘Se vocês sentem sede, provavelmente o vosso filho também”. Porém, Miguel Fragata Correia não deixa de salientar que a um recém-nascido (até aos quatro meses, no mínimo), “não se pode mesmo dar água”.

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Os riscos da água

Os perigos do consumo de água pelos recém-nascidos são essencialmente dois. “Um é claramente óbvio: se estamos a dar água e a preencher o estômago com esta bebida, não estamos a preenchê-lo com leite”, refere o especialista, explicando que os riscos de tal ato prendem-se com o facto de a água não ter calorias. “Se enchemos o estômago do bebé com água, vamos estar a retirar calorias à sua alimentação; corremos o risco de a criança não ter fome para o leite materno ou para o leite de fórmula, e perder peso.”

Outro perigo é o da intoxicação por água, que acontece quando as fórmulas do leite são demasiado diluídas e o bebé recebe mais água do que aquela que deveria . “Existem quantidades certas, uma dose quase standard naquela medida rasa para 30ml de água, que deve ser respeitada. Quando diluímos a fórmula com muita água, pode acontecer uma intoxicação, que pode ser perigosa para o bebé e inclusivamente causar convulsões”, explica o pediatra.

De acordo com Miguel Fragata Correia, o sódio é diluído e tal faz com que as células inchem (situação apelidada de edema), sendo o cérebro um dos locais do corpo onde isso pode acontecer, levando a convulsões e até a uma situação de coma.

No entanto, o pediatra é o primeiro a afirmar que estes episódios são raros, dado que “é preciso diluir bastante o sódio no sangue para a água ter que passar para dentro da célula, mas é um risco que está presente. Mas devido aos mecanismos de defesa do próprio bebé, como recusar a água por não ter sede, é difícil haver uma intoxicação causada por água”.

Miguel Fragata Correia refere ainda que as situações mais comuns relacionadas com a água prendem-se com convicções das pessoas mais velhas: “Tenho muitos pais que me dizem que acabam por oferecer um biberão de água ao bebé por insistência dos avós, mas que o filho recusa sempre. E eu explico exatamente que a criança não quer água porque não precisa”.

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Quanto ao calor, o especialista começa por recomendar que os bebés com menos de seis meses não sejam expostos a ambientes muito quentes, evitando que estes entrem em perda de água. Porém, “se tivermos de compensar de alguma forma esta perda, o ideal seria com o alimento do bebé e será o próprio a manifestar mais fome”.

Em conclusão, Miguel Fragata Correia salienta que existe apenas uma exceção ao leite nos primeiros meses de vida. “No caso de uma infeção, como uma gastroenterite ou algo do género, podemos ter que dar outras coisas que não o leite. Mas isso acontece sempre sob consulta de um profissional de saúde, e em casos de exceção — mesmo quando o bebé está com diarreia, tentamos ao máximo manter o leite materno”, afirma o pediatra.