Foi há exatamente duas décadas que o "24 Horas" chegou às bancas. Assumidamente o primeiro tablóide português, a edição de estreia do jornal fundado por José Rocha Ferreira deu grande destaque ao "fiasco nas obras da Assembleia da República" que, segundo a publicação, resultou em "130 mil contos para o lixo".

A política foi sempre um dos temas fortes do diário, mas também a economia, desporto, televisão, música e, claro, os famosos. Afinal, nenhum tablóide que se preze viveria sem eles.

A capa da primeira edição do jornal 24 Horas chegou às bancas a 5 de maio de 1998

Em 1998, o mundo despediu-se de Frank Sinatra, José Saramago ganhou o prémio Nobel de Literatura e a Expo 98 arrancou em Lisboa. Foi também nesta altura que a Google foi fundada numa garagem e que a Apple anunciou o lançamento do novo computador iMac.

No social português, a imprensa cor-de-rosa não largava a gravidez de Ágata (e em particular o aviso de Nossa Senhora), Bill Clinton e as suas amantes "muito feias" (pelo menos era esta a opinião de Pedro Abrunhosa) e a ousadia de Xuxa que, mesmo grávida, nunca quis casar (na altura era um choque).

A MAGG foi à procura dos maiores escândalos e polémicas que encheram as páginas da imprensa cor-de-rosa em 1998. Na "Maria", "TV 7 Dias", "Nova Gente", "VIP" e, claro, "24 Horas", a realeza era, tal como hoje, um dos temas quentes da atualidade. Mas também a opinião dos famosos sobre o aborto, na altura ainda ilegal, o processo dos Excesso e o look de Sofia Aparício que, de um dia para o outro, decidiu rapar o cabelo.

Fernanda Serrano não suportava ver padres a discutir o aborto

O aborto só foi legalizado em 2007, num referendo em que o "sim" ganhou com 60% dos votos. Desde então, a mulher pode abortar até à décima semana de gravidez, pelo motivo que quiser.

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Mas foi precisamente em 1998 que se começou a falar sobre o assunto – até porque foi nesse ano que se referendou o aborto pela primeira vez.

À revista "Maria", Fernanda Serrano e Rita Guerra disseram ser a favor. "Acho que a mulher tem direito de decidir, e de ser mãe voluntariamente", disse a atriz. Mas havia algo que a irritava: "Outra coisa que não suporto é ver padres a discutir o aborto."

Fernanda Serrano e Rita Guerra estavam de acordo quanto ao aborto

Júlia Pinheiro e Margarida Pinto Correia também votaram a favor do aborto, mas a ex-mulher de Luís Represas fez questão de dizer à revista "Nova Gente" o que achava dos referendos — "são uma forma de desautorizar a democracia". Já o cantor Nuno da Câmara Pereira era a favor do aborto, mas "só em casos de violação ou de mal formação do feto."

Em junho de 1998, acabou por ganhar o "não" com 51% dos votos. O advogado Nandin Carvalho, grão-mestre da Maçonaria na altura, terá contribuído para o resultado defendendo publicamente a sua oposição ao aborto. Quando questionado sobre o assunto, disse à "Nova Gente" que "se tivesse sido abortado não estava agora a responder a este inquérito."

A gravidez de Ágata e o aviso de Nossa Senhora

Ágata anunciou a gravidez no início do ano, mas esta não terá sido uma surpresa para a cantora. Segundo a revista "Maria", "Nossa Senhora ter-lhe-á dito que teria um filho este ano."

Ágata teve o segundo filho em 1998

Em janeiro, disse à "TV 7 Dias" que esperava conseguir voltar aos palcos um mês depois do parto e fez uma confidência em relação ao sexo do bebé: "Gostava que fosse uma menina." Acabou por ter um rapaz: Francisco ficou com o nome do pai, e veio juntar-se a Marco, o primeiro filho da cantora.

Ainda grávida, em entrevista à "Maria" Ágata disse ser uma mulher feliz, mas lamentou não ter a vida familiar que desejava por causa da agenda tão preenchida. "Não consigo ter tempo para conversar, estar sentada, ver televisão, comer tranquilamente." E a solução para o seu problema era tão óbvia como utópica: "Se fosse uma pessoa com muitos poderes, tinha uma vida pacata."

Os Excesso tiveram um processo em tribunal

Os Excesso foram primeira boy band portuguesa, e foi o single "Eu Sou Aquele" que os catapultou para a fama, no final de 1997. Mas as coisas não correram sempre bem – segundo o "24 Horas", em maio de 1998 corria um processo em tribunal que envolvia o grupo.

O que aconteceu: os Excesso cancelaram um concerto numa discoteca em Montalegre um dia antes da data acordada. Os donos da discoteca não gostaram, claro, e reclamaram uma indemnização. Mas as acusações eram de parte a parte – ao "24 Horas", o agente da banda disse que foi ameaçado pelo responsável da discoteca.

O processo acabou por não dar em nada, mas o grupo continuou envolvido em polémica. Perto do final do ano, a "TV 7 Dias" escrevia sobre uma possível separação do grupo, atribuindo culpas aos "carros, dinheiro e protagonismos excessivos." Quanto a isso Carlos, Melão, Gonzo, João Portugal e Duck não adiantaram muito, até porque tinham uma agenda para cumprir, mas admitiram que era complicado "trabalhar com cinco cabeças". A boy band separou-se em 2002.

Sofia Aparício rapou o cabelo

Foi mais ou menos a meio do ano que Sofia Aparício chocou o País quando mudou radicalmente de visual e rapou o cabelo. Na altura, disse à "TV 7 Dias" que esta era uma mudança que queria fazer há muito tempo. Numa viagem que fez a Cabo Verde, disse à "VIP" que nunca se tinha sentido tão feminina.

'Nunca me senti tão feminina', disse à revista

Em dezembro do ano passado, Sofia Aparício recordou a época (e a viagem) no seu Instagram.

Mas Sofia Aparício não pôde manter o novo visual durante muito tempo – a modelo também era atriz, e teve de abdicar do cabelo rapado para fazer uma peça de teatro.

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A gravidez (e a ousadia) de Xuxa

A apresentadora brasileira e o ator Luciano Szafir tiveram uma filha em julho de 1998, mas a gravidez não foi fácil para Xuxa – até Sasha nascer, polémicas não faltaram. Para a revista "Maria", foi por esta altura que a apresentadora perdeu o "encanto naif".

É que a "rainha dos baixinhos" nunca mostrou vontade de casar com o pai da filha, e o ator acabou por não ser mais do que um "reprodutor de luxo" – para o Brasil e para os próprios pais, que sempre se mostraram indignados com a situação.

Segundo a revista "VIP", Xuxa não teve problemas em alimentar mais a polémica quando disse numa entrevista que não havia ninguém bonito na família do pai do bebé.

A gravidez rendeu a Xuxa cerca de um milhão de contos

Sasha nasceu em julho, e chegou a dizer-se que o parto seria transmitido em direto na televisão (não foi). Quanto ao relacionamento conturbado entre Xuxa e Luciano Szafir, terminou pouco tempo antes do nascimento da filha. Mas nem tudo foi mau – segundo a "Nova Gente", a gravidez rendeu-lhe perto de um milhão de contos.

A separação de Demi Moore e Bruce Willis

Os dois atores casaram em 1987 e estiveram juntos 11 anos, mas o casamento foi pouco convencional — e contou com algumas separações e "facadinhas" pelo meio. Apesar de todas as polémicas que os envolveram, tiveram três filhas.

Foi em junho de 1998 que a revista "Nova Gente" deu conta de uma tarde que Demi Moore passou com um amigo "alto, atlético e bonito". Por essa altura já se tinha falado também de um possível envolvimento da atriz com Leonardo DiCaprio. Quando, uns meses mais tarde, Bruce Willis e Demi se divorciaram, a "Maria" atribuiu as culpas a essa tarde — e em particular a esse amigo misterioso.

O casamento de Demi Moore e Bruce Willis foi pouco convencional

Para a "TV 7 Dias", o casamento chegou a um ponto sem retorno depois de terem vindo a público algumas fotografias bastante comprometedoras da atriz, que foram encontradas em 1994 por um mendigo, enquanto "andava aos caixotes". Nelas, Demi aparecia ao lado do amante enquanto estava grávida da segunda filha.

Mas a culpa da separação não foi só de Demi Moore, de acordo com a imprensa cor-de-rosa: a "Nova Gente" também não deixou passar em branco o envolvimento de Bruce Willis com uma desconhecida chamada Michelle Hoyt, que terá acontecido na mansão que ofereceu à mulher, em Hailey, no Idaho.

Bill Clinton e o escândalo Lewinksy

Em 1998, Bill Clinton estava debaixo dos holofotes por causa do envolvimento sexual com a secretária Monica Lewinksy. Para a "Nova Gente", não era mais do que um "pobre homem que já nem sabe a quantas anda, com uma vida amorosa mais parecida à de um caixeiro viajante."

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E sobre esta aventura de Clinton, tudo (mas mesmo tudo) se soube, graças ao advogado Ken Starr que conduziu o inquérito do caso, e a Monica Lewinsky, que contou que fez sexo oral ao presidente enquanto ele falava ao telefone. Até disse quantas vezes ele ejaculou durante o ato. Para a "TV 7 Dias" o escândalo "veio para satisfazer o espírito voyeurista dos americanos."

Hillary Clinton protegeu o marido do escândalo em que estava envolvido

Quanto a Hillary Clinton, nunca se afastou do marido – a revista "VIP" descreveu-a como uma mulher forte que nunca permitiu que a família se desmoronasse.

Mas não foi só ela que lhe perdoou tudo – a popularidade do presidente dos Estados Unidos não diminuiu aquando do escândalo, pelo menos entre os portugueses. Num inquérito realizado pela "TV 7 Dias", 86,4% dos entrevistados consideraram o caso uma invasão da privacidade do presidente, e 78,8% concordaram com o perdão de Hillary.

Para Miguel Sousa Tavares, todo o escândalo foi uma forma de tentar provar que Clinton era um tarado sexual, numa "campanha moralista fundamentalista." Herman José era da mesma opinião, e disse à "Nova Gente" que "estavam na moda os falsos moralismos." Já o cantor Pedro Abrunhosa não teve qualquer problema em dizer que as amantes de Clinton eram "muito poucas e muito feias."

O romance entre Carlos e Camila (e a suposta traição)

A princesa Diana morreu em agosto de 1997 e Carlos e Camila Parker Bowles não ficaram em bons lençóis — a opinião pública não deixou de os culpar pela tragédia, uma vez que todos sabiam que Camila nunca tinha saído da vida do príncipe.

Os dois acabaram por se afastar durante um tempo, e o príncipe mostrou-se um pai dedicado e carinhoso, (também) para reconquistar o carinho dos ingleses. Afinal, e conforme escreveu a "Nova Gente", "Camila, a pérfida, era definitivamente responsável pelos desgostos de Diana, a mártir."

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Segundo a mesma revista, o reencontro de Carlos e Camila ter-se-á dado no final de 1997, pela altura do Natal, numa caçada em Gloucestershire. Mas a relação ainda não estava normalizada, e durante o evento não se mostraram muito próximos.

Os meses que seguiram foram melhores para o casal – pouco tempo depois, a "Maria" dava a notícia de um "encontro casual" entre William, o filho mais velho do príncipe, e Camila, no qual até se proporcionou uma "conversa amigável". Ainda nesse ano, a rainha Isabel II autorizou a união entre Carlos e Camila.

A ensombrar o romance dos dois só mesmo o "retiro privado" de Carlos com uma desconhecida, que deixou a imprensa "em alerta".

A escapadinha de Carlos com uma desconhecida deixou a imprensa em alerta

A morte da princesa Diana (e a gravidez escondida)

Vinte e um anos depois da sua morte, Diana continua a ser notícia. É claro que também teria de ser assim em 1998, um ano depois da sua morte — os jornais e revistas enchiam-se de teorias sobre o acidente que vitimou a princesa do povo e o seu namorado, Dodi Al-Fayed.

O que também se pôs em cima da mesa das especulações foi a possível gravidez de Diana aquando do acidente – a revista "Maria" escreveu que a princesa estava grávida de dez semanas, e que este facto tinha sido mantido em segredo depois da sua morte para que ninguém pensasse que teria sido assassinada.

A gravidez de Diana foi notícia em várias revistas

As suspeitas da "Nova Gente" baseavam-se na "barriga proeminente" de Diana nas férias que passou com o namorado em Saint-Tropez, pouco antes de morrer, e nas declarações do médico que a socorreu no acidente, a quem terá dito que estava grávida.

A revista "VIP" foi mais longe e apresentou o relatório originalmente publicado pela revista espanhola "Interviú", elaborado pelo responsável do Departamento de Reanimação do Hospital de Pitiére-Saltpétiere, onde a princesa foi autopsiada. No relatório, podia ler-se que, quando morreu, Diana estava grávida de nove ou dez semanas.